“Daqui a dez anos, quero estar em todo o mundo.” A frase é de Ellie Goldstein, uma modelo de 18 anos com síndrome de Down que posou na capa digital da revista americana “Allure” para dezembro de 2020. O editorial pertence à série “The Beauty of Accessibility” (ou “a beleza da acessibilidade”, em português), uma nova rubrica lançada pela publicação que quer contar as histórias de pessoas extraordinárias, com características que desafiam os moldes da indústria da moda.
Ellie Goldstein encaixa aqui na perfeição. Aos 18 anos, a sua carreira explodiu depois de se tornar a primeira mulher com síndrome de Down a participar numa campanha de beleza da Gucci para promover a máscara de pestanas L’Obscur. A iniciativa teve tanto sucesso que se tornou rapidamente viral na conta de Instagram da marca italiana — entre as centenas de publicações, que costumam rondar os três mil “gostos”, esta destacou-se com uns estrondosos 118 mil.
Sempre quis ser famosa e não parece ter problemas em admiti-lo. “Quando vi [a minha fotografia] no Instagram da Gucci pensei ‘Uau! Quem é esta?'”, contou à “Allure”. “Os meus amigos e família viram-na. Foi muito especial para mim”, acrescenta.
Agora, em dezembro de 2020, as atenções voltam a recair sobre Ellie no editorial da “Allure“, publicado no site esta terça-feira, 1 de dezembro, fotografado por Vicki King e acompanhado por uma entrevista de Dianna Mazzone, a editora de beleza sénior da publicação a quem a modelo natural de Essex, no Reino Unido, proferiu a famosa frase no início deste artigo (aquela em que confessou querer chegar a todo o mundo).
“Começou a dançar quando tinha 5 anos e participava em produções da escola”, escreve a jornalista. Foi em cima do palco que Ellie percebeu que gostava de ser vista. Com esse objetivo em mente, assinou um contrato com a agência de modelos Zebedee Management em 2017, que representa exclusivamente pessoas com diferenças visíveis ou deficiências.
Ellie Goldstein está a estudar Artes Performativas numa faculdade em Essex e participou em várias campanhas antes da oportunidade da Gucci, para marcas como a Superdrug, Nike e Vodafone. Nas redes sociais, a sua mãe, Yvonne, disse que toda a família está “incrivelmente orgulhosa” e destacou os comentários simpáticos que têm recebido no Instagram desde o post.
“Ela sempre adorou estar no centro das atenções e à frente das câmaras, é muito confiante e ótima a seguir direções”, acrescentou.
Já Laura Johnson, uma representante da sua agência de modelos, disse que Ellie “é uma pessoa maravilhosa por dentro e por fora. Tem imensas capacidades e uma beleza natural. Esta oportunidade tem muito significado para ela, para a família e para a comunidade alargada. Ela ilumina uma sala quando entra e é uma grande profissional. Esperamos mesmo que todas as marcas tomem nota e que incluir modelos com deficiências comece a ser a norma”.
Segundo a Zebedee, estudos mostram que apenas 0,06 por cento daqueles que aparecem em publicidade têm algum tipo de deficiência e que este número desce para 0,01 a 0,02 quando se olha para as indústria da moda e beleza. “É apenas um ou dois modelos em 10 mil. As marcas não podem continuar a dizer que ‘o público não quer vê-los’, uma vez que este post no Instagram prova o contrário”, continuou Johnson.
“A inclusão de todas as pessoas na indústria é muito importante, não só porque é a coisa certa a fazer do ponto de vista ético, mas também porque faz sentido para os negócios.” Os portadores de deficiências, explica ainda, têm uma estimativa superior a 260 mil milhões de euros por ano, o que faz deste um “mercado gigantesco”.