Quando o telefone da Mima tocou e o potencial cliente questionou se poderiam encontrar-se com ele para uma reunião, foi recebido com um redondo não. Quem recebeu o pedido não reconheceu o nome do homem do outro lado da linha, nada mais nem menos do que Philippe Starck, um dos designers mais famosos do mundo.
Apesar da nega, Marta Brandão e Mário Sousa, fundadores da Mima Housing, haveriam mesmo de se reunir com o francês. Desse encontro saiu um compromisso: seriam eles a construir a nova casa de Starck em Portugal.
Seria um dos primeiros passos da empresa que começou por ambicionar desenhar casas modulares e acabou por aterrar numa espécie de meio termo: entre o potencial de personalização da construção tradicional e a rapidez de execução dos projetos modulares.
Dez anos depois da criação da empresa, projetos não faltam. “Temos mais de 70 em em mão, em fases diferentes”, explica Marta, arquiteta de 37 anos e co-fundadora da marca. “Na semana passada recebemos 200 emails de Itália porque uma revista publicou algo sobre as nossas casas”, nota.
Tudo começou com uma “ideia inocente” ainda durante os tempos de estudante que se desenvolveu e cresceu à boleia da tendência das casas pré-fabricadas embora, frise, não seja essa a área da empresa.
“Eu e o Mário [Sousa, o outro fundador] colocámo-nos na pele do comprador e pensámos se teríamos coragem para enfrentar um processo tão dispendioso e moroso”, recorda. “E daí pensámos num conceito em que faríamos um projeto chave na mão, onde oferecíamos um produto acabado, menos complexo e menos imprevisível a nível de custos.”
O primeiro resultado desse brainstorming foi um pequeno módulo de 36 metros quadrados que recebeu o nome de Mima House. Era bonito, pequeno, versátil e barato.
“Foi uma criação mais didática, como um jogo; era uma casa com paredes que se moviam. Essa primeira abordagem teve muito sucesso porque entrava no lado playful da arquitetura. Tinha uma imagem muito forte, futurista. Teve imensa projeção internacional”, recorda do projeto que valeu à Mima Housing um prémio da ArchDaily na categoria de habitação. Um trunfo fortíssimo para uma empresa acabada de nascer.
Afinal, o que a Mima Housing faz são casas modulares? A resposta é não. A fórmula que criaram para obter algumas das características desejáveis dessas casas passa por aquilo a que chamaram o Sistema Mima.
“É um sistema baseado numa grelha e todas as casas são desenhadas a partir dela”, esclarece Marta. “Isso permite-nos ter um controlo maior do desenho, da escala, das dimensões. E isso torna mais fácil a orçamentação, que é depois uma fase mais rápida — e que nos permite ter um projeto pronto mais rapidamente.”
Em contraste com a construção tradicional de casas, a Mima garante que é capaz de completar um projeto “em metade do tempo”. Sem contar, claro, os processos burocráticos que lhes fogem do controlo, como é o caso dos licenciamentos nas autarquias.
Da pequena casa modular até hoje, muito mudou. “O conceito evoluiu de acordo com os clientes e os pedidos feitos”, explica. Deixaram para trás “a casinha pequena e low cost” para construir casas “cada vez maiores e mais personalizadas”.
Todas as casas são feitas no local com processos “mais próximos da arquitetura tradicional do que da pré-fabricação”. Foi dessa forma que ergueram a casa de Phillipe Starck, uma criação conjunta que seguiu, claro, o Sistema Mima.
“Recebemos muitos clientes por recomendação dele. Deu-nos uma credibilidade muito grande. Se o designer mais famoso do mundo confia em nós para fazer a casa dele, qualquer um pode confiar”, afiança.
Hoje, a Mima Housing funciona mais como um atelier de arquitetura tradicional. “As pessoas chegam com uma ideia e nós desenvolvemos o projeto de acordo com o gosto e as ambições do cliente”, frisa Marta. “Simplesmente conseguimos — através do sistema — controlar o processo de forma mais rápida e com maior controlo de custos.”
Ainda melhor: o sistema permite também a total personalização da casa conforme o gosto do cliente. E a carteira, claro.
O custo do projeto é um dos pontos em que preferem a total transparência. “Não nos inserimos na categoria low cost.” Para Marta, baixar os preços implicaria “o uso de materiais baratos” o que, naturalmente, resultaria “em má qualidade de construção”.
“O que asseguramos é qualidade construtiva, materiais nobres que dignifiquem a arquitetura”, nota, antes de frisar que o preço será pouco inferior ao da construção normal. “A vantagem aqui é que os orçamentos iniciais são muito mais certos e pouco dados a derrapagens. Tem-se uma noção muito mais realista logo desde a fase inicial.”