É uma espécie de ritual. Os clientes entram, descem para o piso inferior e são atendidos sem ninguém os ver da rua. Até pode soar suspeito, mas o secretismo da Alphaiate só tem um objetivo: oferecer aos clientes a privacidade que procuram. Por isso, a equipa sempre atendeu um cliente de cada vez — pelo menos até agora.
Em Campo de Ourique desde 2018, a marca atravessou a rua e fixou-se numa morada mais ampla. Este pequeno gabinete de curiosidades, inaugurado a 15 de junho, conta com cerca de 200 metros quadrados, divididos por três pisos originais. Agora, a alfaiataria junta-se ao snooker e ao arcade.
“Estávamos — quase literalmente — a rebentar pelas costuras. O pequeno atelier, de 40 metros quadrados, atendia cerca de 120 clientes por mês”, começa por contar à NiT Duarte Foro, cofundador. A expansão para uma loja com salas onde pudessem atender mais gente, ao mesmo tempo, tornou-se uma prioridade.
O negócio caracteriza-se pelo atendimento personalizado desde o início. Ali, o cliente não compra apenas um fato feito à medida, mas participa de todo o processo. Escolhe os tecidos e o fit que pretende, imagina os botões, as lapelas, o forro e até pode colocar as iniciais. Tudo com a ajuda de um personal tailor, claro.
Porém, o novo ponto de venda traz outra novidade: um andar dedicado ao prêt-a-porter. “São peças que temos disponíveis para vender de imediato, mas também um exemplo do que podemos criar — modelos mais casuais, além dos fatos e fraques, a nossa imagem de marca”, acrescenta.
Os artigos de pronto a vestir, da Alphaiate ou de outras marcas selecionadas (todas portuguesas), estão no piso de entrada. A oferta do espaço inclui ainda sapatos da Citadin Shoes, sapatilhas da Hirundo, gravatas da It Tamarindo, óculos de sol da Fora e boinas da Hurricane Lab.
Ao descer, as poltronas de veludo, os tapetes clássicos e a mesa de vidro criam o ambiente sóbrio, mas excêntrico. Por lá, encontra a sala de marcações, dois gabinetes de provas e ainda um pequeno bar — onde os clientes podem beber um café enquanto aguardam.
Se neste andar é difícil não reparar na máquina de jogos arcade, no piso superior há mais por descobrir. Uma mesa de snooker torna-se a protagonista da zona de escritório, por exemplo. O tradicional e o moderno misturam-se com algum sentido de humor. Tudo sem destoar dos tons sóbrios.
Como tudo começou
O projeto nasceu em 2016, em São Bento, mesmo ao lado da Assembleia da República. No entanto, não se tratava de um espaço próprio, mas de um local de coworking. “Os dois primeiros anos da Alphaiate foram para testar o conceito, para ver se funcionava este mercado de alfaiataria”, conta à NiT, João Mendonça, 39, que se juntou à marca em 2018.
Quando foi fundada, a equipa da Alphaiate era constituída por Francisco Appleton, 32, Duarte Foro, 30, e Maria Vaz, de 50. Quando saíram de São Bento não abriram um ponto de venda. Durante seis meses só fizeram home tailoring, ou seja, iam à casa dos clientes para lhes tirarem as medidas e, depois, para estes experimentarem as peças.
Em 2018, instalaram-se em Campo de Ourique. Nesta loja de bairro, com uma vida muito própria, o negócio de fatos feitos à medida começou a atrair mais clientes — de figuras públicas a anónimos, tanto homens, como mulheres.
Para concretizar os fatos (e não só), a marca usa alguns dos melhores tecidos do mundo, fabricados por nomes como as icónicas marcas italianas Zegna, Cerruti e Loro Piana, a britânica Holland & Sherry ou as francesas Dormeuil, ou Scabal. A maioria é composta por 100 por cento de lã ou combinações com linho, seda e caxemira.
A recomendação de Pedro Nuno Santos
“Trouxe uma gravatinha do seu alfaiate”, confessou António Costa a Pedro Nuno Santos. A inesperada frase, captada pela SIC, a 22 de julho, faz referência ao nome da loja lisboeta que o antigo ministro das Infraestruturas e da Habitação recomendou ao primeiro-ministro e que valeu uma visita do chefe do governo.
A gravata azul-claro de seda, o modelo “Belize”, foi a escolhida. Trata-se de uma proposta da marca It Tamarindo, que pertence ao mesmo proprietário, e tem as suas coleções expostas no espaço. Neste momento, encontra-se esgotada — mas custava 68€ no site.
“[A visita] não nos fez vender mais, nem ter mais procuras no site. Uma das vantagens da nossa marca é depender do passar da palavra, a maioria das pessoas vem porque alguém nos referenciou”, acrescentou João. Costa ainda só fez uma visita ao atelier, mas Pedro Nuno dos Santos já recorreu aos serviços, pelo menos, três vezes.
Porém, os membros mostram-se preocupados com possíveis associações partidárias. “Não gosto que a nossa marca seja conotada com uma fação política, porque os políticos representam apenas 1 por cento da nossa clientela”. E acrescenta: “Tentamos não falar dos clientes pela discrição que os próprios procuram”.
Com a nova porta aberta, o plano agora passa por passar todo o trabalho de confeção para o ponto de venda anterior. Vão manter o número 75B e transformá-lo numa oficina de apoio, onde vão receber as costureiras (que trabalhavam longe da zona) e aumentar a proximidade com a produção. Já para os clientes da Alphaiate, a morada a apontar é a 96A, ainda na Rua 4 da Infantaria.
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