Decoração

A artista que faz ilustrações em aguarela ao vivo em casamentos por todo o País

Maria das Letras tem uma equipa espalhada pelo território nacional. O momento é "um elemento de animação" que fica na memória.
A empresa tem 15 ilustradoras.

Quando visita a casa dos amigos, Maria Khaled sorri ao reparar nas molduras com ilustrações feitas no dia do seu casamento, em outubro de 2024. Convicta de que não queria oferecer aos convidados as típicas lembranças, “que acabam esquecidas na gaveta”, optou por “pequenas obras de arte”.

Esta foi a primeira vez que a artista, de 33 anos, esteve do outro lado — da pessoa cuja festa é representada e não da que cria os retratos. Apesar de ser uma experiência diferente, a sensação é a mesma. “É como se fosse outro elemento de animação da festa”, conta à NiT.

Através da empresa Maria das Letras, a criativa junta uma equipa de ilustradoras que criam pinturas em aguarela ao vivo em vários tipos de eventos e cerimónias, sobretudo casamentos. Desde 2020, já soma mais de 10 mil clientes de várias nacionalidades, espalhados por todo o País.

“Não faço ilustrações, faço as pessoas felizes” é um dos lemas da artista, que se formou em artes visuais. Quando concluiu os estudos, dividiu o seu tempo entre o trabalho como ilustradora e caligrafista, a profissão que acabou por dar o nome ao projeto.

Em 2022, descobriu um conceito que até então não existia em Portugal. Nesse ano, estreou-se num casamento com este trabalho de ilustrações ao vivo. “Os noivos viram no estrangeiro e perguntaram-nos se fazíamos. Decidimos para experimentar e a resposta foi muito positiva”, recorda.

A partir daí, Maria aumentou a equipa de ilustradoras e começou a receber marcações no País inteiro. Como já trabalhava no mundo nupcial, através da criação de objetos decorativos — como placas pintadas à mão, porta-alianças ou livros de honra — já tinha uma carteira sólida.

“Senti que as pessoas já estavam cansadas de receber aqueles presentes que, no final, vão ficar apenas guardados numa gaveta”, explica. “Além de ser uma experiência durante o dia da festa, para muita gente tem sentido dar algo que as pessoas podem ter exposto na sua casa.”

Os retratos não têm rosto.

As ilustrações de Maria tendem a ser minimalistas e focadas nos convidados. Como, geralmente, as figuras não têm rosto, tem um particular cuidado para que a forma fique igual à pessoa que inspirou o desenho, de modo a ser reconhecível. No caso da roupa, tenta puxar ao máximo pelas cores.

“Já existem vários artistas a fazer ilustrações de momentos e ambientes, mas o que os nossos noivos mais procuram são retratos dos convidados”, refere. “É o foco de 99 por cento dos trabalhos no nosso portefólio, porque isso é que se tornou uma grande novidade.”

O processo criativo acaba por ser muito intuitivo e surge do olho atento de cada artista. No primeiro casamento, recorda-se, o desafio passou por uma gestão quase matemática deste trabalho. “Tive de pensar quantos convidados tinha e, logo, quanto tempo podia dedicar a cada um. É a principal diferença em relação ao que já fazia.”

A caligrafia continua a fazer parte do portefólio, embora não seja o foco do projeto. “Quando os noivos pedem os nomes deles, por exemplo, faço questão de ser eu a escrevê-lo à mão.”

Há um desafio maior quando o dress code definido para os convidados é preto. “Arriscamos perder a identidade das pessoas”, explica. “O jogo de tons e padrões é essencial para se alcançar o objetivo, o que é extremamente difícil quando todos os convidados usam a mesma cor.”

Maria fica também a conhecer a história destas famílias. Um casamento que a marcou aconteceu uma semana após a morte do padrinho da noiva, um homem “bastante novo”, que deixou para trás uma filha pequena, com cerca de três anos. “Pediram-me para ilustrá-lo com a família. É a única recordação que têm dele na cerimónia.”

Este é um dos poucos casos que deixam as pessoas mais comovidas, juntando-se em lágrimas junto das artistas. Normalmente, “é tudo muito mais feliz”, revela. “As pessoas dizem imensas vezes que nunca viram nada do género e já fartas de ser sempre o mesmo.”

Ainda existe muita curiosidade relativamente a esta arte, então, muitos convidados juntam-se para apreciar, passo a passo, a precisão de quem está a trabalhar na pintura. Dos mais novos aos avós, todos se querem reunir à volta da mesa enquanto se veem transformados numa obra de arte.

“A maioria [dos noivos] gostam que estejamos perto dos convidados”, confessa. Em centenas de casamentos, só houve dois ou três eventos em que ficou numa sala à parte, quase como uma agente infiltrada, para ser uma surpresa total. “É difícil porque não conseguimos ter noção dos convidados que já fotografámos. Temos que voltar várias vezes à sala principal.”

 
 
 
 
 
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A par dos casamentos, a Maria das Letras trabalha em aniversários, batizados ou eventos mais corporativos. “Nunca fizemos serviços fora do País, mas estamos disponíveis”, diz. “Atendemos muitos estrangeiros na zona do Algarve, mas no resto do País são quase sempre portugueses, como emigrantes que vivem fora e vêm casar cá.”

Quando criou a empresa em 2020, ainda durante a pandemia, a fundadora começou sozinha, ainda focada na caligrafia. À medida que a procura por este serviço diferenciado cresceu, as pessoas à sua volta foram aumentando.

“As ilustradoras contratadas são sempre mulheres, afinal, é a Maria das Letras”, salienta. “Procuramos pessoas que estejam a concluir o curso, porque é muito difícil começar nesta área. Queremos que saibam que também existe emprego para elas e que não precisam de desistir.”

Atualmente, conta com 15 artistas espalhadas por todo o País, que se articulam recorrendo a um calendário partilhado. “Temos uma pessoa que gere a parte das marcações e que distribui o casamento consoante a zona da ilustradora”, refere.

Maria já tem cerca de 250 casamentos marcados na agenda para 2025. O que costuma acontecer é que, em janeiro, as datas ficam logo todas esgotadas durante as várias exposições e feiras de casamentos nas quais a empresa participa.

Para dar resposta a esta procura, o principal objetivo é continuar a aumentar a equipa e, claro, dar oportunidades a ilustradoras recém-formadas e continuar a fazer as pessoas felizes. “No final, tudo se resume às experiências que temos e não às coisas que compramos. São essas experiências que nos fizeram sentir.”

As marcações com a Maria das Letras devem ser feitas através de um formulário online. Os preços dos serviços começam nos 15€.

Carregue na galeria para ver alguns dos retratos em aguarela ao vivo.

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