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Decoração

A casa de azulejos nas falésias da Azóia que se confunde com a paisagem

O projeto de renovação transformou três volumes distintos numa moradia contemporânea. A obra é uma extensão da paisagem.

Numa das primeiras visitas a uma antiga moradia dos anos 50, João Tiago Aguiar reparou no potencial da localização, que até então não estava a ser aproveitado. “Havia quartos que tinham janelas viradas para uma lateral, sem vista. Outros estavam virados para as traseiras”, recorda à NiT o arquiteto.

Após o projeto de renovação, todos os espaços privados passaram a ter “uma vista simpática” para o mar que a rodeia. Localizada num promontório sobre as falésias da Azóia, em Sintra, foi transformada não só para que se fizesse valer da paisagem, mas para que confundisse com a envolvente. 

A construção original, composta por um moinho de vento e três volumes interligados, “com geometrias distintas”, obrigou a uma “intervenção complexa”, segundo o criativo. “Intersectavam-se num volume no meio, uma espécie de sala de jogos, mas estava a falhar da ligação das fachadas.”

Uma das primeiras alterações foi na alteração da paleta de cores, sobretudo no exterior. A moradia branca foi revestida com azulejos artesanais, bidimensionais e tridimensionais, concebidos pela ceramista MAVC. Esta aplicação em tons de azul e verde não só pretendia evocar o movimento do mar, como estabelecer continuidade com a vegetação e o mar.

“Fomos buscar tons que ajudassem a que a casa simulasse que faz parte da paisagem, não se querendo destacar. A intenção era quase diluir”, acrescenta. “Queríamos que o terreno fosse marcado pela ausência e não pela presença.”

A mesma premissa foi transporta para a piscina, uma área em que a “arquitetura desaparece na matéria do lugar”, segundo o gabinete de arquitetura.

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A cal pigmentada, na cor da pedra do Cabo, também foi escolhida a dedo, surgindo na cobertura, nas fachadas e nos alçados superiores. Mais uma vez, havia uma necessidade de criar uma ideia de continuidade entre a casa e o solo da zona.

“Foi pintada com uma tinta própria. O material usado é à base de cal para ser uma cor lisa, sem qualquer textura”, continua, recordando que originalmente a obra “fazia lembrar uma casa tradicional portuguesa alentejana” e, por isso, houve intenção de remeter um pouco para essa vivência.

No interior, optou-se por uma seleção de materiais mais nobres, sendo que o  Azul Macaúbas, “uma pedra rara e intensamente expressiva”, assume o papel de elemento condutor. Ainda assim, predominam tons mais neutros que também estabelecem uma relação com o exterior.

A composição dos alçados foi reformulada, assim como a distribuição do programa. A cozinha, anteriormente isolada, foi incorporada nas zonas sociais, tornando-se parte da vivência quotidiana e mantendo uma relação com o oceano. Já no piso superior, os compartimentos foram reorganizados para transformar três quartos em duas suítes generosas e luminosas.

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“Não foi tudo abordado da mesma madeira”, segundo o arquiteto, que recorda que havia pavimentos que estavam em pior estado. No caso da zona social, foi possível aproveitar o chão, prolongando-o para a cozinha que existia. 

A intervenção mais densa, segundo o arquiteto, acontece no volume central, onde se apostou num “corpo envidraçado, construído com vidro de alta reflectância”. Esta opção permitiu criar “uma presença silenciosa” na residência, além de espelhar a paisagem no interior.

Já a antiga sala multiusos, “ganhou uma nova materialidade” através das tonalidades rosadas, também extraídas da pedra do Cabo. Estes apontamentos dialogam com as carpintarias, desenhadas à medida para a família, que detém a propriedade há 30 anos, e mosaicos hidráulicos.

“É uma família muito grande, com vários filhos, e recebem muita gente. Estão sempre a ir e vir pessoas”, explica João Tiago. “É fluido, mas tem de ser privado ao mesmo tempo. A missão foi misturar um pouco estas esferas, porque era essencial haver zonas que as pessoas entendam como apenas suas.”

No fundo, este projeto é o reflexo daquilo que é o trabalho do atelier. “O uso do cerâmico é algo que nos é muito importante e bastante próximo da nossa cultura. Gostamos muito de usar técnicas semiartesanais”, confessa, acrescentando que há sempre um toque contemporâneo. 

Carregue na galeria para ver mais imagens da casa Azóia AP. As imagens são de Francisco Nogueira.

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