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É verdade: quem usa máscara torna-se mais bonito aos olhos dos outros

Um estudo recente mostra que a nossa mente “preenche o que não vemos” — e o cérebro é otimista por natureza.

Nem tudo o que parece, é. Nunca o famoso ditado fez tanto sentido, sobretudo neste mundo confuso de pandemia, de vírus e de máscaras. À medida que nos habituamos a reconhecer caras tapadas apenas pelo olhar e a interpretar sorriso e expressões sem as ver, um grupo de cientistas quis perceber uma coisa: porque é que toda a gente nos parece mais bonita de máscara?

Embora o estudo lançado em agosto — e apropriadamente apelidado de “Beauty and the Mask”, ou a Bela e a Máscara — não procure descobrir o porquê, conseguiu aferir que efetivamente, a nossa mente se deixa enganar pelas máscaras.

A investigação feita por cientistas da Universidade da Pensilvânia descobriu que os mesmos indivíduos eram consistentemente avaliados como mais bonitos, sempre que usavam máscara. Quando esta caía, o resultado era invariavelmente o mesmo: as avaliações caíam a pique.

Na antecipação do estudo, os investigadores revelaram que o uso da máscara que cobre a zona da boca e do nariz tem efeitos na perceção facial. “Embora emoções como medo intenso possam ser comunicadas com a contração dos músculos da sobrancelha e dos que rodeiam os olhos, a comunicação de felicidade genuína requer a contração dos músculos da boca, o que dificilmente se observa com uma máscara”, revelam.

Para contextualizar o estudo, recorrem a um estudo dos anos 80, que revelou que a perceção de atratividade se mede maioritariamente pela metade inferior da face, conforme concluiu a análise de Leslie Farkas, o pai da antropometria craniofacial.

De que forma é que, tapando esta zona vital, se poderia influenciar este julgamento? Isto é: tendo nós acesso apenas a um terço da face da outra pessoa, seríamos capazes de as julgar mais ou menos atrativas do que se não tivessem máscara?

No estudo participaram 500 pessoas que tiveram que avaliar a atratividade de pessoas com e sem máscara. De acordo com os resultados, a principal diferença verificou-se nos casos de homens e mulheres vistos como menos atraentes sem máscara, sendo que depois da aplicação de máscara, se observou um aumento de 42 por cento nas avaliações dadas. Num dos casos mais drásticos, uma mulher viu as notas de atratividade subirem em 71 por cento depois da colocação da máscara.

Embora não avancem com uma explicação, ao “El País”, a psicóloga Elena Daprá explicou o que poderá estar por detrás desta mudança tão drástica. “Com as faces tapadas por uma máscara, o que a nossa mente faz é preencher o vazio que não consegue ver. A mente faz sempre isso: precisa de dar um sentido às imagens e se não nos é dado, preenchemo-lo.”

Ao tapar a parte do rosto mais responsável pela atratividade, cobre-se também as eventuais imperfeições. E eliminados os pontos negativos, o nosso cérebro faz o resto do trabalho. “No que concerne a perceção de pessoas, aplicam-se as leis de Gestalt”, explica Daprá sobre o fenómeno em que a mente tende a preencher o que não está visível, partindo do pressuposto de que percecionamos tudo de uma forma conjunta e não por elementos independentes.

“Quando preenchemos os espaços vazios, a mente tende a atribuir-lhe a melhor forma possível”, conclui Daprá. Ou seja, tapadas as eventuais imperfeições, a nossa mente faz-nos assumir que o que não se vê é, se não for perfeito, será quase perfeito.

No mesmo sentido avança Bence Nanay, professor de Cambridge, que estudou o fenómeno cerebral que faz este preenchimento. “[O cérebro] usa informação genérica sobre como tendem a ser as regiões da boca e do nariz. Mesmo que nunca tenha visto o nariz e a boca daquela pessoa específica sentada à sua frente no comboio, já viu muitos narizes e muitas bocas. O sistema visual usa essa informação para completar a região oculta”.

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