Decoração

De Rebordosa a Osaka. Como a Antarte se tornou embaixadora do design nacional no mundo

A marca soma parcerias de luxo e até fez um cadeirão para o Papa. Agora, assina o mobiliário do Pavilhão de Portugal no Japão.
A marca nasceu em 1998.

Aos 16, quando Mário Rocha foi trabalhar para a oficina de mobiliário do pai, rapidamente demonstrou um talento notável para a marcenaria. Desde cedo, carrega consigo a paixão de colecionador, que o impulsionou a reunir diversos instrumentos e artefactos durante as suas viagens pelo mundo.

O empresário, atualmente com 51 anos, já acumulava vários anos de experiência na manipulação da madeira quando conheceu Zita, 49, filha de emigrantes portugueses na Venezuela, que se mudou para Portugal aos 13. Se ele tinha o curso de desenho técnico de móveis no currículo, ela estudou até ao 12.º ano e abriu uma perfumaria. Juntos, decidiram unir forças.

Desta parceria nasceu, em 1999, um negócio voltado para a comercialização e restauro de peças de mobiliário clássicas e obras de arte, — a Antarte. O nome da empresa sediada em Rebordosa, Paredes, resulta da fusão das palavras “antiguidade” e “arte”.

Desde então, a marca passou a dedicar-se aos móveis com um design elegante e intemporal, mantendo um padrão de qualidade de excelência. “Queremos ter credenciais para representar todo o prestígio e o saber ancestral da marcenaria portuguesa”, afirma Mário em entrevista à NiT. “Usamos tecnologia, mas este projeto só é viável graças a técnicos competentes que realizam o trabalho manualmente.”

Graças a esta premissa, o percurso da Antarte inclui parcerias com personalidades como o arquiteto Siza Vieira, para o Pavilhão do Vaticano na prestigiada Bienal de Veneza ou a criação de cadeirões para figuras como o Papa Bento XVI. A marca, que já conta com 13 lojas em Portugal, também expandiu a sua presença internacional, e abriu espaços além-fronteiras, incluindo no Dubai.

Mário Rocha, o fundador da marca.

Segue-se mais um palco: a Expo Mundial

Recentemente, a Antarte conquistou um novo feito ao produzir as peças do projeto desenhado pelo célebre arquiteto japonês Kengo Kuma, responsável por idealizar o Pavilhão de Portugal na Expo Mundial de Osaka, no Japão, que se realiza entre 13 de abril a 13 de outubro de 2025. A marca ficou responsável por materializar o mobiliário do espaço.

“Percebemos, ao longo desta história, que tínhamos de desenvolver projetos globalmente”, acrescenta o fundador. “Após a Bienal de Veneza, sabíamos que este seria o próximo grande evento.”

Logo no primeiro contacto, Mário percebeu a ideia inicial não era construir o pavilhão em Portugal e que a mão de obra seria asiática. Então, o empresário certificou-se que o contrato incluiria toda a produção do mobiliário. A produção teve início em outubro do ano passado.

A Antarte criou mais de 40 peças, incluindo sofás, mesas para o restaurante e bancos altos, escolhendo materiais e técnicas que respeitam o saber fazer da marcenaria portuguesa.

A peça que mais se destaca é a mesa que estará no salão VIP, onde será colocado o livro de honra. Considerada “uma autêntica e extraordinária escultura”, é composta por cerca de 177 peças de madeira de freixo nacional, de diferentes diâmetros e comprimentos, todas torneadas à mão, conferindo uma forma única à mesa.

Com um peso aproximado de 100 quilos, a criação exigiu mais de 200 horas de trabalho dos artesãos da Antarte, utilizando também matéria-prima nacional nos tampos das mesas para o restaurante e nas estruturas dos sofás.

Relativamente à fusão da identidade da Antarte com a estética de Kuma, Mário refere que “foi um processo fácil”. “Identificamo-nos com a arte e a tradição de qualquer projeto em que o arquiteto se envolve”, acrescenta. A preocupação com a sustentabilidade e o uso de materiais naturais são princípios que estão enraizados na marca.

Antes de explorar novas parcerias, Mário quer concluir com êxito este projeto. “Tal como aconteceu na Bienal de Veneza, só depois de finalizarmos este processo iremos avaliar o que está a acontecer, tanto nacional como internacionalmente, e decidir os próximos passos”, sublinha.

25 anos de crescimento

Em 2024, a Antarte celebrou 25 anos de atividade, um marco que coincide com um “crescimento muito considerável” da marca, que desde 2020 tem apresentado um aumento médio de faturação de 30 por cento ao ano.

Nos últimos quatro anos, a marca cresceu de 5 milhões para 11,5 milhões de euros, revela Mário à NiT. “Este resultado é fruto da implementação de novas políticas comerciais e da introdução de novos produtos, bem como da nossa capacidade de adaptação ao crescimento do mercado”, explica.

Os resultados positivos devem-se à forma como a Antarte se ajustou às necessidades do mercado. “Em 2000, por exemplo, os consumidores portugueses preferiam mobiliário clássico e neoclássico”, recorda.

Contudo, a Antarte notou que, em países como a Itália, o design de interiores havia evoluído para um estilo mais contemporâneo e minimalista, que ainda não era produzido em Portugal.

“Outros fabricantes internacionais entraram no mercado português com móveis diferentes. Durante as minhas visitas a clientes, identifiquei uma oportunidade que acabou por dar frutos”, explica Mário.

Dois momentos cruciais marcaram a evolução da Antarte. O primeiro foi a transição do “nicho muito restrito” das antiguidades para o design moderno e intemporal. “Os consumidores não mostravam garantias de que seria possível avançar nesse segmento”, justifica. Nesta fase, a marca começou a nomear as suas coleções com base em cidades reconhecidas como ícones de lifestyle, sendo a primeira linha inspirada em Sidney.

O segundo momento decisivo ocorreu quando a equipa percebeu que o futuro passaria pela proximidade com o consumidor final, levando à abertura de lojas próprias. O primeiro espaço de venda foi inaugurado em 2000, no Porto, antes de se expandir para outras localidades, de Braga a Vilamoura.

O cadeirão do Papa Bento XVI.

“Tornou-se claro que vender a retalhistas não era o caminho para construir uma marca sólida. Precisávamos de liderar toda a cadeia de valor”, afirma Mário. “Não criamos apenas os produtos, mas desenvolvemos todo o processo, incluindo a logística e a decoração de interiores, e, se for necessário, montamos os móveis.”

A popularidade da marca disparou, gerando várias reações mediáticas, com a produção de uma cadeira para o Papa Bento XVI durante a sua visita ao Porto, em 2010. Feita de madeira de castanheiro e desenhada pelo arquiteto Audemaro Rocha, exigiu três protótipos e cerca de 76 horas de trabalho. 

Em 2024, a Antarte voltou a aceitar um desafio semelhante: criar um cadeirão para o Papa Francisco, utilizado na sua visita oficial a Timor-Leste. Esta peça, ainda mais elaborada, exigiu mais de 180 horas de trabalho por 14 artesãos e foi produzida com fibras naturais, como algodão e linho, finalizada com o brasão do Vaticano impresso em 3D.

Do então Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, em 2012, ao selecionador Fernando Santos, em 2021, a cadeira que Mário mais gostou de produzir foi a de José Mourinho, logo após ter conquistado a Liga dos Campeões, em 2010. Feita em madeira de folha de nogueira, “tinha um design que refletia uma personalidade de referência no nosso País”.

A concorrência é feroz, mas não assusta

Mário defende que a Antarte possui todas as credenciais para ser um reflexo do saber da marcenaria portuguesa. Contudo, o empresário não ignora a “concorrência feroz e desleal” proveniente de países europeus e asiáticos. “Muitas peças são fabricadas em regiões que não respeitam os direitos humanos, e as condições laborais não se comparam às nossas. Isso representa um obstáculo e uma ameaça, mas também uma oportunidade para sermos criativos.”

A resposta aplica-se às várias cadeias de baixo custo que têm entrado no mercado português nos últimos anos, como a IKEA e as emergentes JYSK ou TEDi.

“Estas marcas podem estar no mesmo setor, mas não são concorrentes diretas da Antarte”, sublinha Mário. “O sonho de muitos consumidores dessas lojas [low cost] é um dia poder adquirir produtos como os nossos, que não só apresentam um bom design, mas também uma atenção à qualidade e uma grande responsabilidade ambiental.”

Contudo, sublinha que “há mercado para todos”. “Temos uma presença sólida, com mais de 10 mil visitantes na nossa plataforma de vendas e dezenas de comerciais que interagem diariamente com consumidores, tanto antigos como novos.”

Algumas das peças da marca.

Atualmente, a Antarte opera em três continentes — Europa, África e Ásia, especialmente no Médio Oriente — e iniciou o seu processo de internacionalização em 2002, quando entrou no mercado espanhol. No Dubai, a marca está a implementar um novo conceito de venda direta ao público, embora “todas as casas vendidas já estejam mobiladas”, explica Mário.

Arrancar com o processo de internacionalização não fácil, admite Mário. “Na Europa somos vistos como portugueses, mas lá fora somos europeus”, observa. “Estamos ao nível do que de melhor se faz na Europa, e já começamos a ser reconhecidos, mas os retalhistas continuam a valorizar mais o que é fabricado em Itália ou na Alemanha.”

Sem abdicar dos mercados internacionais, a Antarte tem como principal objetivo expandir a sua presença a todas as capitais de distrito em Portugal. Em 2025, a marca pretende chegar às ilhas, mais precisamente a Ponta Delgada e Funchal, e está prestes a abrir um ponto de venda em Évora.

O mercado norte-americano também está nos planos dos fundadores, que têm tentado entrar nos EUA nos últimos anos, mas o processo tem sido dificultado pelas atuais políticas de importação do país. “Estamos a trabalhar nisto há três anos e, possivelmente, continuaremos a fazer esforços por mais três ou quatro”, conclui Mário.

Se procura inspiração para renovar a sua casa, pode visitar o site da Antarte ou passar por uma das 13 lojas da marca espalhadas pelo País, onde também pode contar com o aconselhamento das equipas de designers de interiores.

Carregue na galeria para conhecer alguns dos móveis que pode comprar na marca e conhecer melhor o estilo da marca.

 

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