“Tranquilamente pousada” no centro histórico de Lagos. É assim que o arquiteto Mário Martins descreve a Casa Sofia e os seus cerca de 300 metros quadrados, num recanto improvável em frente da Igreja de S. Sebastião. Naquele local anteriormente morara uma casa do século XIX, que acabou por ser demolida, deixando um espaço vazio por preencher.
O mote do projeto que chegou às mãos do arquiteto era simples. “Um casal estrangeiro chegou até nós e disse que queria um projeto familiar, para eles e os seus filhos. Inicialmente é para servir apenas a tempo parcial, mas a médio prazo querem definitivamente mudar-se para Lagos, estão a fazer uma transição progressiva.”
O projeto arrancou em 2019 e só foi concluído em 2023. “Um dos requisitos era que tivesse bastante luz solar, uma vez que os novos donos são de países com muito frio e pouco sol, por isso aqui era importante que este fator fosse muito bem aproveitado.”
“Foi tudo feito de início, era uma tela em branco. Ainda assim, nunca quisemos que a casa se impusesse no meio de todas as outras, mas sim que continuasse a identidade da rua. Deixa-se tomar pelo sítio e o maior desafio foi manter o diálogo com a Igreja em frente, um edifício de maior porte e caráter excecional, com o qual não queríamos destoar e ao mesmo tempo queríamos fazer jus. Fizemo-lo através do uso de reboco branco em toda a fachada.”
Outro dos desafios foi o facto da casa estar num gaveto. “Tinha de acompanhar o remate de quarteirão, sóbrio e sólido, de métrica ritmada. O novo desenho tinha de ser o transporte de uma identidade, com o peso e o perfume dos tempos, de uma urbe com muitos séculos de existência.” Ainda assim, Mário Martins refere que este não foi um projeto difícil e, aliás, correu de forma muito fluida. Desde as burocracias à construção, todos os tempos foram respeitados.
“Os materiais do projeto foram todos escolhidos em conjunto com os clientes, tentamos sempre chegar a um consenso que os agrade a eles e a nós. Por vezes utilizar demasiadas matérias-primas prejudica o resultado, então escolhemos uma que vai ser a base e depois intercalamo-la com um elemento distintivo, que neste caso é pedra natural.”
Em relação à planta, não há uma zona que se destaque, pelo menos com esse propósito. “O objetivo não era esse, não é uma casa para mostrar a ninguém, cumpre apenas o propósito inicial, ser familiar. Ainda assim, a ressalvar algo, tem de ser o hall de entrada. É onde toda a casa se funde, é o coração da construção e dali temos acesso a várias áreas.”
Este hall aberto garante-nos a vista dos pisos superiores, e das escadas, cujo segundo lanço aparece solto e suspenso. Oferece também acesso a três quartos com instalações sanitárias de apoio, assim como o acesso a uma pequena cave não habitacional para serviços técnicos. Num meio piso encontra-se a entrada para a garagem, a lavandaria e o pátio exterior.
O primeiro andar é um espaço aberto onde, à volta do vazado central, se desenvolvem a zona de estar e jantar, a cozinha, um lavabo e o quarto principal. Já no nível da cobertura surge, de forma discreta, um piso recuado, que dá acesso a um terraço panorâmico onde se localiza um solário, áreas de lazer e a piscina, com cerca de três metros por seis. “No total são quatro pisos, onde o desnível das duas frentes de rua e a relação pretendida entre a habitação e o pequeno pátio determinam a fluida organização espacial.” A casa também tem estacionamento.
Outro dos elementos que é importante referir que foi recuperado é a generosa espessura das paredes exteriores que tem cerca de um metro e meio. “Vincam as sombras, a volumetria, verticalidade, o ritmo, a métrica dos vãos e materiais de revestimento, que acentuam o peso e caráter do edifício”, acaba por concluir o arquiteto.
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