Decoração

Como a portuguesa Loft It transforma antigas lojas e armazéns em casas incríveis

A empresa oferece habitações maiores a preços mais acessíveis. O objetivo é lançarem 50 imóveis por ano no mercado.
Antes e depois.

Até podia ser um imóvel banal, mas vários traços denunciavam que se tratava de uma antiga superfície comercial. Assim que Mariana Arrochella Lobo entrou no espaço, em 2022, na altura à procura de uma superfície para investir, enquanto consultora imobiliária, foi surpreendida pelo potencial de uma área que, “podia dar um T2 espetacular”, pensou.

A empresária decidiu esclarecer as dúvidas e apostou sozinha na transformação. “Já tinha feito algumas remodelações, então sabia que era possível. Pesquisei sobre como tornar residencial um ativo deste género, aprovei a alteração de uso e, no final, revendemos a um investidor”, recorda à NiT.

Ao notar que existiam vários espaços com características semelhantes no Porto, decidiu abrir uma empresa e transformar este desafio num negócio. Desde então, a Loft It dedica-se a transformar, em larga escala, antigas lojas, armazéns ou garagens em habitações modernas e funcionais.

Em 2024, o negócio — detido pela ARC Homes Portugal, empresa de Mariana, e a FKA Capital Advisors — reabilitaram oito imóveis que deram origem a 12 lofts. Ao todo, já investiram cerca de 800 mil euros na aquisição e na recuperação destes imóveis, ainda sem a reabilitação.

Segundo a Loft It, trata-se de uma “alternativa mais acessível” para dar acesso a habitações maiores. Como o custo por metro quadrado de cada ativo é inferior ao de uma residência convencional, estas habitações são vendidas preços mais competitivos do que apartamentos tradicionais.

A empresa trabalha não só com agentes imobiliários externos, mas também com um departamento comercial próprio que faz uma procura semanal destes ativos. “Geralmente, priorizamos superfícies que estão situadas no rés do chão e têm de ter um espaço exterior”, acrescenta.

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O primeiro passo consiste em definir a tipologia final, tentando sempre criar, pelo menos, dois quartos. O resultado depende do tamanho das montras e da posição das janelas — se estão na parte da frente ou nas traseiras do imóvel, por exemplo. “Nem sempre é possível, mas, entre os 11 lofts, a maioria são T2 ou T1+1. Ainda não criámos nenhum T3.”

Além disso, Mariana destaca que “há algo incrível que é, muitas vezes, estes espaços comerciais terem um pé direito superior ao das habitações tradicionais”, especialmente em edifícios mais recentes. “No Porto, os apartamentos estão a encolher e a atingir o limite legal, enquanto estas alternativas oferecem áreas mais generosas.”

Quando não existem espaços exteriores, procura criá-los. Numa das novas moradias, foi necessário recuar a fachada para aumentar a dimensão da área habitável. “Equacionamos sempre se é possível realizar estas melhorias antes de adaptarmos o projeto à vivência desejada.”

“Podíamos estar em Nova Iorque”

“O primeiro amor nunca se esquece”, afirma Mariana, ao recordar a primeira transformação. Tratava-se de um armazém de materiais de medicina dentária na zona da Campanhã, no Porto, que foi transformado em quatro duplex modernos, cada um com características únicas. A obra implicou um investimento de 260 mil euros.

O projeto mais ambicioso, no entanto, foi o Loft 9, devido “ao pé direito duplo, muito elevado”, com quase cinco metros. “O resultado foi especialmente gratificante porque sou apaixonada por espaços amplos e ficámos maravilhados por ser totalmente virado a sul”, relembra. “Não sabemos qual era o uso anterior do espaço, pois esteve vazio durante muitos anos.”

Com um investimento de 205 mil euros, transformaram o imóvel, em Arca D’Água, com 127 metros quadrados, numa casa de estilo industrial. Ao adicionarem um mezanino e janelas grandes que inundam o espaço de luz, criaram um ambiente inspirado nos conhecidos lofts nova-iorquinos. “Poderia estar em Manhattan”, defende Mariana.

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Outro projeto, identificado com o número 6, localiza-se na Travessa das Águas, no Bomfim. Originalmente um armazém, estava prestes a ser adquirido por um investidor alemão que desejava criar um atelier, mas julgou que não tinha luz suficiente. “Quando viu o nosso projeto, ficou estupefacto e procurou-nos para conseguir a iluminação natural que procurava.”

O desafio resultou num loft elegante e minimalista, no coração do Porto, descrito como um “santuário urbano”, que combina design moderno com charme industrial numa área de 167 metros quadrados. Ao todo, exigiu um investimento de 175 mil euros.

Todas as transformações incluem elementos que já fazem parte da identidade da Loft It, que procura criar ambientes amplos que favoreçam a socialização. “Sou uma apaixonada por cozinhas abertas. A vivência portuguesa gira muito à volta de uma combinação entre comida e convívio.”

A identidade da empresa também se reflete no toque industrial dos diversos projetos “para conservar a essência de que aquele espaço não foi apenas uma habitação”, destaca. “Queremos que a história do local permaneça.”

Quanto à duração do processo, Mariana revela que o projeto de arquitetura, incluindo as licenças necessárias, pode levar entre três a quatro meses a ser finalizado. A Loft It assume também todo o processo burocrático, incluindo a alteração de uso dos espaços, para que os proprietários não tenham de lidar com complicações legais.

“Há certa complexidade, mas é algo positivo. As autarquias impõem várias regras, mas já temos alguma experiência que nos permite avaliar rapidamente se um ativo é viável ou não”, assegura a responsável. Por exemplo, se for necessário alterar uma fachada e não houver um terraço ou jardim, Mariana terá de solicitar autorização ao condomínio. Se não a obtiver, não será possível realizar as alterações desejadas.

Embora tenha apenas realizado este tipo de transformação no Porto, um dos objetivos da Loft It é expandir esta operação para outras cidades. No entanto, a concretização desse plano pode demorar, uma vez que a empresária acredita que, na cidade, “ainda existem muitos ativos passíveis de renovação”.

Depois, a intenção é avançar para cidades próximas, como Matosinhos ou Vila Nova de Gaia, e, nos próximos dois anos, começar a estudar as regras para fazer transformações em distritos vizinhos, como Braga ou Aveiro. A expansão para a região centro do País só ocorrerá quando esgotarem a zona norte.

De 2025 em diante, a Loft It planeia investir entre 1 a 2 milhões de euros anualmente, com o intuito de concretizar entre 20 a 25 projetos por ano. A principal meta é um crescimento exponencial para, em 2028, lançarem cerca de 50 “casas de sonho” no mercado todos os anos.

Carregue na galeria para ver mais imagens da transformação do Loft 6.

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