Suava por todo o lado. Enquanto Meghan Markle e Harry se preparavam para subir ao altar, Manuel Novo penteava Kate Middleton com uma precisão cirúrgica. Tinha sido convidado apenas para tratar dos cabelos da família Spencer, mas houve uma troca de planos. Quando o cabeleireiro pessoal da princesa teve um imprevisto, foi chamado para o substituir — e não podia recusar.
O hairstylist português, de 28 anos, passou mais de uma década em Londres, no Reino Unido. Trabalhou num dos maiores salões da capital britânica, passaram-lhe imensas cabeças conhecidas pelas mãos e, pelo meio, colaborou com a estilista Tamara Ralph. Uma realidade que, quando era miúdo, nem imaginava.
Manuel tinha 15 anos quando decidiu “fazer coisas malucas ao cabelo”, começa por contar à NiT. Do azul ao vermelho, experimentou pintá-lo de várias cores. Na mesma altura, o salão onde era atendido, em Alenquer, começou a organizar desfiles e convidou-o para desfilar. “Percebi que gostava mais de estar nos bastidores.”
Um ano depois, tirava o curso de cabeleireiro no espaço. Acabou por ser convidado para trabalhar nas férias de verão, onde varreu cabelos e limpou expositores. Aos poucos, começou a aplicar cores, a fazer brushings e a ganhar clientes habituais. Manteve-se um ano até ir para Londres, aos 18 anos.
“Ia duas semanas de férias, porque era uma cidade que adorava. Quando cheguei lá, percebi que queria ficar”, explica. “Ao terceiro dia, já trabalhava num salão típicamente português na cidade. Entrei, perguntei se precisavam de alguém e contrataram-me.”

Na altura, tornou-se conhecido pelas madeixas: adotou a técnica da balayage antes de se ter transformado num fenómeno. Ao mesmo tempo que tinha sucesso, sentia saudades da família. Essa foi a razão que o motivou a dar um novo passo na sua carreira.
“Se era para estar ali, num salão português, com clientes portuguesas, pensei que mais-valia voltar para Portugal e estar ao pé dos meus pais.” Seis meses depois, decidiu procurar um espaço típico do Reino Unido. E não se ficou por um qualquer.
Grandes oportunidades
Em 2015, Manuel entrou para a equipa do Neville Hair and Beauty, onde um corte de cabelo pode custar, em média, cerca de 400€. A partir daí, começaram a surgir as suas primeiras clientes individuais, entre as quais a estilista britânica Tamara Ralph, que era cliente das colegas. “Quando não podiam, fazia eu.”
Satisfeita com o jovem, começou a levá-lo para a ajudar em vários eventos. Fez a semana da moda de Londres, desfiles de alta costura em Paris, entre muitos outros. Era muito nome, mas “ela gostou do facto de ter muita maturidade e talento para a idade que tinha”, recorda o hairstylist.
A designer foi a responsável por o apresentar o português a Kate. Estava no momento certo, à hora certa e, por necessidade, foi convidado para ir ao Palácio de Kesington, para fazer um brushing à atual princesa de Gales (na altura, ainda duquesa de Cambridge).
“Tive de aprender o protocolo para saber como tratar os membros da família real. São muito acessíveis, com os pés assentes na terra e aceitam sugestões sobre o que fica melhor”, continua. “Mas é uma responsabilidade enorme e pedem-me que seja o mais discreto possível, porque gostam de passar despercebidos.”

Manuel trabalhou ainda com outros membros da família real, embora prefira não contar detalhes. Um deles foi a sobrinha da princesa Diana, Kitty Spencer, com quem colaborou em vários editoriais de moda. Penteou-a uma vez no Neville e, desde então, não o largou. Até o levou para o casamento de Meghan e Harry.
Quando trabalhava em Londres, somou outras oportunidades únicas. Recorda-se com orgulho de ter participado na capa de uma edição da “Vogue” britânica e foi um dos organizadores de um desfile da designer chinesa Guo Pei, que se apresenta na Haute Couture Fashion Week, em Paris.
Apesar do sucesso, em 2018, o cabeleireiro decidiu voltou para Portugal por motivos pessoais. “Não foi uma decisão tomada de ânimo leve”, mas aproveitou para aceitar novos desafios. Atualmente, está a trabalhar como formador na L’Oréal Professionnel Paris, onde “partilha e recebe conhecimento.”
Contudo, admite que tem saudades dos trabalhos que desenvolvia. Antes da pandemia, ainda voltou algumas vezes a Londres para projetos enquanto freelancer e trabalhou na ModaLisboa, mas tornou-se cada vez menos comum colaborar com cabeleireiros neste contexto.
“Apesar de tudo, sinto-me realizado profissionalmente. Sempre quis estar do outro lado e ser um mentor”, conclui. “E estou a ter um feedback ótimo. Isso significa que estou no caminho certo para um futuro em que ainda não sei o que me espera.”