Existem cada vez mais exemplos nacionais de moda com causas, com o aparecimento de criadores dedicados à produção que vai além do valor estético da indústria. A missão torna-se o centro destes projetos e, no caso de Beatriz Pacheco, é o veganismo que está a mover a fundadora da marca numa direção mais sustentável.
“Desde que me lembro, sempre gostei de calçado”, revela a criadora de 29 anos. “Fui uma miúda com excesso de peso e nunca me sentia muito bonita, então ia para o roupeiro da minha mãe e tenho muitas memórias de andar pela casa com os sapatos dela. O calçado sempre foi um símbolo de beleza feminina”.
Licenciada em Design de Moda, Beatriz passou por diversas áreas da indústria e experimentou trabalhar em televisão, revistas e também com styling. A certa altura, decidiu que teria de avançar com algo seu para cumprir o sonho de assinar as suas próprias criações. Decidiu arriscar, em julho de 2021, e não deixou que a pandemia travasse o lançamento da sua primeira coleção, focada naquele que “é o acessório imprescindível” do guarda-roupa feminino.
Seguir por outro caminho que não fosse a moda ética nunca foi na equacionado pela designer, natural de uma vila pequena e que passou a infância no campo com o irmão e os animais. “O meu avô fazia criação de muitos animais e sempre tive muito contacto com a natureza”, explica, acrescentando que começou cedo a estudar o impacto da moda no ambiente. “Se não é necessário estar a envolver diretamente os animais, não vale a pena fazê-lo. A tecnologia está tão avançada que é desnecessário”.
“Eu assumo-me como 100 por cento vegan, mas não me consigo assumir já como 100 por cento sustentável”, continua, explicando que a sua produção de calçado inclui componentes sintéticos, como o poliéster. Numa fase inicial, quando se é uma designer emergente, optar por um caminho completamente verde pode cingir o trabalho a um só tipo de artigo.
Concretizou a sua vontade de fazer algo que ainda não existe com a apresentação do Bosom Heel, um salto cujo desenho já tem registo industrial e que é, no sentido literal, a assinatura da insígnia. “Na parte de cima do sapato, já muita coisa foi inventada em termos de cortes, de atar o sapato e manipulação do tecido. Não havia muita forma de inovar, então pensei que o salto seria a melhor forma”, conta. “Desenvolvi o contorno na parte de trás do salto, na sola vê-se que é um B e escolhi o estilo cowboy porque este tipo de bota vai usar-se”.
O nome Bosom está ligado ao afeto, fazendo referência a uma relação íntima e de confiança. Decidiu que aplicaria esse sentimento à sua relação com o design e o seu trabalho, com a imagem de marca do negócio a assumir um significado de amor.
Ao mesmo tempo, representa aquela que é a sua estética — uma mistura entre a tradição e a inovação. “O meu design é elegante e irreverente ao mesmo tempo, mas contido porque não gosto de exageros. Gosto mais de linhas minimalistas”, diz. É sempre nos detalhes que está o fator diferencial, como nas biqueiras e nas correntes metálicas em dourado. “Na minha cabeça, sempre tive uma máxima: criar algo novo mas que, ao mesmo tempo, não seja estranho para as pessoas”.
Beatriz cria o tipo de sapatos de que gosta e, simultaneamente, contorna as limitações à produção sustentável com o uso de materiais reciclados e através do lançamento de coleções pequenas, que implicam menos gastos de água e menos desperdícios. A designer falou logo com as fábricas com as quais trabalha e pediu, inclusivamente, para que juntassem os restos para criar com eles novos produtos.
Foi graças às sobras das suas primeiras coleções que nasceram, a 8 de março de 2022, as BBags. Apesar de ter escolhido começar com a produção de sapatos e de pensar que este segmento seria o foco durante mais algums tempo, a criativa sabia que queria expandir o seu catálogo. “Como fui juntando o material todo e agora o patchwork é tendência, arranjei uma fábrica para desfazer tudo em pedacinhos e construímos outro produto”, explica. “Estive a ver o que fazia sentido criar com o patchwork e passei para as carteiras”.
Feitas com retalhos de fabricação, juntos de forma um único tecido que é depois recortado em moldes e aprimoradas com correntes e aplicações metálicas, as peças são únicas — uma vez que não é possível fazer duas iguais. Ao mesmo tempo, conferem um sentido de linearidade ao trabalho de Beatriz. “Como são feitas com o mesmo material [dos sapatos], fazem o conjunto e trazem ao de cima a história do trabalho manual”, conclui.
Não segue um tema ao criar uma nova coleção, o seu processo criativo resulta das circunstâncias – como aconteceu com as carteiras – ou nasce de forma orgânica. “O que nos ensinam na faculdade é que primeiro tens um conceito e depois fazes a peça final. Sempre fiz ao contrário”, sublinha. É enquanto faz o esboço que nascem as melhores ideias sobre como pode transformar uma matéria-prima num par de sapatos: “muitas vezes, quando não estão a vir ideias, afixo o papel na parede e desenho na parede”.
O próximo pass — para além de novas carteiras que seguem a mesma linha mas com ligeiras alterações nos pormenores — a marca promete o lançamento de mais peças únicas. Novamente a partir do reaproveitamento dos materiais, planeia lançar-se na criação de calçado unissexo. Todos os artigos da insígnia estão disponíveis online e apresentam valores entre os 180€ e os 275€.
Carregue na galeria para conhecer as propostas da marca Beatriz Pacheco no segmento do calçado e dos acessórios.