Viajar para países diferentes significa conhecer novas realidades, sair da zona de conforto e experimentar coisas novas. Neste cenário, provar comida diferente é uma das experiências que deixam os foodies mais entusiasmados, mas é também uma das mais assustadoras.
A ideia de comer baratas fritas, sopas com ar duvidoso ou carne cozinhada em frigideiras que parecem nunca ter sido lavadas são algumas das possibilidades — mas, normalmente, só as associamos a países de segundo mundo. Apostamos que essa ideia está bem longe quando pensamos em comer num restaurante em França. Pois.
Uma turista norte-americana documentou recentemente a experiência ao tomar o pequeno-almoço em Paris, que acabou por custar cerca de 100€. Desde então que o tema tem gerado um debate no TikTok sobre qual o país onde se come o melhor pequeno-almoço — e qual o preço máximo aceitável.
Dasia Jacobs, com o nome de utilizador @dasiavu__, fez um vídeo durante uma viagem a Paris enquanto fazia um vlog a comer. O dia começou com ela a andar pela cidade e a pedir um copo de sumo de laranja num café. “Estava realmente saboroso. Deveria ter bebido cada gota dele, se soubesse o que iria acontecer”, narra posteriormente, indicando que a refeição iria piorar a partir daí.
Seguiu-se, já noutro espaço, uma torrada francesa, que parecia um pedaço de pão coberto com fruta e gelado. Assim que o viu, Dasia mudou de expressão. “Que porcaria é esta?”, perguntou aos seguidores em off, enquanto exibia o prato de comida.
Jacobs apontou ainda para um cacho de frutas vermelhas, que, segundo a autora, pareciam “as frutas falsas daquelas árvores pequenas”. As bagas eram mais semelhantes às groselhas, nativas da Europa Ocidental e menos comuns nos Estados Unidos.
Junto com o prato principal, Jacobs também pediu um acompanhamento de bacon, que foi servido num prato separado. “Estava saboroso. Mas era super gorduroso. Agora dói-me a barriga, não vou mentir”, disse. Normalmente na Europa é comum o bacon ser mais grosso em comparação com o que é servido nos EUA e que é comido crocante.
Depois de desistir de terminar de comer tudo o que pediu — e que lhe custou quase 48€ —, decidiu tentar a sorte no buffet do hotel. Dasia presumiu que seria gratuito e que estava incluído no preço do quarto. Ali comeu uma fatia de melancia, um croissant, uma panqueca, um pouco de queijo e um pedaço de salame. No final, foram cobrados 50€.
Feitas as contas, Dasia gastou um total de 100€ pelo pequeno-almoço naquele dia. “Estão a brincar? Fiquei doente, pessoal, tive de ir para a cama”, afirmou, ao terminar o vídeo do TikTok.
Desde que foi publicado, a 9 de julho, o clipe foi visto mais de 400 mil vezes. Alguns dos comentários questionaram o motivo para a jovem estar a ser tão crítica com a comida. “Parece delicioso e, para referência futura, confirma sempre que tipo de pequeno-almoço se serve no país para onde vais, ou se este está ou não incluído no valor do hotel”, escreveu um seguidor. “As groselhas não são frutas falsas, fazem parte da família das frutas vermelhas. Delicioso”, apontou outro.
Outros seguidores acabaram por concordar com Jacobs. “Uma refeição da manhã por 50€ deveria ser ilegal”. Um segundo utilizador concordou e acrescentou que a torrada francesa parecia “estranha”.
O custo médio do pequeno-almoço num hotel francês é de 13€, segundo o blogue de viagens “France Hotel Guide”. Ainda assim, nos hotéis de luxo, pode chegar aos 40€.
Há escândalos em todos os países
Os valores exorbitantes sucedem-se, um pouco por todo o lado. Se tudo começou com o caso relatado em Cuneo, cidade numa região situada no norte da Itália, onde os clientes de um restaurante pagaram 1,50€ pela utilização de duas colheres, desde então, não têm parado de surgir relatos semelhantes — cada um mais inusitado do que anterior. Parece que os casos são mais comuns do que se pensava, e, todos os dias há um novo para contar.
Dois turistas foram confrontados com uma conta com um total de 60€, após terem consumido apenas dois cafés e duas garrafas de água. O insólito aconteceu no bar de um hotel na Sardenha, em Itália — e não foi caso único. Outro casal pagou 2€ em Finale Ligure, cidade costeira no Golfo de Génova, por pedir um simples pires vazio.
Já em Maranello, um grupo pagou 845€ por um jantar feito à base de pão. Num bar no Lago Como, por exemplo, foi cobrado um extra de 2€, após dois clientes terem dividido uma torrada com abacate. Os responsáveis justificaram o aumento do preço com a utilização de loiça extra e com o facto dos dois clientes terem ocupado uma mesa, apesar de apenas um ter pedido comida.
Em Espanha, um português teve de pagar uma taxa extra por dividir um menu com as filhas. Já em Portugal, houve quem pagasse 20 cêntimos para que lhe aquecessem uma merenda mista.
Ainda que a cobrança destes extras possa parecer inusitado e até absurdo, Daniel Serra, presidente da Associação PRO.VAR — Promover e Inovar a Restauração Nacional, refere que é “absolutamente legítimo” que o façam. Mas para fazê-lo têm de “colocar a informação na ementa, para que o valor seja cobrado de forma legal”.
Segundo o presidente, os restaurantes são “obrigados” a adotar esta prática devido à carga fiscal. “O preço da confeção dos pratos deixa uma margem cada vez menor para os restaurantes. Se até há bem pouco tempo facilitavam a partilha, que significa que o serviço de limpeza e de entrega tem de ser a dobrar, agora são obrigados a cobrá-la”, explicou.
Quando questionado se mesmo em pratos mais pequenos, como entradas e sobremesas, fazia sentido, o representante da Provar sublinhou que “caso se trate de algo individual, faz sentido”. “O mais importante é ser sempre muito claro no menu, para o cliente saber.”