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Tarotuagem: as tatuagens místicas em que são as cartas a decidir o desenho

A taróloga Bia Môra transforma as leituras do oráculo em imagens simbólicas. Algumas pessoas só veem o resultado no final, já na pele.
Bia chegou a Portugal em fevereiro.

No dia em que fez 13 anos, Bia Môra recebeu o primeiro oráculo Lenormand, um conjunto de cartas que fazem parte do baralho cigano. O presente foi oferecido por uma amiga da família que, após sonhar que tinha de ensinar tarot à jovem, abriu as portas para um interesse que nunca mais largou.

Em paralelo, a criativa começou a trabalhar com a produção de mandalas artesanais, motivos que remeteram para a sua infância, por ter sido criada no meio de retiros de Ayahuasca. Aos 21, quando sentiu “que tinha cumprido a sua missão” com este ofício, migrou a sua arte para o mundo da tatuagem. 

“Comecei num estúdio muito comercial, onde nem conhecia os clientes antes de os tatuar. Entravam através de um sistema que os agendava com um dos profissionais”, recorda a artista, atualmente com 24 anos, à NiT. “Não havia uma conexão com aquela pessoa e isso começou a agonizar-me.”

Inconformada, começou a desenvolver o conceito de tarotuagem, ao qual se dedica desde 2023. Bia, “adepta das artes místicas e mágicas”, tatua as pessoas sem que estas saibam o que vão gravar no corpo. Decidida “a conhecer o universo interior dos clientes”, usa o oráculo para chegar a símbolos que representam quem tem à sua frente.

Os primeiros passos foram dados em Curitiba, no Brasil, onde cresceu. “Como sempre levei a tatuagem para um campo mais ritualístico, e estava habituada a uma troca mais profunda, comecei a usar os baralhos para um contacto inicial. Dei por mim a perguntar se gostavam de cartas e a usá-las como parte do processo criativo”, recorda.

Apesar dos receios, a abordagem foi tão bem recebida que Bia decidiu levá-la para outras partes do mundo. Começou por outros estados brasileiros, como São Paulo, Rio do Janeiro ou Belo Horizonte, e, em fevereiro deste ano chegou a Portugal, para se tornar mestre em artes visuais e chegar a um novo público.

A artista instalou-se em Bragança, no Violet Voltage, mas ainda vai trabalhar em Lisboa e no Porto, antes de dar início a uma “Euro tour”, passando por Madrid, Barcelona, Paris ou Londres. “Depois volto ao Brasil para regularizar o visto, mas o plano é regressar a Portugal a tempo do doutoramento.”

@biamoratattoo

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Uma experiência às cegas

O processo, explica Bia, começa com uma reunião — que pode ser presencial ou online — onde aproveita para fazer todo o tipo de questões. A artista não se limita a perguntas sobre tatuagens, como os estilos que mais gosta, mas tenta também saber mais “sobre as histórias que a pessoa carrega e o caminho de vida de cada um”, diz. “Tento saber mais sobre aquilo que acreditam, porque mostra como é a sua sensibilidade em relação ao mundo.”

Numa segunda etapa, a taróloga faz uma leitura a partir de quatro oráculos, juntando as mensagens do baralho à história de vida e à numerologia, assim como a “outras ferramentas espirituais”. “Depois, num momento introspetivo, monto um esquema com todas as informações para as compreender”, conta. 

Antes de chegar ao desenho, Bia escolhe um dia específico para se dedicar apenas a essa pessoa. Acende velas e incenso, coloca apenas uma luz mais baixa e os traços começam a surgir “de forma muito subjetiva”. 

“Quando chega o dia de me encontrar com a pessoa, mostro todos os mapas e as artes que surgiram, porque muitas vezes há mais do que um resultado. Pode aceitar ou escolher a que prefere”, explica. “Em três anos, nunca aconteceu alguém não gostar. Até já tive casos em que nem sequer queriam ver os desenhos antes.” 

O processo criativo da artista.

A tarotuagem foi despertada por um cliente que recebeu ainda numa fase de trabalho mais comercial. “Ficámos horas a conversar porque era um desenho grande e percebi que havia muitas semelhanças. Tínhamos a mesma religião, frequentamos os mesmos lugares e, no final, tive a sensação de que podia ter feito muitas alterações no desenho que trouxe como referência.”

Essa sensação deu coragem a Bia, que já usava algumas cartas no estúdio, para aprofundar o tarot na sua arte. “Nesse dia, criei um formulário nas redes sociais a pedir às pessoas para contar as suas histórias. Tive a participação de imensas mulheres com partilhas incríveis e escolhi algumas.”

Uma das selecionadas, a primeira que tatuou com base no oráculo, era uma amiga. “Já conhecia uma parte da história dela, mas as cartas mostraram-me muitas coisas diferentes. Havia imensas questões que ela precisava de resolver, então a criação veio como um amuleto”, continua, acerca do desenho que juntava uma libélula com um caldeirão e folhas de arruda.

“Atualmente, vejo a tarotuagem como um ritual de autoconhecimento, de confiança e de passagem. As pessoas estão sempre a procurar estes processos que agregam a sua história e a sua personalidade.”

E Bia fá-lo mantendo um estilo muito próprio, “mais ornamental e simbólico”, explica. Mantém o gosto por mandalas orientais ou pequenas representações do mundo artístico, ou religioso, que surgem “de forma delicada” através de traços mais leves e finos.

Nessa altura, a artista não imaginava que iria ter tanta procura. “Quando decidi que queria sair do Brasil, comecei a fazer algumas publicações e pessoas de toda a Europa começaram a comentar. Fiquei muito emocionada”, continua, sublinhando que “é algo que vai permanecer na vida das pessoas.”

Esta resposta foi o incentivo que Bia precisou para trazer o conceito de tarotuagem para trabalho de conclusão do curso. “Percebi que a minha produção artística podia fazer parte do mundo académico. Fazer essa pesquisa deu-me muita vontade de fazer isto por muitos mais anos.”

A ideia a longo prazo, conclui, é tornar-se professora universitária e ensinar sobre arte e modificação corporal. Em paralelo, porém, quer continuar a explorar a sua criatividade num atelier privado, onde pode produzir arte (como telas, por exemplo) e tatuar pessoas “num âmbito ainda mais ritualístico”, com decoração e ambiente à sua medida.

As marcações com Bia podem ser feitas através da página de Instagram da artista. O valor da leitura de oráculos é de 50€, enquanto o valor mínimo da tatuagem é de 120€. Os preços começam, por isso, a partir dos 170€.

Carregue na galeria para ver alguns dos trabalhos da criativa.

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