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Cremes e séruns feitos com ervas daninhas: fórmulas milagrosas ou golpe de marketing?

Em Portugal, já existem marcas com produtos à base de plantas selvagens. A NiT falou sobre o tema com uma dermatologista.
A Herbes Folles é um exemplo português.

A leitura dos rótulos dos cosméticos que adquirimos é cada vez mais surpreendente. Os ingredientes inusitados que escondem uma série de benefícios desconhecidos para a pele multiplicam-se. Pelo menos, até serem explorados por marcas que arriscam em fórmulas alternativas.

Nesta lista, encontram-se as plantas selvagens. Muitos chamam-lhes ervas daninhas, mas os mais imaginativos preferem “ervas loucas”, por crescerem tão rápido e espontaneamente por toda a parte. Consideradas indesejadas por muitos, são agora vendidas por vários negócios como um dos segredos para cuidar da pele.

O herbalismo não é uma novidade na área da dermocosmética. “A utilização remonta para a pré-história, numa altura em que o ser humano não tinha outras opções”, começa por explicar à NiT a dermatologista Ana Moreira. “Em muitos países, ainda há muita crença na utilização das plantas no autocuidado.”

Porém, de acordo com a Organização Mundial de Saúde, as plantas com propriedades estéticas ou medicinais correspondem a espécies vegetais que apresentam “substâncias químicas com propriedades farmacológicas”.

Contudo, esta atividade também se deve à presença de outras substâncias, como ácido glicólico ou vitamina C. “Cada vez mais, os produtos são sintetizados em laboratório porque uma das partes mais importantes são os princípios ativos que inclui,” acrescenta.  Atualmente, devido a esta mudança de paradigma, muitos produtos são nomeados de acordo com a componente.

No caso de plantas tão rebeldes, como as ervas daninhas, é mais complexo. Existem milhares de variações que precisam de ser estudadas para perceber se existe alguma função que possa ser aplicada na dermocosmética. No entanto, de acordo com a profissional, “não são plantas cientificamente documentadas com capacidades para a pele, seja antienvelhecimento ou antiacne.”

Mesmo que o seu uso na dermocosmética não seja uma prática recorrente, há várias marcas a apostar na sua utilização. E não acontece apenas no estrangeiro. Em Portugal, por exemplo, a Herbes Folles surgiu com a premissa de que as maiores inimigas dos jardins podem ser uma das principais aliadas da pele.

No entanto, os resultados apenas se verificam com a adição de outras substâncias. Se misturarmos com um ingrediente que tenha uma ação hidratante, é natural que se possa sentir essa melhoria — mais pelo princípio ativo do que pelo veículo.

“Como estas ervas sempre foram conotadas de forma negativa, dar-lhes uma imagem positiva tem impacto. Pode ser uma questão de marketing por se estar a dar utilidade a algo que era mau”, conclui. “As plantas no geral têm benefícios, mas não é apontada uma ação terapêutica em plantas selvagens.”

A história da Herbes Folles

Em 2020, Mariana Santos lançou uma marca de cosméticos inspirada no potencial das plantas para produzir cosméticos sustentáveis. Apelidou-a de Herbes Folles (que significa “ervas loucas” em francês) e chamou à atenção pela aposta invulgar.

A história começou em 2017, quando a fundadora foi mãe e regressou a Portugal depois de cinco anos a viver em Bruxelas, na Bélgica. Foi para lá motivada pela vontade de se lançar no mundo das artes, trabalhou em projetos de restauração e fez workshops de botânica em ervanárias. Foi lá que percebeu o potencial das ervas daninhas.

“Também cheguei a morar um ano no Brasil, em Salvador da Bahia, e o meio onde eu estava inserida era bastante ligado às plantas medicinais e a esta ideia de cura pelas plantas”, contou à NiT. “Só depois de engravidar é que comecei a despertar novamente para este mundo e a pensar em criar uma marca.”

Beldroegas, urtigas, hipericão, sabugueiro, óleo de papoila e manteiga de murumuru foram os ingredientes escolhidos para desenvolver a etiqueta. Além da manteiga vegetal, que é proveniente do Brasil, todos os outros componentes são fornecidos por produtores europeus.

O passo seguinte foram as formulações num laboratório belga especializado em cosméticos naturais e sustentáveis. Os produtos são livres de fragrâncias sintéticas, conservantes artificiais, óleos minerais e petroquímicos e incluem opções que prometem nutrir e hidratar a pele. Porém, os ingredientes contêm apenas extração de plantas selvagens.

Se estiver curiosa, todos os produtos podem ser comprados através do site da Herbes Folles, com valores entre os 22€ e os 41€.

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