Quando comprou o seu primeiro kit de unhas num supermercado, João correu para casa para o experimentar na mãe. Ela detestava servir de cobaia, mas nunca se opôs às brincadeiras no filho, na altura com 13 anos. Nesse dia, tornou-se uma das suas maiores apoiantes.
Um ano depois, estava no salão de estética da prima e o cenário não era muito diferente. Agora, observava atentamente as mãos da tia, estendidas em cima da mesa. Ao perceber a precisão cirúrgica com que o trabalho era feito, decidiu que queria seguir a mesma profissão. E nunca mais olhou para trás.
João Santos, de 21 anos, é um dos poucos nail artists do sexo masculino em Portugal. Natural do Fundão, em Castelo Branco, soma elogios e admiração numa profissão ainda marcado pela presença esmagadora das mulheres. Se muitas clientes acham estranho, há outras que o procuram apenas por sentirem curiosidade.
“A primeira coisa que noto numa pessoa são sempre as unhas, se estão arranjadas ou têm uma decoração fora do normal”, conta à NiT. “Desde cedo, o que mais me cativou foi a elegância que uma manicure confere às mãos. Sempre fui muito vaidoso.”
Na adolescência, o jovem já fazia manicuras cuidadas. No início, apostava na discrição, mas aos poucos começou a arriscar. Quando decidiu que queria tirar formação na área, começou a apostar em designs mais longos e exagerados para “atrair clientes”. “Neste momento, estão a precisar de uma manutenção”, acrescenta, em tom de brincadeira.
Ainda andava na escola — tinha 16 anos e estudava hotelaria —, quando a esteticista Carla Marques, de 46, reparou no seu talento e deu-lhe formação. João só atendia alguns familiares (a mãe continuou a ser a principal cobaia, mesmo que contrariada) e ia à casa de alguns vizinhos. Porém, foi no salão da mentora que aprendeu todas as técnicas.
“Era uma novidade para as pessoas verem um homem, ainda por cima tão jovem, a fazer unhas. Mas, como viam que era muito dedicado e interessado, apoiavam-me. Todas as clientes do salão [onde começou a trabalhar em 2021] acabaram por aceitar o meu trabalho”, diz.
“Vivia num meio muito pequeno”
Apesar de se sentir acolhido, no final desse ano, mudou-se para Portimão à procura de outras oportunidades. “Na minha terra, sempre senti que vivia num meio muito pequeno. As mentes acabam por ser mais fechadas e queria perceber como era trabalhar numa cidade maior.”
Meses depois, regressou à cidade onde nasceu — percebeu que o Algarve era uma região muito sazonal. Entretanto, voltou a mudar-se, desta vez para o norte do País. Atualmente, trabalha no Lumiére Beauty Lounge, um salão em Braga.

No meio de tantas mudanças, afirma, já tem várias clientes fixas. “Ainda tenho receio de fazer o que não é tão usual. Queria arriscar mais e tento que elas aceitem em cada marcação, mas ainda têm muito receio. Está a ser uma luta”, diz. E sublinha: “Há muitas clientes que vêm ter comigo por ser homem. Sentem curiosidade em perceber se é diferente de uma mulher.”
Em cada uma das cidades, ficou conhecido como “o menino das flores”, já que quem o procura sai (quase) sempre do salão com desenhos florais nas mãos. E um toque de brilhantes, claro. Das aplicações em 3D ao “spider” (um gel de unhas UV), o estilista pode gabar-se de ter uma assinatura definida.
Um dos motivos é o facto de se virar muito para o segmento de noivas e festas. “Quero mostrar um novo mundo”, explica. O trabalho que mais o marcou foi precisamente quando adornou as unhas de uma amiga que ia casar com a renda do próprio vestido. Pode colocar “um tom que vá usar na decoração do casamento” ou que combine com as damas de honor.
Quando regressa ao Fundão, é recebido com alegria por todos que o viram crescer. “Faz o que tu quiseres” já é uma resposta mais comum entre as clientes antigas, que confiam no seu trabalho. Por vezes, até o deixam colocar um centímetro a mais ou uma pedra mais cintilante.
Neste momento, João está focado no mundo das formações profissionais, para ajudar outras pessoas a concretizarem o mesmo sonho. Algumas são clientes que o procuram pelo diferencial, seja na cidade onde nasceu ou em Braga: “Sou dos poucos que fazem trabalhos mais elaborados e fora do normal”.
Se estiver interessada no trabalho de João, os preços variam entre os 20€, no caso da manutenção com gel normal, e os 40€ com extensão em gel e acrygel. Porém, os valores podem sofrer alterações consoante o tamanho e o estilo escolhido.
Aproveite e carregue na galeria para ver alguns dos trabalhos de João Santos.