Decoração

A inesperada casa no Cartaxo que funde arte e arquitetura

Nasceu da renovação de uma moradia. Hoje em dia serve de residência e ateliê para artistas.
(Foto: Francisco Nogueira)

Ao contrário do que é habitual, a intervenção do arquiteto Duarte Caldas, do estúdio DC.AD, começou ainda antes de haver um espaço de construção. O projeto chegou-lhe às mãos em 2019, por via de um cliente que pretendia deixar a confusão da capital e refugiar-se numa zona mais periférica. Trazia consigo algumas exigências particulares.

Artista de profissão, necessitava de mais do que uma moradia. Era necessário espaço para um ateliê, bem como alguns quartos para acolher residências artísticas. O arquiteto do projeto envolveu-se assim logo no processo de escolha do local perfeito e que permitisse não só cumprir as exigências, mas fazê-lo mediante “uma grande contenção de custos”. Terminada em 2021, foi batizada de A Saramaga, como “homenagem uma ex-parteira da cidade” — e cuja imagem “foi assumida pela comunidade local como símbolo do nascimento e da celebração da vida”.

Foi no Cartaxo que se encontrou o espaço ideal para um projeto que, também para reduzir custos, procurou fugir à construção de raiz. “Os preços estavam desmaiado elevados para construção de raiz e percebemos que seria mais vantajoso adquirir algo já existente. Este era um espaço com cerca de 500 metros quadrados de área e que continha vários conjuntos separados, mas dentro do mesmo terreno. Era perfeito para o que o cliente procurava.”

Eram edifícios residenciais, separados em três espaços, construídos em 2005. Para lá das paredes e estruturas, pouco ou nada foi mantido. “Não víamos as qualidades arquitetónicas do espaço como suficientemente interessantes para manter”, frisa o arquiteto.

Assim, a área mais extensa e mais nobre foi alocada à residência que inclui quatro suites. Outro espaço foi transformado num T2, a poucos metros do local que serviria de ateliê. Tratou-se, explica, mais de uma renovação que implicou “uma limpeza e uma depuração das fachadas” para “remover tudo o que era excessivo”.

No interior foi mantida toda a estrutura de distribuição, com exceção à enorme sala em open space, que obrigou à demolição de duas paredes para permitir a ampliação para uma cozinha. Depois foi um trabalho de visão, de cor, de texturas e de materiais.

(Foto: Francisco Nogueira)

“Queríamos que a zona social ficasse na parte mais interessante da casa. Quisemos dar mais valor às áreas sociais”, conta. A sala de teto alto é quebrada também com quatro volumosas vigas de madeira que “proporcionam uma escala mais acolhedora e suportam as claraboias que trazem a luz natural”. Surgem em contraste com os tetos mais baixos da zona privada dos quartos.

Para cortar nos custos, decidiu-se ainda abdicar do habitual reboco das fachadas. “O que fizemos foi usar uma tinta de areia muito texturada. Foi um dos exercícios de contenção, até porque havia muita área de parede para revestir”, conta o arquiteto. “A decisão acabou por funcionar a nível estético, porque o interior da casa ficou muito texturado, orgânico, capta a luz de uma forma muito especial.”

Nos pavimentos interiores, aplicou-se um microcimento que se prolonga por toda a casa “para dar uma sensação de continuidade”, o que levou a que chegados ao exterior, se reafirmasse a ideia com um betão armado e afagado. Já nas casas de banho, houve um jogo cromático que levou a que cada uma tivesse uma cor distinta, com pedras diferentes para lhes dar “uma identidade própria”.

Neste jogo de cores, definiu-se também o exterior. “Cada volumetria tem a sua tonalidade. Essa concepção cromática exterior transparece para o interior e cria momentos de intensidade diferentes entre paredes beges e brancas, o que traz uma dinâmica cromática especial para dentro da casa.”

Depois foi uma questão de usar o sentido estético de arquiteto e cliente/artista para finalizar os pormenores que enriquecem o projeto, com as tonalidades e texturas mais neutras a dançarem com o colorido de obras e de peças de mobiliário, entre a enorme mesa de mármore travertino vermelha e pinturas que pontuam a decoração.

É precisamente esse trabalho conjunto que Duarte Caldas destaca. “Houve uma simbiose entre o nosso trabalho, o respeito do cliente pelas nossas escolhas e a apropriação que ele fez da casa”, explica. “Foi o mais especial em todo o projeto.”

Carregue na galeria para ver mais imagens desta casa de sonho no Cartaxo.

ver galeria

ÚLTIMOS ARTIGOS DA NiT

AGENDA NiT