Em 2015, quando a belga Sandra Remili decidiu mudar-se para Portugal por amor, a ideia de trabalhar como manicura ainda não lhe passava na cabeça. As suas unhas, porém, eram afetadas todos os dias pelo contacto diário com produtos nocivos, como aerossóis, colas e acrílicos, consequência do seu trabalho como pintora e designer industrial.
Após o nascimento do primeiro filho, há seis anos, decidiu fazer uma pausa na carreira. Motivada pela saúde do bebé, quis dedicar-se à maternidade e mudar de estilo de vida. “Ia trabalhar e passei a notar que tudo à minha volta era muito tóxico”, começa por contar à NiT.
O último alerta antes da redescoberta profissional surgiu quando engravidou pela segunda vez, na altura da pandemia. A artista de 48 anos sofreu um desequilíbrio hormonal que lhe fragilizou as unhas, causando-lhe dores persistentes durante mais de um ano.
A procura por uma profissional que utilizasse produtos éticos e sem químicos levou-a a Geisa Coelho, que se tornou a sua mentora e com quem ainda colabora. Quando esta lançou uma formação em manicura, Sandra inscreveu-se, embora sem pretensões profissionais. “Era um serviço de cuidado pessoal, o meu foco nunca foi a estética”, recorda. “Fiz o curso para mim, mas em Lisboa, esta oferta era escassa.”
Identificando uma lacuna no mercado, a antiga designer começou a atender clientes em casa e, no final de 2022, lançou o The Manitherapist, um negócio dedicado ao cuidado de unhas para mulheres grávidas ou com alergias a produtos químicos.
Atualmente, a “terapeuta das unhas” trabalha num salão clean e intimista na Avenida da Liberdade, em Lisboa, onde se especializa no conceito de manicura japonesa. Seja nos trabalhos quase impercetíveis ou nos mais elaborados, o foco está na saúde e no minimalismo.
“A minha mentora gostou muito da minha abordagem, então propôs-me patentear este gabinete há cerca de um ano e meio”, explica. “Enquanto ela trabalha noutro espaço do prédio, mais virada para a formação de profissionais, eu dedico-me às clientes.”
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O segredo japonês para unhas saudáveis
Quando Sandra começou a notar um crescente interesse pelo minimalismo, decidiu explorar novas técnicas.
Quando Sandra começou a notar o interesse crescente no minimalismo, decidiu procurar outras técnicas. Foi então que se cruzou com o conceito de manicura japonesa, também conhecida como P-Shine, um tratamento natural que promove a saúde e a estética das unhas utilizando apenas ingredientes naturais.
A lenda conta que este método já era usado no Japão há mais de quatro séculos. Conhecido como oyafukou, o ritual era usado por aristocratas que usavam ingredientes locais, esfregando-os delicadamente nas unhas para suavizar irregularidades e conferir brilho natural.
“No início, estranhei um pouco a ideia. Perguntei-me: ‘as pessoas vão aparecer para cuidar das unhas sem aplicar nada?'”, confessa. No entanto, ao investigar mais sobre esta tendência, que se tem expandido no mundo ocidental, percebeu que a procura era cada vez maior.
Sandra começou a oferecer o serviço durante o verão e, atualmente, é principal motivo para a visita de mais de metade das mulheres que a procuram. Muitas optam por serviços de coloração com ingredientes menos tóxicos duas ou três vezes e, depois, optam pelo tratamento.
A técnica não envolve a adição de qualquer comprimento adicional, nail art ou cor, sendo ideal para quem lida com unhas quebradiças ou sem vida. O resultado é sempre um acabamento brilhante e perolado, sem necessidade de usar qualquer verniz.
Entre as vantagens deste tratamento, destaca-se o brilho natural intenso, proporcionado por ingredientes como cera de abelha, queratina e óleo de jojoba, além do fortalecimento das unhas através da aplicação de pós nutritivos. Certas vitaminas também favorecem a nutrição da matriz ungueal.
A cera de abelha, em particular, é um excelente emoliente, retendo a humidade, enquanto a queratina auxilia na reconstrução da estrutura das unhas, recuperando o seu lustro. O brilho surge principalmente após a aplicação do pó.
É importante ter expectativas realistas: o método não promete o alongamento das unhas nem resultados extravagantes. O objetivo resume-se a massajar os nutrientes profundamente, tornando as unhas mais saudáveis e permitindo que brilhem de forma natural.
A duração da manicura japonesa é, em média, de duas semanas, após as quais é necessário repetir o processo ou regressar ao uso de géis, vernizes ou acrílicos. Após este período, vão manter o aspeto que tinham antes da técnica. A diferença é que vão estar muito mais resistentes.
“Encontrei muitas pessoas com alergias a componentes tradicionais ou grávidas que desejavam unhas mais cuidadas, mas que estavam receosas”, explica. “Havia uma grande procura. É essencial ter cuidado, pois as unhas são muito mais permeáveis do que a nossa pele.”
“Uma atmosfera de paz”
A primeira interação de Sandra com as clientes no salão The Manitherapist consiste sempre num diagnóstico. Mais do que um momento inicial, trata-se de uma avaliação contínua que deve ser realizada ao longo do tempo, fazendo perguntas sobre o histórico de tratamentos de cada uma.
Quanto ao espaço, foi concebido para ser o mais intimista possível. É por isso que os atendimentos só acontecem com marcação prévia, não existindo uma porta aberta para a rua. “É como se fosse uma casa”, acrescenta. “Criámos uma atmosfera de paz, uma bolha que nos dá privacidade para nos focarmos no momento.”
A especialista recorda que, ao iniciar este projeto, poucas profissionais exploravam este conceito. No entanto, notava já um interesse crescente pela compreensão dos benefícios que trazia. “Muitas delas decidiram apostar neste tipo de serviço”, continua.
Mais do que nunca, essa é uma tendência em ascensão. No entanto, a missão de Sandra continua a ser educar os portugueses sobre a importância dos cuidados com a saúde das unhas. Muitas pessoas ainda acreditam que uma visita ao salão é válida apenas para pintar ou fazer nail art. “Quero discutir outras possibilidades”, conclui.
As marcações podem ser feitas online mediante o preenchimento de um formulário. Os preços começam a partir dos 35€.
Carregue na galeria para ver alguns dos trabalhos desenvolvidos por Sandra.