Quando se fala de uma arte com tantos séculos de história como as tatuagens, com origem no Antigo Egipto, já se viu um pouco de tudo. Algumas pessoas preferem linhas minimalistas, outras apostam no realismo e ainda existe quem se mantenha fiel ao estilo old school. Numa fase em que parece que já nada pode ser inventado, eis que a norte-americana Amanda Graves decide introduzir as tattoos com glitter.
No seu estúdio no estado de Maryland, nos Estados Unidos da América — chamado Dark Arts Tattoo Studio —, a artista de 32 anos faz o oposto do que o nome do espaço, que remete para o obscuro, dá a entender. As ilustrações animadas e muito coloridas, inspiradas em personagens de desenhos animados, distinguem-se pela ilusão cintilante, que não gera consenso. No entanto, já soma cerca de um milhão e 500 mil pessoas a acompanhar o seu trabalho no TikTok.
“Quando não estou a tatuar, dou aulas de cheerleading competitivo. Nesse mundo, o brilho é algo muito importante. Dos uniformes à maquilhagem, carteiras e sapatos, tudo é cintilante”, conta à NiT. “Como estou envolvida nesse universo, como mãe e treinadora, pensei que seria capaz de fazer uma tatuagem com esse aspeto”.
Desde que começou a dedicar-se profissionalmente a esta arte, há oito anos, tentou várias técnicas. No entanto, no fim de 2021, entendeu que as suas principais inspirações, desde o início, sempre foram artistas que exploravam cores vibrantes e uma imagética mais fofa. Decidiu que queria fazer a sua própria versão com base nos desenhos que fazia quando era miúda.
@amandagravestattoo 4 hours later <3 thanks for coming from south carolina & hanging with me
“A minha primeira inspiração foram os ‘Rugrats’. Adorava cartoons e, quando tinha sete anos, observava todas as cores e linhas que me davam vontade de desenhar. Tirava em folhas de papel da impressora, pegava num lápis e tentava recriar as personagens quando pausava a televisão”, continua.
A inspiração nos desenhos animados continua a ser a imagem de marca do portefólio que começou a construir aos 18 anos. Porém, recorda-se que a obsessão começou por volta dos 9 anos, quando a mãe e o padrasto fizeram tatuagens a combinar. “A partir daí comecei a desenhar no meu corpo, especificamente letras nas mãos. Já sabia que, aos 18 anos, ia cobrir o meu corpo.”
Chegada à maioridade, optou por fazer a sua primeira tatuagem no próprio corpo, no pé direito. A ideia era representar o símbolo do grupo de hip-hop Wu-Tang, mas só conseguiu fazer metade: “Doeu demasiado para continuar e não cheguei ao lado direito. Ainda a tenho e continua horrível.”
Como Amanda cria a ilusão do brilho
Não é possível usar glitter em tatuagens permanentes, já que as purpurinas — como são conhecidas em Portugal — são compostas por partículas de plástico. Isto torna o trabalho da norte-americana ainda mais fascinante. Porém, Amanda não tem problemas em revelar o segredo das imagens adoráveis que cria.
“Decidi usar a técnica do pontilhismo de forma diferente para criar aquele efeito brilhante. Juntei a ideia de realismo, para fazer com que parecesse glitter, ao usar cores diferentes. Tentei e funcionou.”
O truque é usar agulhas bem finas, tal como as que são utilizadas nas técnicas de micropigmentação. De seguida, adiciona sombra através de pontos de diversas cores, que reproduzem a captação de luz, sobretudo os brancos. Nas margens do desenho, cria o pontilhado com um tom mais escuro, mistura subtons e finaliza com uma cor mais clara.

Quanto aos cuidados a ter, são idênticos aos que requeridos pelas ttuagens mais tradicionais. Para que o desenho mantenha o aspeto brilhante ao longo dos anos, é essencial o uso do protetor solar e manter a pele hidratada. A preocupação com o desvanecimento também não apoquenta Amanda. Devido ao contraste de cores, a tatuadora assegura que os tons não desaparecem.
Embora o seu estilo ainda não seja compreendido por outros profissionais da área, que fazem comentários negativos, Amanda valoriza todo o apoio. Não só de artistas que se mostram orgulhosos do seu estilo inventivo, mas dos clientes que confiam na sua visão tão própria. Muitos nunca tinham pensado tatuar o corpo até se cruzarem com o trabalho da norte-americana.
“Normalmente, as pessoas vêm com um pedido. Dizem que gostam dos Simpsons, por exemplo, e pedem-me para fazer a minha magia. Há muita confiança”, diz, reforçando que ter uma carteira de clientes tão “abertos, divertidos e descontraídos” também ajuda.
Com quase uma década de experiência, Amanda afirma que tem vindo a observar as transformações com os seus próprios olhos. E acredita que o gosto por este imaginário pode propagar-se: “o meu estilo não é tradicional, mas nos últimos anos a arte mudou muito e acho que vamos ver mais vezes este estilo”.
Ficou curioso? Carregue na galeria para conhecer alguns dos trabalhos mais originais e vibrantes de Amanda Graves. Se não tiver oportunidade de a visitar, a NiT também contou a história de Espirro, a artista portuguesa que tatua desenhos que parecem ter sido feitos por um miúdo.