Beleza

Na Pikikos, pode doar o seu cabelo para oferecer perucas a miúdos com cancro

As cabeleiras são oferecidas gratuitamente a milhares de jovens doentes. Há muitas meninas que contribuem para esta causa.

A relação que muitas mulheres estabelecem com o cabelo é emotiva. E, normalmente, começa cedo. Na escola (e não só) é comum as miúdas compararem o comprimento dos fios com os das colegas. Embora seja difícil estabelecer exatamente como tudo começou, as mulheres com longos cabelos são consideradas símbolos de força, confiança e feminilidade desde tempos imemoriais.

Esta ideia traz outra associada, o reverso da medalha. Ou seja, perder os fios ou cortá-los é muitas vezes associado a perda de características femininas e até fraqueza. Uma realidade que pode afetar mulheres de todas a idades e ter um impacto devastador em termos de autoestima.

Do cancro à alopecia, a ausência de cabelo é um desafio com o qual muitas jovens são confrontadas. A missão do fundo britânico The Little Princess passa precisamente por oferecer perucas de cabelo natural a jovens até aos 18 anos, que estejam a realizar tratamentos oncológicos. Há opções para todos os gostos criadas por especialistas.

Desde a sua criação, em 2006, a associação cobre todos os custos da criação das perucas e o projeto já tem espaços de beleza aderentes um pouco por toda a Europa. O nosso País não é exceção e, por cá, existem vários espaços onde pode contribuir a esta causa.

Como pode doar cabelo em Portugal?

O Pikikos, em Campo de Ourique, foi um dos primeiros espaços a associar-se à The Little Princess, logo desde a abertura, em 2019. As clientes aparecem no salão, sentam-se e dizem se aceitam que parte do cabelo cortado seja doado. Algumas dirigem-se ao espaço já com essa intenção, outras são incentivadas pela própria fundadora.

“Comecei a fazer isto em Lisboa e outros locais inspiraram-se. Tinha uma prima que já tinha doado cabelo para a fundação”, conta à NiT Natascha Calem, 41 anos. “Quando abri o negócio, procurei instituições cá que aceitassem doações. Como não encontrava, decidi doar para lá.”

Quando uma cliente corta fios com comprimento suficiente para doar (o mínimo são 17 centímetros), a Pikikos paga os portes de envio para o Reino Unido. “É uma forma de incentivarmos as pessoas a contribuírem. Como não têm de tratar de nada, facilita a decisão”, acrescenta.

Todas as pessoas, de qualquer género ou etnia, podem doar o próprio cabelo ou até mesmo extensões (naturais). No entanto, além do comprimento, os fios devem cumprir outros requisitos: estar em bom estado (sem pontas duplas), limpos e secos — cabelos molhados não secam bem e não podem ser usados. E só podem estar pintados com cores naturais (castanho, ruivo, louro, preto). 

Relativamente ao processo em si, o primeiro passo é fazer vários rabos de cavalo divididos em três ou quarto partes. A seguir, o profissional coloca elásticos que permitem cortar o excesso que será oferecido. Por fim, corta-se o cabelo preso e depois o seu penteado.

Sobre a recetividade das clientes, Natascha explica que a maioria chega ao Pikikos com esse plano.“Estão a deixar o cabelo crescer para doar, só que depois percebem que não é fácil e vêm cá parar. E há outras que conseguimos convencer.”

A solidariedade dos mais novos

Desde o início, o Little Princess Trust já forneceu quase 15 mil perucas para miúdos com perda de cabelo. Por trás deste número, está o contributo não só de homens e mulheres adultos, mas também dos seus filhos, alunos e vizinhos mais pequenos.

“Na mesma semana, tive duas meninas da mesma idade [9 anos] que quiseram doar o cabelo. Descobri que andavam na mesma escola, eram da mesma turma e não sabiam uma da outra”, recorda. “Quando vinham cortar o cabelo, dizia-lhes: ‘da próxima vez têm que doar’, e elas não hesitaram.”

Quando recebeu a chamada das mães para agendarem o atendimento, colocou-as em contacto. Quando perceberam que as filhas se conheciam, acabaram por vir doar os cabelos juntas. Mais tarde, na escola, “fizeram uma apresentação para conseguirem angariar fundos e mais pessoas interessadas.”

Curiosamente, o spot — que também reúne uma concept store e um café — começou por ser pensado como um cabeleireiro dedicado aos mais novos. Entretanto, percebeu que também funcionava para adultos. O conceito era diferente dos demais: todo o cabelo cortado era recolhido — não só para a fundação, mas também para ir para a compostagem.

Uma das séniores que se tornaram clientes habituais também fez a sua parte. Diagnosticada com cancro, sabia os cabelos iam cair devido à quimioterapia e decidiu cortá-lo antes de iniciar o processo para doar. Este é, claro, um dos trabalhos mais desafiantes para Natasha devido às emoções que convoca.

Por enquanto, ainda não há forma da pessoa saber para quem foi a sua doação ou acompanhar o processo. Mas é sempre preenchido um papel e, mais tarde, um certificado para confirmar que os fios foram doados e recebidos.

“Estou a trabalhar para que as pessoas consigam manter o cabelo cá. Gostava de fazer as perucas aqui para quem precisa em Portugal”, conclui. “Como ainda não há forma, continuo a mandá-lo para lá.”

Outras formas de ajudar

Quanto à The Little Princess, há outras formas de ajudar para quem não pode doar. No site da associação, há uma página de angariação de fundos “porque cada peruca custa cerca de 500 euros a ser criada” e, quem as recebe, não paga por elas. Então, precisam de recolher donativos para poderem continuar a ajudar.

Outra das iniciativas passa por financiar as investigações que desenvolvem tratamentos para o cancro pediátrico. Ao todo, já angariaram mais de 21 milhões de dólares (cerca de 19 milhões de euros) para “pesquisas inovadoras” na área, muito graças ao contributo de quem acompanha o projeto.

Se estiver em Portugal, e precisar de uma peruca gratuita, pode aceder à página do Little Princess Trust e clicar na aba “Request a wig”. A seguir, será marcada uma visita a um salão aderente, especialista em cabeleiras e será feito um diagnóstico privado. Exposto o caso, é encontrada a solução mais próxima do cabelo original da pessoa — sem qualquer custo envolvido.

Leia também o artigo da NiT sobre a história da Pikikos. Carregue na galeria para ver imagens de várias mulheres que doaram parte do seu cabelo para esta causa.

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