“Preciso de emagrecer”, “acabei de amamentar” e “não tenho o corpo certo” são alguns dos desabafos que Dai Moraes ouve ao fotografar mulheres num contexto íntimo. Outras vezes, cruza-se com clientes a atravessar fases mais complicadas, como uma “mulher muito dura e reservada” com a qual não conseguia dialogar: “No final da sessão, começou a chorar. A experiência mexeu com ela e, até hoje, não sei o motivo”, conta à NiT.
Desde 2011, quando agarrou na sua primeira câmara, Dai Moraes tenta captar retratos femininos de todo o tipo de mulheres. O seu objetivo é registar a beleza das clientes de uma forma natural e sensível, sem qualquer tipo de edição, e ajudar a que todas as pessoas saiam do estúdio a sentirem-se mais confiantes.
Formada em publicidade, descobriu a paixão ao trabalhar numa agência de design, ao coordenar projetos que envolviam fotografia. Nessa altura, ainda sem ter um caminho definido, criou uma amizade com um profissional que a ajudou com a escolha do equipamento e começou o curso.
“Na altura, no Brasil, existia uma novela [‘Viver a Vida’] que fotografava mulheres mais comuns. Achei esse registo incrível”, acrescenta. Porém, “era um nicho complicado. Temos que deixar a mulher confortável e confiante” e começou por fotografar famílias e miúdos, enquanto treinava o estilo que queria.
Filha de português, a brasileira de 37 anos mudou-se para Portugal em 2015 após a morte do pai. O objetivo era ficar temporariamente, porém, manteve-se pelo País ao conhecer o atual marido, deixando o Rio de Janeiro para trás e construindo a sua carreira na Europa.
A promoção da aceitação corporal
As sessões Boudoir, que se tornaram na sua imagem de marca, são um estilo que remete para os anos 20. Estas imagens consistem em registos da mulher de forma sensual e feminina, não atravessando a linha ténue dos retratos sexuais: “Não faço poses eróticas, às vezes fotografo casais e tenho que ter atenção à direção que dou”.
Dai Moraes ainda se recorda da primeira sessão profissional, que realizou após ter criado um portefólio com pessoas que conhecia. “A cliente ia casar e pediu-me para tirar as gorduras. Fiz a manipulação da imagem seguindo um padrão estético”, recorda. Quando se recusou a ver o resultado original, “para não ficar mal”, entendeu que estava a cooperar para que ela não se aceitasse a si própria.
Esse foi o primeiro e único ensaio que fez com edição. Atualmente, não utiliza Photoshop, defendendo a aceitação corporal. Em vez disso, tenta não evidenciar as inseguranças das pessoas que recebe. Conecta-se com a cliente, ouvindo a sua história, e encontra os seus ângulos e feições mais bonitos.
“Quero que a mulher se sinta bonita e sensual com o corpo que tem”, reforça. Ao longo dos anos, começou a perceber que as imagens eram “uma ferramenta de resgatar a autoestima” de muitas mulheres, que chegam tímidas e com uma lista enorme daquilo que não gostam em si — muitas vezes, não conseguem dizer o que apreciam.
No final, sentem a transformação e têm sempre a mesma pergunta: “Sou eu? Nunca me vi assim, fez alguma coisa?”. Mas não há expressões forçadas, poses rebuscadas ou efeitos. Dai recorre apenas a estratégias para colocar cada cliente confortável, que começa com “entender as dores para depois realçar aquilo de que gosta”.
Todas as sessões têm uma história por trás: pode ser um divórcio, a redescoberta após um relacionamento ou um aniversário. Algumas das fotografadas querem contar tudo pelo qual estão passar, outras evitam fazê-lo numa fase inicial, que começa por uma troca de ideias online.
“Durante o encontro, vou mostrando as fotografias para que se sintam seguras. Quero que tenham total liberdade para dizerem o que está a resultar e o que não gostam. Conforme vou mostrando, também faço uma leitura corporal para me adaptar [às suas necessidades].”
A promoção da aceitação corporal
Em Portugal, sentiu uma barreira ainda maior para apresentar o seu estilo, que na altura chamava de “sessão sensual”. “As mulheres sentiam-se reprimidas e eu não entendia a diferença cultural, então fui para as ruas tentar entender e faziam comentários de mau gosto: ‘As brasileiras focam-se no corpo, nós na inteligência’”, recorda.
Apesar do desafio, optou por mudar algumas estratégias, como a adoção do nome profissional do estilo, e procurou faculdades para falar sobre este nicho. Hoje em dia, tem uma carteira de clientes sólida e sente-se compreendida.
Em 2019, Dai trouxe também para o País a exposição “+Mulher”, que arrancou em 2013 ainda no Brasil. Inspirada na luta contra o cancro da mãe — e do choque para a autoestima que representou o uso de um saco de colostomia — decidiu convidar mulheres a partilhar os seus segredos através das suas sessões sensuais de boudoir.
Quanto ao orçamento, a fotógrafa tem três packs com valores a partir dos 150€. Porém, está a planear incluir um serviço mini boudoir por um valor mais acessível para as clientes que não conseguem pagar o pacote completo.
As sessões acontecem no estúdio Dai Moraes Photography, um espaço que também vai passar a ser um local com vários workshops e encontros de empoderamento feminino. Pode agendar através do site da fotógrafa ou da sua página de Instagram.
Carregue na galeria para ver alguns dos retratos tirados por Dai Moraes ao longo dos anos.