Uma máquina fotográfica oferecida pelo pai. Foi assim que tudo começou para Dyanne Miryan, quando ainda vivia em Pernambuco, onde nasceu. As tardes eram passadas a fotografar-se a si própria a imitar as poses que via as supermodelos fazerem nas revistas que empilhava no quarto.
Mais de uma década depois, as poses tornaram-se mais sérias, os outfits mais elaborados e já nem sequer precisa de ser ela própria a disparar a máquina. Acabada de quebrar a barreira dos 100 mil seguidores no seu perfil de Instagram, a brasileira que assentou em Portugal está a fazer uma ascensão meteórica que a acaba de levar à capa da edição da “Elle” na Arábia Saudita.
“Sempre gostei de tirar fotografias”, explica à NiT a brasileira de 27 anos. Os primeiros trabalhos como modelo surgiram aos 15 anos, em pequenas campanhas fotográficas e alguns anúncios televisivos. Era também o pai que a acompanhava. A mãe ficava em casa e mantinha-se numa posição mais reticente.
“Os meus pais são muito evangélicos e a minha mãe não concordava com este tipo de trabalho. Era muito fechada, não apoiava o que eu fazia e dizia-me que ia atrapalhar o meu futuro, os meus estudos”, recorda. O conselho da mãe marcou-a, ao ponto de, aos 17, ter decidido colocar mesmo de lado a paixão da moda.
“Decidi escutar o que a minha mãe me dizia. Não me queria arrepender de não ter seguido os seus conselhos.” Matriculou-se num curso de Marketing e formou-se. Aos poucos, começou a entrar na área da organização de eventos — um trabalho que a levaria até outros países, um deles Portugal.
Aliás, foi precisamente uma aterragem inesperada em Lisboa, em 2017, para a organização de um evento, que lhe mudaria a vida.
“Não era um país do qual tinha muito conhecimento. Vim para trabalhar e não tinha qualquer intenção de ficar”, conta. A duas semanas do regresso, conheceu o empresário António Trincheiras, o português que a haveria de convencer a ficar. E que hoje é o seu marido.
“Comentei na altura que queria voltar porque tinhas saudades da minha família, mas depois comecei a ver Portugal de outra forma”, explica. “As pessoas sabem receber muito bem, há muita segurança, fui muito bem acolhida e passei a sentir-me em casa, apesar de ter muitas saudades da minha família, que ficou toda no Brasil.”
Portugal trouxe-lhe novas oportunidades. Começou a trabalhar no mercado imobiliário de luxo e os anos pré-pandemia foram frutuosos. Com o mercado europeu afetado pela pandemia, virou-se para o Médio Oriente, onde tem planos para fazer crescer os investimentos.
Entre viagens pelo mundo e outfits criativos, ia fotografando locais, roupas e eventos, que guardava só para si e para a família. Foi então que começou a pensar que faria sentido investir também nas redes sociais e despertar a velha paixão da moda.
“O trabalho obrigava-me a viajar muito e o António adora fotografar. Durante um ou dois anos, fiquei a pensar o que poderia fazer e então decidi apostar nas redes sociais, na comunicação”, explica a brasileira que tem 110 mil seguidores no Instagram.
Foi em julho de 2021 que começou a lançar o plano que andava a amadurecer há muito tempo. Não queria nada feito em cima do joelho. “Se era para fazer, tinha que ser algo profissional, com uma estratégia pensada, que as pessoas admirassem e, claro, tudo pensado pela minha cabeça.”

Tudo é programado ao pormenor, como a própria diz. “Quero mostrar às pessoas aquilo que vivencio”. E acrescenta: “É também uma forma de manter a família mais próxima, porque podem ver o que estou a fazer e onde estou. E quero fazer isso com todos, que vejam o que os meus olhos veem.”
A moda, claro, está sempre no centro de tudo. “Quero mostrar a Dyanne, a minha forma de vestir, aquilo de que gosto”, explica. No Instagram, recebe mensagens às dezenas, de curiosas que querem saber as marcas das peças e a pedir conselhos e inspirações.
Tem como ícones as compatriotas Gisele Bündchen e Camila Coelho e descreve o seu estilo como “ousado e inovador”, mas sempre dentro do seu “universo romântico e clássico”.
A exposição nas redes sociais começou a abrir-lhe várias portas. Dos primeiros trabalhos com a Miu Miu em Lisboa, seguiram-se as presenças regulares em eventos da Louis Vuitton. “Isso permitiu-me conhecer imensas pessoas”, recorda. Entre elogios aos looks arrojados, começaram a chegar os convites oficiais das principais marcas.
Em fevereiro, marcou a viagem que mudou tudo. Voou até Courchevel, nos Alpes franceses, para uma festa da Dior onde falou com a diretora da casa francesa. Poucos dias depois, estava a ser convidada para estar presente no desfile da etiqueta na Semana da Moda em Paris, poucos dias depois.
A Dior forneceu-lhe peças exclusivas para usar no evento. Ao jantar, nesse mesmo dia, surgiu outro convite inusitado. Desta vez, para estar presente no desfile da Louis Vuitton, que decorreria poucos dias mais tarde.
“Umas coisas puxaram as outras” e tudo pareceu acontecer ao mesmo tempo. Numa viagem seguinte à Arábia Saudita, Dyanne fez o que sempre fazia, vestiu-se a preceito, maquilhou-se com tons mais carregados, mais árabes, e deixou-se fotografar. As imagens deram tanto nas vistas que, garante, motivaram o convite da “Elle” local.
“Assustei-me porque pensei que só receberia convites desses quem tem muitos mais seguidores”, explica. Acabou por viajar para Paris para o casting, fez uma sessão fotográfica, “eles gostaram” e esta terça-feira, 17 de maio, Dyanne acabou mesmo por brilhar sozinha na capa da revista.
Os planos passam agora por potenciar ainda mais a presença online. Se até aqui, optou por se manter “mais reservada” e “não revelar muito do lado mais privado”, Dyanne confessa que está na altura de o fazer, até para juntar o útil ao agradável.
“Não queria abrir toda a minha vida no Instagram”, nota. “Mas a partir de agora quero mostrar um pouco mais do meu lado empresarial, do trabalho que faço no imobiliário, das minhas reuniões.” E, claro, o futuro guarda mais viagens, mais outfits e, quem sabe, mais capas.