“Acredito na arquitetura apenas como um espaço contentor, mínimo, em que depois as pessoas vão carregando marcas e memórias.” Foi com essa filosofia que José Carlos Nunes de Oliveira, arquiteto da NOARQ, abordou o projeto que lhe chegou às mãos em 2016 e que ficaria concluído em 2022 — a casa MTMG.
O pedido inicial do cliente revelou-se desafiante, menos em termos de desenho e construção, mas mais em termos filosóficos. “O pedido era o de uma casa com cerca de 800 metros quadrados de interior, uma casa totalmente especial porque nunca tinha feito uma casa desta dimensão”, nota à NiT. “Custa-me até fazer casas tão grandes do ponto de vista da minha exigência ético-social. Uma pessoa pode viver em muito menos espaço comodamente.”
Uma das grandes responsáveis por esta área incomum foi a piscina, que se queria interior, para que possibilitasse o uso ao longo de todo o ano. Com cerca de nove metros de comprimento, revelou-se um desafio também técnico para conjugar as temperaturas altas, problemas de condensação e de materiais.
“Nunca é fácil”, confessa o arquiteto responsável pelo projeto. A casa familiar começou por ser imaginada toda ela num só piso, mas foi moldada à exigência do cliente, que pedia uma zona privada separada da área social, elevada num primeiro piso direcionado para a igreja da Nossa Senhora da Assunção, em Santo Tirso.
“A casa foi concebida como se fosse uma folha de papel a dobrar-se e a recortar-se. É uma maquete que se faz apenas com uma folha de papel e com um tesoura”, explica. “Dobrando a folha, constitui-se aquele perfil e, com uma data de dobragens e pequenos cortes e incisões, permite-nos ir fazendo outras dobragens. É um processo de sintetizar a forma a partir do mínimo.”
Instalada num terreno com um total de 13 mil metros quadrados, a casa inclui uma área interior de 882 metros quadrados, dos quais 590 fazem parte da área social. No piso superior, os três quartos espalham-se ao longo de 212 metros quadrados de área.
Linhas simples, madeira, mármore, uma palete de cores reduzida. Mas uma das marcas deixadas pela filosofia do arquiteto reflete-se nas escadas que ligam os dois pisos. “Fizemos a escada como se fosse apenas o seu revestimento. Dar essa área visual de conforto psicológico a quem está no hall de entrada”, explica sobre a opção.
“Procuramos fazer uma série de desenhos síntese e, por redução, ir até ao limite de cada um deles. Quando fazemos este exercício contínuo de ir reduzindo, reduzindo, até se chegar aos elementos sine qua non que já não é possível tirar mais ao que já existe”, refere. “Há aqui conteúdos altamente diferenciadores mas pela sofisticação com que são construídos, pelo seu minimalismo, pela sua redução, para que daí emane o silêncio necessário que a arquitetura deve constituir.”

Apesar de confessar que o terreno permitia “espaço para tudo”, opta sempre, por sua filosofia própria e pelo do seu ateliê, por uma visão mais simplificada. Isso reflete-se, desde logo também nos materiais escolhidos.
“Apenas considero os materiais que sejam construtivos. Não vejo nenhum valor acrescentado ao material de revestimento, que significam uma superfície redundante que pode não ser necessária. Não tive preocupação de materiais de revestimento porque seria apenas acrescentar valor pecuniário.”
O reboco à base de acrílico sobre o isolamento foi pintado de branco. Simples, eficaz, tudo o que pretendia. “Optamos por não acrescentar mais nenhuma qualidade além do branco. A cor acaba por ser mais um revestimento, mais uma camada de informação que não me interessa.”
Parte do pedido do cliente passava pela criação de “um elemento altamente diferenciado”. “Os clientes vêm ter com um arquiteto e acham que somos uma espécie de estilistas que vão criar elementos diferenciadores do que são as suas opções de vida — essas não são normalmente as minhas preocupações relativamente a arquitetura”, refere.
“A casa diferencia-se naturalmente do que são as casas das imediações, logo e naturalmente pela arquitetura contemporânea, a forma como é desenhada, mas antes de mais deve ter outras preocupações de ordem paisagística, até porque se encontra num promontório desafogado. A certa altura, a casa não é do seu dono mas parte integrante de uma paisagem, parte do património de todos que é a paisagem.”
Esse choque de ideias leva, naturalmente, a um jogo de ideias. “É educacional”, refere sobre esse trabalho com o cliente. “Quando estou com um cliente, não tomo opções estéticas. Eu resolvo problemas construtivos, de espaço, de funcionalidade, e depois necessariamente cada coisa tem um desenho. Quando peço uma esferográfica, não preciso mais do que uma BIC, mas a BIC também foi desenhada. Nada na vida dispensa o desenho, mas é nessa opção de desenho que reforça o espírito funcional, porque a arquitetura é iminentemente uma resposta a uma série de problemas — não é arte em si mesmo.”
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