Decoração

Ana Seixas, a artista que transforma ilustrações em cerâmicas com personalidade

Criou um mundo com cores alegres, formas originais e personagens caricatas. Tudo é feito à mão no seu atelier no Porto.
É natural de Viseu.

Os tradicionais bonecos de Estremoz, que decoravam os vários cantos da casa onde cresceu, em Viseu, são uma das primeiras recordações de Ana Seixas da cerâmica. Como os pais colecionavam vários tipos de figurado de barro, em tons vivos e alegres, com detalhes mais ou menos expressivos, não demorou muito até que quisesse criar as suas próprias personagens.

Foi mais tarde, durante uma aula, no sexto ano, que teve o primeiro contacto com o barro. O professor desafiou a turma a criar uma escultura e a jovem, que absorveu todo esse imaginário, não tinha dúvidas: o que gostava de fazer era criar objetos e formas com as mãos.

Apaixonada por artes, licenciou-se em Design, na Universidade de Aveiro, antes de embarcar numa pós-graduação em design editorial na EINA, em Barcelona. Pouco depois, em 2012, especializou-se em ilustração para publicações infantis e juvenis, na mesma cidade, área à qual se dedicou nos primeiros anos.

“Comecei a ter interesse pela ilustração após conhecer algumas pessoas que trabalhavam nessa área. Quis entender a disciplina”, recorda à NiT. Após a formação, durante vários anos, dedicou-se a esta vocação não só na área editorial, mas também em publicidade, revistas e jogos.

Aos poucos, o mundo a cores de Ana Seixas voltou a encontrar-se com o barro. Atualmente, a artista aposta nos mesmos tons vibrantes e formas ousadas para transformar os seus desenhos em peças de cerâmica, muitas delas com personagens caricatas, que cria no atelier perto da Avenida dos Aliados, no Porto.

Estes objetos, tão funcionais como decorativos, juntam-se ao vasto catálogo que também vende online. Pins, agendas, livros, calendários ou impressões digitais destas ilustrações são alguns dos outros artigos que pode encontrar por aqui, sempre com o traço tão característico da artista.

“Há cerca de seis anos, comecei a frequentar um estúdio de cerâmica, no Porto, e a partir daí comecei a fazer de forma mais recreativa, para passar o tempo”, explica. “Como já tinha uma linguagem tão definida, estas personagens começaram a passar naturalmente para o que fazia.”

A ilustração foi a primeira paixão.

O estilo animado de Ana evoluiu ao longo dos anos, mas o uso da cor e as geometrias estiveram sempre presentes. “Existe uma capacidade de adaptação consoante o projeto, mas há necessidade de termos a nossa própria identidade, para o trabalho ser reconhecido”, diz à NiT.

Quanto ao processo criativo, explica, é sempre intuitivo. Antes de começar uma peça nova, não costuma fazer esboços. Só após várias tentativas e alguma experimentação é que decide como é que a peça irá ficar. “Se gostar do resultado durante a criação, continuo.”

Das pequenas bananas famintas aos gatos bebés, passando pelas esculturas de “pessoas intrometidas” — cada uma com um nome —, a inspiração das personagens surge, muitas vezes, no mundo infantil, como brinquedos, jogos ou personagens dos livros que Ana coleciona.

“Gosto de juntar estas obras desde que era pequena. Tenho uma pequena biblioteca de livros ilustradas, tanto portugueses como estrangeiros”.

As publicações infantis, como as assinadas por Dick Bruna ou publicações pop-up russas, juntam-se a outras figuras de barro, desde as mais tradicionais em madeira aos bonecos Pinypon.

As peças são feitas com grés, pintado com giz de cera ou vernizes de cerâmica, assim como uma camada de esmalte transparente, para um acabamento brilhante. Todas são criadas à mão, tornando-as únicas, já que contam sempre com diferentes tamanhos, cores e outras características.

Em média, entre a modelagem e as idas ao forno (duas vezes, onde passam dois dias inteiros), a artista demora duas a três semanas para concluir cada encomenda. “Pode depender se chove ou não. Há outras peças que ficam à espera do momento em que lhes pego e acabo.”

Quanto à possibilidade de personalização, explica, não fecha essa porta. “Permito-me avaliar. Se for algo mais escultórico, talvez faça sentido. Quando são peças únicas, habitualmente não faço”.

O processo é intuitivo.

Um mundo a cores

O atelier, que inaugurou em 2020, é um reflexo do imaginário que tem construído. É no espaço de 70 metros quadrados, onde trabalha, expõe e vende as sua criações, entre as cores das ilustrações nas paredes e muita natureza, presente nas pequenas plantas ou dos móveis de madeira.

Antes de abrir portas na Boavista, passou por vários espaços de coworking. O primeiro foi em Barcelona, onde trabalhou como freelancer durante seis anos, antes de voltar para Portugal e fazer a transição do design para a ilustração. “Mudei-me para uma loja própria assim que foi possível.”

O atelier é inspirado num quarto de brinquedos, com cada artigo a desempenhar um papel específico. “A minha ideia era ter uma morada onde as peças estivessem visíveis, que fosse, em simultâneo, um local de exposição e de venda. Era importante que refletisse a minha identidade.”

Nas prateleiras destacam-se alguns bestsellers como os candeeiros Good Friend, que são um sucesso entre os mais novos. Em vários tamanhos e cores, estas figuras sorridentes “têm uma personalidade muito própria e fazem parte do dia a dia dos miúdos”, acrescenta.

Os clientes gostam ainda das pequenas esculturas das bananas famintas e dos pássaros pendurados, tão associados à cultura portuguesa. “Entendi que muita gente faz a ligação às andorinhas que as famílias costumavam colocar nas paredes das casas.”

Embora seja habitual trabalhar por coleções, também lança peças de forma isolada, sobretudo quando são mais escultóricas, mesmo que nem sempre tenha tempo para explorar esse lado. No caso das linhas fixas, vai variando consoante a época e a procura dos clientes, aumentando a oferta em cores e tamanhos.

A loja é super colorida.

Durante este percurso, um dos projetos que mais a orgulha foi uma moeda comemorativa que desenhou, em 2023, para a casa da moeda, para celebrar o centenário da Federação de Patinagem de Portugal. “Sempre gostei de ver e acompanhar [a modalidade], então foi muito interessante.”

Se há cerca de um ano ainda dizia que se sentia mais ilustradora, agora coloca a cerâmica em primeiro. A maior parte do seu tempo é passado à volta do barro e, confessa, é a criar estas figuras que mais sente prazer.

Embora esteja satisfeita com o projeto, a artista gostava ainda de explorar propostas mais escultóricas. Pelo caminho, quer trabalhar outros materiais — como tapeçaria ou azulejos — e encontrar novas formas de passar a ilustração para outros suportes.

Todas as propostas de Ana Seixas estão disponíveis para encomenda no site da artista. Existem artigos a partir dos 3€ e o preço das cerâmicas começa nos 20€.

Carregue na galeria para conhecer algumas destas criações.

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