Bruno Perdiz trabalhava atrás do balcão de um bar quando se começou a interessar por tatuagens. Todos os dias se cruzava com clientes e colegas com a pele repleta de desenhos aos quais não ficava indiferente: “Via algumas bem feitas, outras nem tanto. Isso fez-me pensar que podia fazer melhor”, conta à NiT.
O emprego improvisado surgiu em 2010 por não conseguir oportunidades na sua área. Formado em design gráfico, o artista de 39 anos usava a sua vocação para a arte como projetista numa empresa de fertilizantes. Insatisfeito com o que fazia, decidiu expressar a sua criatividade de outras formas — apenas não sabia como.
Aos 29 anos e num trabalho precário para se sustentar, reparava nas tatuagens “tão naive, pobres e pouco artísticas” das pessoas com que se cruzava diariamente. Esta realização tornou-se um desafio pessoal: começou a pesquisar mais sobre este universo artístico com o objetivo de mais tarde, superar os resultados que via no seu dia a dia.
Além disso, percebeu que também existia procura entre um público mais jovem. “Já não era só a malta dos anos 80 que queria fazer tatuagens”, recorda o artista, que começou a tatuar em 2012. Uma dessas pessoas era a namorada, que conheceu nesse ano, e que não tardou a colocar-lhe uma questão: “Se és criativo e sabes desenhar, não achas que podias tatuar?”
“Outro incentivo foi conhecer um grande tatuador português, o Dave Paulo, que está a construir uma carreira lá fora”, explica. Ambos são naturais da vila Praia de Mira, em Coimbra, e começaram na mesma altura. Bruno sentiu-se inspirado pelos seus desenhos “fora do normal, que fogem dos padrões dos livros”, diz.
Começou a pesquisar os trabalhados de artistas internacionais reconhecidos e, entre muitas variações, via tatuagens de rostos que pareciam fotografias. Fascinado com os retratos a cores tão fiéis, decidiu que ia aprender a fazer o mesmo. Queria captar o brilho nos olhos de um animal ou as gotas de chuva a cair sob uma flor, por exemplo.
A companheira não só o desafiou a abraçar a carreira, como foi a primeira cobaia. Tatuou-lhe uma rosa com uma tesoura, desenho que continua exatamente igual uma década mais tarde. Porém, antes de pegar de enviar as agulhas na perna da namorada, fez o desenho em pele de porco três vezes.

“Não precisava que me ensinassem nada a nível de desenho. Isso foi a minha destreza e a minha mente. Só precisava de aprender a dominar a técnica de por a tinta na pele”, recorda. Um brasileiro que cresceu a tatuar na favela, tornou-se um dos seus principais mentores.
Em poucos meses, o interesse pela sua abordagem realista explodiu e, no ano seguinte, recebeu a proposta de um estúdio vizinho maior, com o qual colaborou até 2019. Entretanto, como já tinha uma carteira de clientes que o procuravam apenas a ele, começou a recebê-los num estúdio privado, em Coimbra.
“Faz o que te apetecer”
“Mais de metade das pessoas que o procuram já são colecionadoras de tattoos. Há muita gente que chega ao pé de mim e só diz ‘adoro o teu trabalho e podes fazer o que te apetecer’ e isso é incrível. É a melhor coisa que posso ouvir.”
O portefólio de Bruno tornou-se cada vez mais vasto, porém, há histórias que continuam a acompanhá-lo. Ainda se recorda de quando foi abordado por uma jovem com esclerose múltipla em 2015, que “apareceu combalida dos tratamentos, mas como estava livre de medicação durante um mês e queria tatuar a costela, da zona do soutien até à perna.”
“Foi a primeira vez que tatuei alguém com esta condição. Era uma pessoa branquíssima e foi uma pressão enorme.” Apesar do receio, ouviu as palavras mágicas — “quero que faças o que te apetecer” — e fez um desenho maximalista que envolvia flores e animais, visto que a cliente vivia numa quinta e estava muito ligada ao campo.
Uma tatuagem de maior dimensão pode fazer-se durante dias seguidos. Basta que a pessoa consiga aguentar. E a jovem completou todas as zonas do corpo em apenas seis sessões: “nunca vi ninguém aguentar daquela forma até aquele momento”, sublinha.
Além dos rostos humanos, da flora e do mundo animal, Bruno também vai buscar à inspiração à música e ao surrealismo. Esta corrente artística influencia-o desde o secundário e até tatuou o rosto de Dalí, um dos símbolos do movimento, tatuado nas costas. Porém, ouvir a necessidade do cliente é sempre a prioridade.
“Ainda não considero ter um estilo definido. Tento sempre dar um twist ligado à pintura, algo mais gráfico e com um toque grunge”, conclui. “Mas, mais do que uma identidade, sei adaptar-me às ideias que me são propostas. Cada caso é um caso.”
Pode marcar uma sessão com Bruno Perdiz através da página de Instagram do artista, que trabalha no número 159A da Avenida Cidade de Coimbra.
Aproveite e carregue na galeria para conhecer alguns dos seus trabalhos mais impressionantes.