Decoração

A vivenda familiar de 700 metros quadrados em Aveiro que “parece um hotel”

A fachada é o grande destaque do refúgio construído num terreno ao lado da EN109. O resultado é uma obra de arte.
Os clientes sabiam o que queriam.

Quando a arquiteta Maria Fradinha visitou o terreno, não escondeu o choque. Desafiada para erguer uma moradia em Aveiro, perto da Estrada Nacional 109 (EN109), pensou logo nos constrangimentos que iria encontrar. O movimento, o ruído e a dimensão do lote entravam em conflito com o tipo de construção idealizada.

Apesar da hesitação, os proprietários não desistiram da ideia. “Era um antigo espaço agrícola que pertencia à família e que tinha muito valor emocional”, explica à NiT a responsável do atelier Frari. “Era muito próximo do sítio onde moravam, já estavam habituados à zona.”

O casal queria transformar este local inesperado num refúgio que os recordasse das férias. Tinham até imagens dos hotéis que já visitaram para incorporar algumas dessas referências. “Queriam uma sensação de relaxamento que era antagónica aquela realidade”, acrescenta.

É numa zona muito movimentada da freguesia de Calvão, em Vagos (Aveiro), que a Casa 109 começou a ganhar forma. Descrita como “simples e sólida”, a moradia com 700 metros quadrados destaca-se pela fachada curva e pela frente virada de costas para o arruamento principal.

O formato curioso do terreno “permitiu uma distância aceitável para o logradouro e garantiu a orientação solar ideal”, para proteger o grande envidraçado. Não se tratou de uma escolha estética, mas uma solução funcional para garantir a privacidade.

Casa 109 em Ovar
Houve vários desafios.

“O terreno tinha profundidade, mas não largura. Dada a dimensão da casa que queriam, tínhamos de ter um volume grande voltado para uma zona onde a largura não o permitia”, acrescenta. “O efeito curvado permitiu proteger a zona central dos edifícios da poluição das vistas.”

Neste projeto, assumidamente horizontal, a fachada frontal torna-se cega e todos os ambientes se abrem para o exterior — através do alpendre, no piso térreo, ou de uma varanda. São estes elementos que “permitem que o volume se estenda além dos seus limites”, sublinha.

Um refúgio para toda a família

Vista de fora, a casa é marcada pelo contraste entre a estrutura branca e o tom escuro do piso térreo, proposto pelo estúdio. O contraste serviu “não só para recuar os limites das fachadas”, explica a arquiteta, mas também permitiu “que a área dos quartos, situada no segundo andar, flutuasse”.

No estudo prévio, a proposta passava por painéis com relevo. Porém, “por questões logísticas”, optaram por manter a simplicidade da cor lisa, com a caixaria especificamente escolhida pelos clientes, duas pessoas ligadas à indústria dos materiais de construção.

No interior, os proprietários queriam tons mais neutros e sóbrios, optando pelo creme nos pavimentos e o branco nas paredes. A paleta é complementada pelo tom das madeiras que dão às divisões um aspeto mais natural. “A utilização destas matérias-primas foi importante para criar conforto.”

Após várias discussões, concordou-se em fazer da cozinha o destaque central da casa. “Era importante ter esse espaço de convívio”, refere. “A sala de jantar e a cozinha fluem para receber as pessoas, mas queriam que essa área fosse mais protegida para não chocar com a restante área, salvaguardando as filhas.”

O projeto foi idealizado a pensar no agregado familiar do casal, na casa dos 50 anos, já com duas filhas na universidade. “Pensaram num espaço no qual as podem receber aos fins de semana ou quando constituírem família.”

O interior visa o conforto.

Todos os quartos são suítes com um pequeno closet. “Havia interesse na separação física entre a ala dos pais e das filhas, porque queriam dar aquelas pessoas adultas alguma autonomia”, continua. No caso do quarto dos pais, havia uma série de requisitos como um closet maior, uma sala com jacuzzi e uma marquesa de massagens.

Concluída em 2023, a obra levou cerca de seis anos a estar concluída. Foi um dos poucos projetos em que Maria Fradinha não teve um orçamento ou uma baliza de preços. “São duas pessoas realizadas que queriam fazer a melhor casa possível, mas ao melhor preço possível.”

E, de facto, afirma que não ficou barata. Ainda assim, embora não divulgue o valor final exato, diz que ficou abaixo do milhão de euros. A redução nas despesas foi possível devido a contenções na escolha dos cerâmicos para o revestimento ou das peças sanitárias, por exemplo.

Apesar da localização num “terreno confinante à estrada nacional”, o pequeno oásis está abrigado do tráfego industrial intenso. Do rigor pela forma aos grandes envidraçados, todos os detalhes foram pensados para unir o interior e o exterior.

Os detalhes refletem o estilo de Maria, muito inspirado em questões formalistas. Contudo, a arquiteta prefere olhar para o resultado de outra forma. “O trabalho é feito em função da pessoa que tenho à minha frente e da sua realidade. Quando olho para casa que desenhei, o que vejo ali são os clientes”, conclui.

Carregue na galeria para ver mais imagens da Casa 109 com assinatura do fotógrafo Ivo Tavares.

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