Nazaré Pinela tem 58 anos e assume-se como uma “bad influencer”. Aposta na “rebeldia, na diferença, e no individualismo”, uma forma de estar na vida que gostava que todos cultivássemos. “Esta coisa das influencers é algo que me incomoda. Nessa palavra há muita presunção e faz-me espécie acharem que estão a influenciar terceiros”, conta à NiT.
Nasceu em Campo de Ourique (em Lisboa) e estudou na famosa escola António Arroio, dedicada às artes. Quando atingiu a maioridade partiu em busca de novos horizontes. “Aos 18 fui para Londres. Nunca me senti muito bem aqui, embora tivesse família e amigos. Ao início seriam apenas três meses, mas transformaram-se em cinco anos”, recorda. Na capital britânica trabalhava como babysitter no seio de uma família de conhecidos. “Foi ali onde cresci, eles eram como familiares para mim”.
Regressou a Portugal devido às saudades que sentia dos amigos. Quando chegou junto-se à banda Capitão Fantasma onde foi baixista, mas acabaram por seguir caminhos diferentes. Nos anos 80, dava espetáculos de sapateado no Café Concerto, um espaço que depois deu lugar a uma loja vintage, onde também trabalhou. “Ajudava a dona da loja, chamávamos-lhe Fernandinha. Viajávamos pela Europa e comprávamos peças em diferentes feiras em Paris, Bruxelas e Londres. Fazíamos tudo isto de comboio e voltávamos carregadas.”
Em 1989 casou-se e mudou-se para Sintra, onde vive até hoje. Conheceu Eduardo Pinela (o marido agora com 59 anos) na escola, quando eram ainda miúdos. Não sabe se a química entre ambos começou nessa altura ou quando se encontraram no Bairro Alto anos mais tarde. Independentemente de quando começou a relação, dela nasceram dois filhos: Ricardo, de 32 anos, e Eduardo, de 16.
Nazaré sempre foi apaixonada pelo vintage, estilo que mantém desde os 16 anos. Não se identifica com os valores algo retrógrados dessa época, mas aprecia todo o universo retro dos anos 40 e 50 do século passado. Também é fã da música dessa altura, o rockabilly. “O glamour sempre me atraiu. Gosto dos penteados e da atitude de rebeldia no pós-guerra, depois dos anos cinzentos. Foi uma explosão de individualidade”, refere. Entre os seus nomes de referência estão James Dean e Marilyn Monroe, figuras incontornáveis da cultura pop.
Um estilo e personalidade irreverentes
O corpo de Nazaré ostenta inúmeras tatuagens, que começou a fazer quando saiu do País. “Fiz a primeira quando cheguei a Londres — um símbolo do teatro, com as máscaras. Era um limite que se ultrapassava, e eu sempre fui de andar nos limites. Naquela altura, a qualidade não era a melhor e eu era muito imatura, apenas queria fazer de alguma coisa.”
Agora, está viciada em tatuagens. Entre as várias obras de arte que tem pintadas na pele, destaca uma feita em memória da mãe, que morreu em 2001. A mais recente tem apenas um mês — é a imagem de um pequeno brócolo que representa o seu estilo de vida vegetariano, que segue desde os 18 anos. “É muito pequenina porque tenho pouco espaço. Foi um tatuador russo que a fez. Estando nós nesta confusão enorme tenho medo de não o ver mais e queria fazer qualquer coisa com ele”, conta Nazaré.
É body piercer e tem um estúdio de tatuagens em Sintra, o Bang Bang Tattoo, desde 2001. A profissão que escolheu também ajuda outras pessoas a transformarem os seus corpos de forma artística. Quando o concluiu de body piercer, em 1993, começou a trabalhar noutro espaço, antes de abrir o seu próprio estabelecimento. A estética não vai ao encontro daquilo que pode estar à espera.
“É muito alegre. Quis fazer algo diferente dos espaços que existiam há 20 anos. Havia o cliché de serem sítios com pessoas más e grandes, com decoração cheia de chamas e quadrados. Fui para o lado completamente oposto. É verde, tembambus e a inspiração havaiana convida a entrar.” Esta semana, receberam uma cliente de 86 anos que foi fazer a primeira tatuagem. Finalmente ganhou coragem para concretizar algo que há muito desejava. “Nos dias de hoje as pessoas já não escondem a sua excentricidade, transparece mais a individualidade e com uma maior liberdade.” Eduardo Pinela é um dos tatuadores residentes, mas a restante equipa é rotativa — convidam artistas de todo o mundo a passarem temporadas a tatuarem na Bang Bang .
Além da maternidade, destaca na sua história de vida e carreira o facto ter sido fotografada por Ari Seth Cohen. O fotógrafo norte-americano contactou-a no Instagram depoi de a ver no documentário “Divas”, um projeto de 2012 realizado por Luís Hipólito que destacava mulheres mais velhas com um estilo fora da caixa. Cohen veio de propósito de Los Angeles com o objetivo de a incluir no livro “Advanced Style”, que estava a preparar na altura. Ari andava pelo mundo a retratar senhoras com mais de 60 anos, mas Nazaré ainda era nova demais para poder participar.
“Poucos meses depois ligou-me e disse que vinha a Portugal começar algo novo onde eu me encaixava”, recorda. Em “Advanced Love”, o fotógrafo dava palco a casais com relações longas. Nazaré e Eduardo Pinela eram perfeitos para integrarem esse projeto. “O Ari mudou a minha vida e toda a perspetiva que tinha do envelhecer. Mostrou-me que podemos continuar a sermos nós mesmos e nada nem ninguém nos pode proibir. É um amigo para a vida.”
Os segredos para se manter jovem
Aos 58 anos mantém um aspeto invejável, com uma atitude mais jovial ainda. No entanto, não tem uma rotina de beleza muito pormenorizada. “Sou muito baldas e preguiçosa”, admite. “Rio-me muito e sinto que sorrir ajuda. Ainda ontem fiz umas fotografias sérias e achei muito difícil.”
Viver num ambiente mais rural também traz os seus benefícios, assim como um toque de maquilhagem. Nunca dispensa o batom vermelho mate, que faz parte da sua vida há décadas. A par deste usa um pouco de pó de arroz e um blush. “Assim que me maquilho, transformo-me, sinto-me mais bem disposta e predisposta a estar com pessoas, atender os clientes. Seria impensável ir jantar fora sem estar maquilhada, por exemplo.” O seu penteado habitual é bastante simples: gosta de fazer um apanhado com volume, bem ao estilos dos anos 50, claro.
“Tenho tido uma vida boa e segui os meus sonhos. Quando vamos atrás deles, eles realizam-se. Tive alguns altos e baixos, claro, mas não me posso queixar”, conclui a bad influencer que nunca teve medo de viver de forma autêntica — exatamente o pretende continuar a fazer.
Carregue na galeria e conheça melhor o estilo de Nazaré Pinela.