Quando foi construído, no início dos anos 40 do século XX, este edifício no topo da encosta, sobre a vila de Paredes de Coura, foi criado para ser uma farmácia. Durante vários anos, tornou-se um símbolo da região graças à aparência senhorial da arquitetura, inspirada no estilo Art Noveau.
No entanto, ao longo do tempo, foi sofrendo várias alterações. “Quando deixou de ter a função original e passou a ser usada para habitação, foi-se reorganizando e adulterando consoante as necessidades”, conta à NiT o arquiteto Tiago Sousa. “As alterações não tinham em vista o conforto, a temperatura ou a relação com o exterior.”
Nas primeiras visitas à moradia, o criativo assinalou logo vários problemas. “Não tinha uma área social e era muito dividida”, recorda, acrescentando que a habitação só tinha um acesso, virado para a estrada nacional. Tornou-se urgente repensar a funcionalidade e a organização do espaço.
Atualmente, o edifício está irreconhecível. Para manter os traços elegantes da arquitetura original, Tiago construiu a fachada ao redor de um arco central, que dá nome ao projeto — Casa Arco — e transportou essa identidade para o interior, através uma escada suspensa que segue as curvas das arcadas.
A moradia foi dividida em três andares. É no piso central que o arco não só recebe as pessoas, mas divide, sem compartimentar, a sala de estar, a cozinha e a sala de jantar através de espaços interligados. “Sempre achei que devia ser capaz de acrescentar esta imponência”, diz.
Enquanto no piso inferior foram colocados os quartos, “numa zona mais baixa, escura e aconchegada”, em cima surge uma zona com uma claraboia “com vista para o infinito”, como o arquiteto diz em brincadeira com os clientes. O objetivo foi devolver a essência que o edifício perdeu ao longo das décadas.

“Fiz uma análise sobre aquilo que é importante como memória e, a partir daí, fiz todas as intervenções para que se diferenciasse do que já existe”, continua Tiago, que destaca outras alterações necessárias, como a criação de uma proteção no alpendre para uma zona de estar, por exemplo, melhorando a relação entre o interior e o exterior.
A habitação foi adaptada aos dias de hoje, mas nem por isso deixou de resgatar a imponência da fachada, marcada pelos vãos generosos, ornamentação em cantaria e as influências Art Nouveau. Já no interior, a escada suspensa é outro dos destaques que trazem fluidez e harmonia às divisões.
“A cliente procurava uma cor leve e clara porque, no início, quando se entrava, era muito sombria e escura. Diziam-me que era uma casa triste e queriam viver numa casa alegre”, refere. Decidiu apostar na madeira e numa paleta simples para criar espaços mais amplos e iluminados.
Apesar das dificuldades da reabilitação, como gerir o orçamento ou “conciliar as áreas necessárias com o espaço disponível, o projeto ficou concluído em 2024, melhorando o ritmo entre as diferentes áreas. “Temos que nos deixar surpreender pelo que a estrutura nos permite fazer.”
“O objetivo com esta obra era marcar uma era. Daqui a muitos anos, vamos estar a falar sobre uma reabilitação que fizemos e será esta”, conclui Tiago. Esta intervenção tem particular impacto não só para o arquiteto, mas também para toda a vila, cuja paisagem é agora visível a partir de todos os espaços.
Carregue na galeria para ver mais imagens da Casa Arco. As imagens são do fotógrafo Ivo Tavares.