Amílcar Monteiro vive rodeado dos sapatos desde os 14 anos. Foi na confeção do grupo Kaya — que detém marcas icónicas como a Fly London —, que o empresário de 58 anos aprendeu tudo o que sabe sobre a produção do calçado. O filho João seguiu o exemplo e juntou-se ao negócio quando acabou os estudos.
“Começámos a sentir que a indústria estava estagnada há muitos anos. Mas quando a máquina está formada, é complicado fazer mudanças — e a melhor forma é começar do zero”, conta à NiT o jovem de 33 anos, formado em Relações Internacionais. O circuito, dizem, tornou-se dependente da venda em feiras.
Em 2021, começaram a idealizar “formas de fazer algo diferente” e, em conjunto, usaram o seu know-how para fundar a AJM, uma nova empresa com sede em Ovar. A missão era simples: usar o projeto autónomo para criar novidades que pudessem agitar a inércia que observavam no setor.
Há um ano a ser desenvolvida, a a.li.às, a nova marca portuguesa de sapatos unissexo atemporais, foi lançada oficialmente a 21 de julho. Os primeiros pares já começaram a ser enviados aos clientes e, em menos de uma semana, já havia modelos a serem exportados para a Alemanha. Mas a dupla não quer ficar por aí.
“Queremos dar atenção ao nosso País, mas a nossa experiência diz-nos que, se queremos ter uma marca viável, não podemos ficar só em Portugal.” Neste momento estão a apostar todas as fichas nos mercados nacional, espanhol, italiano e alemão, onde verificam um maior consumo deste tipo de produto.
Disponíveis em tamanhos entre os 35 e 46, o design passa por modelos práticos simples e casuais que “podem ser usados por toda a gente”. Na primeira coleção incluíram os sapatos com cordões, uma opção de slip-on e ainda dois chinelos de borracha natural em várias cores. A partir daqui “a resposta [do público] vai ditar o caminho.”
Uma certeza que têm é que, além de darem prioridade às matérias-primas nacionais, pretendem apostar em materiais ecológicos. Destacam as peles biodegradáveis e outros materiais orgânicos como couro bio, algodão certificado pela Better Cotton Initiative, o burel da Serra da Estrela ou borracha totalmente reciclável.
Ainda assim, admitem importar tecidos do estrangeiro, desde que cumpram com os requisitos sustentáveis. “Descobrimos um material italiano fantástico feito a partir do desperdício de pele. Mas, para ter consistência, teria que levar uma película na China. Isso acaba com o nosso propósito.”
A construção dos sapatos é pensada para prolongar ao máximo o seu uso. Graças a elementos como a sola de borracha natural, quando o produto estiver no fim de vida, a marca pode desmontá-lo e reaproveitar todos os componentes em novos protótipos.
“A coleção pode ser vendida durante todo o ano. E não vamos fazer essas feiras de seis em seis meses”, avança. Não se identificam com o calendário de lançamentos sazonal, porém, João reforça: “Vamos fazer duas coleções por ano. Não podemos andar a bater com a cabeça na parede quando ainda somos pequenos”.
Apesar de terem um estúdio criativo em Ovar, a produção é subcontratada em fábricas de Felgueiras. É a partir do saber dos seus colaboradores que querem, aos poucos, alcançar o sucesso além-fronteiras. A loja online está aberta para toda a Europa, já estão a vender a próxima coleção a retalhistas e as encomendas continuam a chegar em várias línguas.
A primeira coleção já está disponível no site da a.li.às entre os 34,90€ e os139€. Carregue na galeria para conhecer as propostas.