Johana Lopes, cabeleireira com 31 anos, regressou a França em 2016 após uma viagem à Austrália, sentindo-se desiludida com a indústria da beleza. “Nunca me senti em sintonia com o ambiente dos salões e pensei em parar de ser cabeleireira”, confessa à NiT. “Tentei encontrar um espaço diferente, mas não me identificava com nada.”
Após 16 anos de experiência, tinha decidido apanhar um voo para alargar os seus horizontes e descobrir novas perspetivas. Só quando aterrou em Paris, já com uma nova mentalidade, é que começou a perceber qual poderia ser o seu papel na indústria.
Com o passar do tempo, Johana começou a questionar os efeitos nocivos de produtos químicos para o cabelo, “muitas vezes carregados de disruptores endócrinos”. Iniciou então uma procura incessante por alternativas mais orgânicas e sustentáveis.
Após várias pesquisas, encontrou uma concept store — dividida entre loja de plantas de interiores e cabeleireiro — onde todos os produtos eram 100 por cento naturais. Foi lá que, revela, aprendeu muito sobre como as plantas podem “curar, lavar e cuidar” dos nossos cabelos.
Johana trouxe esses três anos de experiência quando, cansada de Paris, decidiu mudar-se para Portugal, em 2021, onde vivia toda a família. “Queria uma experiência fora do contexto de férias” e o País acabou por se revelar um solo fértil para a jovem desenvolver um conceito que tinha guardado na gaveta.
Com o Nova Soil, a hairstylist oferece serviços de cabeleireiro exclusivamente plant-based, ou seja, à base de produtos com ingredientes naturais e concentrados de óleos essenciais. Atualmente, atende ao domicílio nas áreas de Lisboa e Mafra com opções de corte ou coloração.
“Sempre ouvi dizer nos salões que as cores 100 por cento naturais podiam ser más cara o cabelo, mas percebi que era falta de informação”, afirma. “Ao longo do tempo, vi mesmo a diferença de qualidade não só nos cabelos que as clientes tinham, mas no meu próprio.”
Quando percebeu a falta de abertura dos salões, optou por criar um negócio que não dependesse de qualquer espaço físico. “Existe a ideia de que, com esta filosofia, as cores não têm muitas possibilidades. É mentira”, acrescenta.
As vantagens dos produtos naturais
Por serem menos nocivos, estes ingredientes têm benefícios não só para a saúde do cabelo, como resultados visíveis na vitalidade e no brilho dos fios, segundo Johana. Além disso, existe uma componente sustentável e um desejo de “contribuir para um futuro mais saudável“.
“Vi a diferença na minha saúde. No final, não tinha o cheiro forte a químicos”, diz. “Não se pode esperar o mesmo resultado. Algumas pessoas vão adorar e outras não vão gostar, mas posso atestar a diferença significativa no bem-estar capilar.”
No caso dos concentrados de óleos essenciais, são escolhidos com base num diagnóstico prévio e, portanto, tendo em conta as necessidades de cada pessoa. Trata-se de um extrato que não deve ser usado de forma pura, mas diluído numa base (óleo vegetal) para retirar as suas vantagens.
“As propriedades dos óleos essenciais dependem das da planta de origem”, garante, destacando o açafrão-bastardo, o sésamo ou o azeite. “Podem acompanhar-nos diariamente para tratamentos curativos, estimulantes, antissépticos, anti-inflamatórios, adstringentes ou tónicos.”
O Meet & Hair
Em novembro, o Nova Soil passou a apresentar o conceito exclusivo Meet & Hair. A ideia é que possa reunir os amigos para um dia de cabeleireiro em casa com descontos nos vários serviços. Trata-se de um serviço de coloração ou balayage com um número entre duas e quatro pessoas.
“Estou a morar na Ericeira, mas trabalho muito em Lisboa. Para não fazer sempre o caminho todo do ponto A a B, achei que seria incrível ter grupos que tivessem acesso a um dia de beleza e ficar com elas a tratar do cabelo e a apresentar-lhes esta filosofia.”
Para já, Johana organizou duas sessões e o feedback não podia ter sido mais positivo. “Disseram que era um bom momento de convívio”, recorda, acrescentando que quer continuar a oferecer esta experiência.
E, embora ofereça todos os serviços de um salão tradicional, os mais procurados são as colorações com cores naturais. “Em Portugal, recebo muitos pedidos para balayage”, diz. Divide a oferta entre as cores 100 por cento naturais e as semi-naturais, que ajudam na transição de cor.
Johana trabalha com uma marca belga de cuidados capilares orgânicos e, para cada opção, já tem um preparado. Para a cor natural, destaca as plantas em pó como henna puro, indigo e Amla, conhecidos por deixarem os fios mais macios e resistentes, mas resultando em tons luminosos.
“Depois, faço a minha mistura dependendo do que cada pessoa quer. Quando alguém tem um problema de couro cabeludo, escolho um óleo vegetal e um essencial que consigam dar resposta.”
Desde o início, Johana evitou um nome previsível. Além da referência ao solo, quis que o nome do projeto mostrasse que se trata de uma ideia inovadora. “O que é engraçado porque produtos naturais existem há séculos, mas estamos a voltar agora para opções deste género.”
Numa fase inicial, vai continuar a oferecer estes serviços apenas ao domicílio. Porém, não abdica do sonho de ter um espaço físico que seja um reflexo do seu gosto e filosofia. “Imagino-me a ter um espaço só com produtos naturais”, conclui.
Quanto aos preços, os cortes femininos começam a partir dos 30€. Já a coloração varia entre os 80€ e os 100€, dependendo se é uma ou duas aplicações. As marcações podem ser feitas através da página de Instagram ou por WhatsApp.
Carregue na galeria para ver imagens de alguns dos trabalhos feitos por Johana.