Decoração

A casa de xisto nas montanhas que se transformou num bonito refúgio sustentável

O edifício com 30 anos estava repleto de problemas. A recuperação reimaginou a casa com materiais naturais da região.
Fica em Arouca.

Os sinais de desgaste foram apenas o primeiro sinal da passagem do tempo na casa de xisto que, embora estivesse bem integrada na envolvente da povoação de Canelas, em Arouca, se revelou demasiado fechada ao exterior. A luz era escassa e os espaços estavam também eles pouco aproveitados. Apesar dos vários problemas, os arquitetos e os clientes, um casal norte-americano que procurava um estilo de vida mais saudável e pausado, reconheceram logo o potencial do imóvel.

Kelli e Matt tinham o hábito de passar férias na região, entre rios e montanhas, até que se decidiram mudar permanentemente. Localizada nas montanhas do norte de Portugal, a estrutura com mais de 30 anos deu origem à sua nova casa de xisto com 230 metros quadrados. O objetivo era transformar a habitação num “refúgio autossuficiente” que, ao mesmo tempo, a modernizasse e mantivesse a essência original.

“O edifício foi construído numa altura em que havia menos exigências de conforto térmico, então havia várias limitações”, explica à NiT o arquiteto Paulo Carneiro, fundador do CAS Studio Architecture com Alina Jerónimo, ao mesmo tempo que destaca este “desafio com potencial”. 

Entre os principais problemas, térmicos e estruturais, repararam imediatamente nas paredes pouco espessas da estrutura, a falta de isolamento térmico e de ventilação e a falta de impermeabilização, em algumas pendentes do terreno na encosta, e ainda a pouca ligação entre os espaços interiores e exteriores.

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“A cozinha não comunicava com a sala e a casa não estava virada para o pátio central, que tinha um potencial enorme”, acrescenta. “Os quartos estavam ligados entre si, mas não havia nenhum vão. O que fizemos foi trabalhar com o que tínhamos para reabilitar o edifício.”

Após ampliarem ligeiramente o espaço, com a criação de uma varanda junto à sala de estar, eliminaram várias paredes que impediam a continuidade especial nas áreas sociais. O novo desenho passou a interligar divisões anteriormente isoladas.

Além disso, o pátio central, que raramente era utilizado devido à exposição direta ao sol, passou a ser uma peça central no projeto com a eliminação de uma parede que criou uma abertura. “Construímos uma pérgola com a qual podemos abrir os vãos da sala para o pátio, o que faz com que, a partir da sala ou da cozinha, se possa ver toda a paisagem, incluindo as montanhas.”

Na articulação central dos pisos superiores, também saltavam à vista aberturas que resolviam alguns dos problemas. Como estavam fechadas com paredes ou eram vãos de janelas fechados, acrescentaram caixilharias transparentes para melhorar a entrada da luz e a ventilação natural.

A moradia nasceu a partir de materiais naturais e de base biológica, como a madeira, a cortiça, o cal ou a pedra, assim como os móveis de madeira feitos à medida, em destaque no interior. Mais do que um desenho que respeitasse a floresta circundante, os arquitetos queriam um refúgio sustentável.

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O uso destas matérias-primas, incluindo a pedra da região onde está o projeto, permite que a libertação de CO2 seja quase nula. O facto de não serem tóxicos e de terem uma baixa pegada carbónica era importante para o casal pelo facto de terem filhos.

Nesse sentido, como “a casa se implanta numa zona afetada pelas alterações climáticas”, foi instalado ainda um sistema de recolha de águas pluviais e um sistema de fornecimento de energia através de painéis fotovoltaicos. Por fim, juntaram-se dispositivos térmicos de alta eficiência para melhorar a gestão de água e energia.

Combina também sistemas de baixa e alta tecnologia com princípios bioclimáticos passivos e ativos. Esta intervenção otimiza a luz e a ventilação natural, equilibrando sol e sombra para maior conforto e integração com a envolvente.

Apesar das exigências do projeto, o projeto foi elaborado de forma rápida, em cerca de cinco meses, com início em agosto de 2022. A obra começou em janeiro de 2024, tendo os trabalhos sido concluídos em setembro.

A equipa orgulha-se de “um processo de relação holístico”, entre os habitantes e a natureza, tal como o casal desejava. Entre rios, passadiços e montanhas, Canelas ganhou um edifício que, à semelhança de outros projetos do CAS Studio Architecture, vive da mestria das matérias-primas da região em que se insere.

Carregue na galeria para ver mais imagens da reabilitação da casa de xisto do fotógrafo José F. Costa.

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