A ampla escadaria irrompe pelos dois volumes da enorme moradia junto ao mar e dá acesso a um terraço que é um autêntico miradouro sobre a praia d’El Rey, em Óbidos. É a “homenagem ao mar” que a dupla de arquitetos Inês Antunes e Ivan de Sousa quiseram prestar neste projeto da [i]da Arquitectos.
Acabada de concluir, a construção da moradia arrancou em 2019, ainda no período pré-pandemia. “O cliente é uma família estrangeira que veio de férias a Portugal e se apaixonou pela zona de Óbidos”, explica à NiT Inês Antunes.
O lote com 2370 metros quadrados, quase na primeira linha de mar, foi uma descoberta quase perfeita. Quase porque as condições meteorológicas da região obrigam a algum cuidado extra e a um pedido especial.
“O terreno tem uma vista extraordinária, mas entre ele e a praia existem umas sebes que bloqueiam a vista. Por isso os clientes pediram que as zonas sociais e quarto principal ficassem no piso superior de onde se pudesse ver o mar”, explica. Assim foi.
De resto, a dupla de arquitetos teve “carta branca” para desenvolver o projeto. No lote existia ainda uma antiga moradia em estado de impossibilidade de recuperação e, portanto, acabou por ser demolida.
“É uma zona muito particular porque, ao contrário do que temos em Cascais ou na Caparica, a praia aqui está virada a noroeste, o que faz com que a vista fique um pouco armadilhada, porque sofre com os ventos intensos, a nortada”, explica. “O projeto joga com essas duas realidades: por um lado, abrir a casa à paisagem; e por outro, a necessidade de criar ambientes mais protegidos.”
E é entre estas duas realidades que nasce a dita escadaria, o momento da casa que mais orgulha os dois arquitetos. Uma criação raramente encontrada em projetos de habitação.
A casa conta com um total de 414 metros quadrados de área de construção. No piso inferior, a área técnica, um ginásio, um spa e três suites para hóspedes — resguardados das intempéries por um muro que cria uma espécie de jardim interior em cada um. O muro serve também outro propósito: o da privacidade.
A zona mais resguardada do volume inferior conta ainda com uma piscina e uma sala exterior que, no desenho, começou por ser uma sala interior. À medida que a obra avançou, cliente e arquitetos perceberam que ali poderia funcionar melhor uma área descoberta, sombreada, protegida do sol e do vento, onde existe também uma área de barbecue, lado a lado com outro pátio interior.
No piso de cima, a maior área é ocupada pela zona social, toda ela em open space, da cozinha à sala de jantar, de estar e um escritório. É também local onde se situa o quarto principal com um volumoso closet. A unir os dois pisos, mais uma adição pouco usual: um elevador.
A proximidade ao mar e à falésia inspirou também a escolha dos materiais, neste caso um “porcelanato de cor de areia” que reveste todas as áreas, de pavimentos a fachadas e até ao interior. “Queríamos desenhar estes espaços com o mesmo material, dar uma sensação de continuidade, quase como se fosse uma falésia esculpida — como se estivéssemos a trabalhar a própria falésia.”
A área da piscina acabou por ganhar mais alguns detalhes, com círculos de diversos materiais e um yin yang magicado pelo jardineiro. Mas de todo o imponente projeto, a dupla de arquitetos continua a eleger a escadaria como o grande ponto angular da casa.
“É a escadaria que dá força, que emoldura a vista do oceano. Não é muito usual ver uma casa com uma escadaria destas — e na verdade, é o que o cliente também mais gosta.”
Carregue na galeria para ver mais imagens desta magnífica obra de arquitectura.