Sem qualquer formação na área do design ou da arquitetura, Cristiana Costa optou por criar sozinha a sua casa de sonho. Quando os desafios do mercado imobiliário a levaram até um T3 construído em 1973, totalmente degradado, a jovem de 31 anos renovou o espaço em Almada a partir do quase zero. A história da remodelação tornou-se tão cativante que, neste momento, mais de 20 mil pessoas acompanham a transformação na página de Instagram, “The First Floor by Cristiana”.
O sonho de adquirir um imóvel foi motivado por um infortúnio. Em 2018, vivia num T0 em Lisboa, e as rendas já se encontravam inflacionadas. “Vivia sozinha e, quando o meu senhorio disse que a despesa ia passar para 600 euros, achei que tinha de desistir. Percebi que estava na altura de dar este passo”, conta à NiT.
Uma pesquisa pelas oportunidades na capital levou-a até espaços que, além de pequenos, eram dispendiosos. Quando já estavam renovados, o valor ainda era mais alto. Na altura, a publicitária natural do distrito da Guarda ponderou começar noutro lugar.
“Diziam para tentar na zona de Almada”. Nessa altura percebeu que, apesar de degradadas, as habitações na zona tinham áreas maiores e o investimento, a longo prazo, seria mais vantajoso do que comprar um espaço moderno. Mas não avançou — até que, quando já estava a pensar em desistir, e alugar um quarto, apareceu a oportunidade de comprar uma casa onde reconheceu logo potencial, no mesmo ano.
“O chão não se aproveitava”
O T3 em questão, da década de 70, não tinha tido qualquer tipo de intervenção e Cristina recorda-se da reação apavorada da família. “O chão não se aproveitava e tinha que voltar a fazer a canalização. Mas, mesmo que fosse antiga, tinha muita luz e divisões amplas”, além do preço de mercado ter sido convidativo.
Na altura, terminadas as principais mudanças, o orçamento ficou a rondar os 20 mil euros. Cristiana recorda-se que “havia apartamentos na mesma zona por volta dos 130 mil”, mas como fez muita coisa com as suas próprias mãos — da pintura das paredes ao arranjo das portas —, investiu mais na questão da canalização e nos problemas de eletricidade. Precisou ainda de colocar um pavimento e janelas novos.
A cozinha foi a zona mais transformada e, ainda hoje, continua em páginas de revistas internacionais. “Era muito pequena, porque tinha uma parede, então a área total era de 10 metros quadrados. Com um arquiteto, percebi que era possível mandar a parede abaixo e fazer um open space”.
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Quanto à planta, a residência tem uma varanda exterior, entre a suite e um quarto de visitas, e uma varanda interior, do lado da cozinha. Apesar da tipologia, Cristiana ainda fez mais uma divisão que não existia: “Na suite, além de ser um quarto gigante, tinha um roupeiro minúsculo. Vi a oportunidade de fazer uma casa de banho ali dentro. Como a habitação já tinha duas, uma delas passou a lavandaria”.
Cada divisão mistura o estilo industrial, que sempre apaixonou a fundadora da página, com um gosto mais escandinavo. “Adoro misturar estilos, é o que mais me caracteriza”, explica, sublinhando que peças vintage e com história também fazem parte da decoração. “Mas sempre tive um estilo mais masculino e as pessoas achavam que era um homem por trás da página”.
Ao todo, além das varandas, o espaço soma dois quartos, uma lavandaria, duas casas de banho, uma sala, uma cozinha e um escritório. Existe ainda um hall de entrada que une a planta: “Quando entrei, só pensei que queria viver ali e nem tinha noção das complicações”.
Durante as obras, foram vários os desafios que teve de enfrentar — como uma inundação provocada por um empreiteiro, quando ainda não tinha pavimento ou as avarias nos eletrodomésticos pelo trabalho elétrico não ter ficado bem feito.
“Outra situação, sendo mulher, é que fui maltratada durante todo o processo, ao ponto de ter pessoas aos berros a dizer para arranjar um homem. Tive que terminar a obra por mim própria devido a estas situações”.
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O sucesso digital
Cristina explica que “tudo começou como uma brincadeira” e, sem dar isso, já tinha pessoas a tentar encontrar o apartamento onde vive. “Lembro-me e ver algumas páginas de decoração e achei piada. Como sou da Guarda, e a minha família não podia acompanhar o processo, pensei em apostar numa página mais pessoal no Instagram”, explica.
No entanto, a conta era pública e o conteúdo deixou de ser restrito para um pequeno grupo de pessoas. Cada vez mais pessoas, que estavam a passar pela mesma situação ou que queriam comprar casa, começaram a encontrar a conta: “Decidi ajudar outras pessoas”.
A página foi crescendo e, com o eclodir da pandemia, aconteceu o grande boom. Nesta fase, tirou ainda um curso de design de interiores, para desenvolver projetos para eventuais clientes. A criadora acabou por regressar ao seu trabalho e, apesar de ser difícil gerir tudo, continua a apostar neste projeto como um segundo trabalho.
“Ainda há muita coisa que quero fazer e vou mostrando aos poucos, mas é uma obra on going. As coisas têm de ser feitas aos poucos”, conclui. “A minha sala de jantar vai levar uma remodelação este ano e, como acabo sempre por fazer algo novo, arranjo conteúdos diferentes”.
Carregue na galeria para ver a transformação, começando pelas imagens do estado anterior à remodelação.