Uma pessoa perde, em média, cerca de cem fios de cabelo por dia. É um fenómeno natural, que faz parte do processo de regeneração capilar que acontece ao longo da vida. Porém, quando a perda dos fios acontece a um ritmo superior ao previsto, torna-se uma preocupação para muitos.
A estação do ano, os níveis de stress ou a alimentação são apenas alguns dos fatores que afetam a saúde capilar. E claro, “não podemos deixar a herança genética fora desta equação”, começa por explicar Ricardo Vila Nova à NiT.
Considerado “encantador de cabelos” pela “Vogue” britânica, em 2012, o especialista de 40 anos é tricologista. A designação é complicada, mas a explicação é simples. Falamos da ciência dedicada ao estudo, diagnóstico e tratamento dos distúrbios capilares, ramo a partir do qual criou o seu próprio método.
Em Lisboa, Londres e um pouco por todo o mundo — como Abu Dhabi, Nova Iorque ou Hong Kong —, Ricardo extrai um só fio da cabeleira dos seus clientes, que analisa de forma microscópica. O estudo da amostra permite-lhe avaliar a saúde capilar da pessoa, perceber como se alimenta ou as cirurgias a que já foi submetida. Até já descobriu uma gravidez em primeira mão.
Atualmente, a área está a crescer e a abordagem não é considerada “esotérica ou estranha”. Quando começou, o cenário era bem diferente. No final dos anos 90, tornou-se pioneiro ao juntar a medicina estética à cosmética do cabelo com tratamentos que não existiam nos espaços de beleza europeus, sobretudo com a promessa de recuperação da densidade capilar.
O miúdo das amostras
Incentivado pela mãe, que o deixava comprar as publicações de moda internacional, Ricardo descobriu cedo a paixão. “Era o miúdo que colhia as amostras dos produtos que vinham com as revistas. Sempre que ia a consultas ou ao cabeleireiro, também tirava algumas para mim. Estava sempre a ler, a tentar perceber o conceito, o que faziam e adquiri muito conhecimento”, recorda.
Os pais achavam que ia seguir direito, mas acabou por se formar em bioquímica com especialização no cuidado do rosto. Ganhou uma bolsa para terminar os estudos em Paris, assim que terminou, começou a trabalhar nos laboratórios de pesquisa avançada da L’Óreal, na capital francesa. Era um dos cientistas mais novos.
“Tínhamos a dermatologia, existiam cirurgias plásticas e até a dermatologia aplicada aos cabelos, mas em Portugal não havia nada no meio. A pele tinha o botox, o ácido hialurónico, entre outros, mas no couro cabeludo só se usava amaciador ou champô.”
Nessa altura, começou a usar as tecnologias de regeneração de pele para o cabelo, o que gerou alguma controvérsia: “Entrei no mercado com ingredientes ativos como vitamina C, retinol, peptídeos e fatores de crescimento. Diziam que o único método para o fazer crescer era a indução hormonal.”
Em que consistem os tratamentos?
O seu trabalho levou-o a abrir, no início de 2021, um espaço nos armazéns londrinos Harrod’s. Uma oportunidade “que surgiu quando foram vendidos a um novo dono, do Qatar, com novas ideias. Isto acontece quando uma companhia onde tinha o meu departamento, também foi vendida. O gestor de retalho, atento, convidou-me a fazer parte e a abrir o meu primeiro espaço”.
Por lá, e com a confiança do público, foi aperfeiçoando o seu método. Para alcançar os resultados, utiliza tecnologia de ponta em tratamentos feitos sob medida, com leitura do ADN do cabelo. Assim, consegue perceber a situação hormonal, nutricional e genética, entre outras características do couro cabeludo.
“Quando tenho um scanner que me mostra a vida do fio, estou a falar da vida da pessoa: há algum distúrbio da tiroide? Teve um pós-parto? Vejo uma marca em que houve baixa da proteína. As pessoas perguntam: ‘como sabes?’, mas foram os componentes que contribuíram para a degeneração. É algo científico.”

Esta primeira etapa, antes do “conceito de hair care que engloba lavagem, preparação e tratamentos de renascimento” — como injetáveis e laser —permite ao paciente perceber o que está a causar a mudança. Normalmente as pessoas procuram-no pela longevidade e constituição capilar, “mas também tenho uma grande percentagem que vem por questões utópicas, como oleosidade ou escamação.”
Além disso, os tratamentos não são apenas para quem problemas capilares. Outros aparecem para avaliar a saúde da cabeleira, saber que vitaminas devem tomar e dar um boost necessário à principal moldura do rosto. Sempre com um grau de diagnóstico mais profundo e personalizado.
Depois da primeira análise, são definidos os procedimentos a seguir: do dermaroller ao microagulhamento, passando por produtos personalizados para serem usados em casa, com a fórmula adequada à condição, os resultados prometidos são “um cabelo mais forte, brilhante e saudável.”
Os produtos são feitos exclusivamente para Ricardo, embora não tenha nenhuma linha própria. São desenvolvidos em laboratórios, segmentados por três áreas: hair care, como champôs e preparação, são feitos no Japão, os óleos essenciais e elementos botânicos no sul da França e, por fim, tecnologia e injetáveis podem ser nos Estados Unidos, Itália ou Suíça.
Quanto aos principais erros dos clientes, o especialista nota a falta de cuidados após a lavagem diária. Sobretudo na hidratação do couro cabeludo ou a esfoliação para tirar as peles mortas, que influenciam a longevidade. Muitas vezes, usam-se agentes muito agressivos sem recorrer a um produto compensatório.
E que fatores podem influenciar a saúde do nosso cabelo? A constituição genética é a principal, definindo a cor a espessura, e varia tendo em conta se somos o primeiro ou o terceiro filho. No entanto, com a puberdade, outros fatores provocam alterações — “o estilo de vida, o sistema nervoso e o foro metabólico”, diz.
Do Harrod’s para o mundo
“A necessidade e a especificidade do meu trabalho levaram-me a entrar num nicho”. E a expansão foi reflexo de estar nos armazéns londrinos, um centro cosmopolita com clientes que viajam. Isso levou-o a conhecer outros países, a ser convidado para palestras e a desenvolver uma rede de trabalho que o levou para localizações como o Médio Oriente, por exemplo.
Em 2018, abriu a clínica 212.2 Ricardo Vila Nova, na Avenida da Liberdade, em Lisboa. Embora se tenha distinguido no mercado estrangeiro, destaca que se considera uma marca portuguesa. “Dá-me muito prazer poder trabalhar com as pessoas que são do meu País e devolver-lhes o know how que adquiri. Se qualquer pessoa cá fora tem essa possibilidade, também tenho obrigação de os servir.”
A marcação de uma consulta de diagnóstico, o Hair DNA Scan, pode ser feita através do site do “encantador de cabelos” ou através do número 211 982 023. O serviço custa 180€.