Decoração

Era um armazém abandonado e devoluto. Agora é uma “casa-jardim” contemporânea

Foi desenhada por uma arquiteta para a própria família, em Silves. Os pátios estão ligados através da planta em open space.
Ficou concluído em 2018.

O estado devoluto de um armazém em Silves, no Algarve, escondia toda a história da estrutura. Abandonado há duas décadas, o edifício funcionou como carpintaria durante anos, frequentado por muitos dos habitantes locais mais idosos. À medida que se deteriorava, transformou-se numa “casa fantasma” no centro da cidade.

Joana Dalmau Pinto, de 41 anos, era uma das várias pessoas que passava por lá com frequência. Porém, foi quando regressou à cidade onde nasceu, em 2017, após alguns anos a trabalhar em Lisboa, que olhou para o espaço com um novo olhar. Surgiu a questão: e se desse para o aproveitar?

Curiosamente, o armazém estava à venda. Com o intuito de ali construir uma casa para a família, a arquiteta decidiu comprar o antigo edifício e logo começou a imaginar a planta que iria materializar. “O interessante, quando não há um cliente, é poder fazer o que me apetecer”, conta à NiT.

“No meu trabalho, o mais interessante é aproveitar o potencial de áreas abandonadas para criar uma vivência diferente. Normalmente, temos sempre moradias dentro da mesma linha. Prefiro experimentar com espaços que nos fazem questionar como vivemos”, acrescenta a cofundadora do Studioarte.

O atelier de arquitetura, sediado no Algarve, é renomado por transformar edifícios urbanos abandonados em moradias modernas. Desde a sua fundação em 2018, tem colaborado com João Carriço e Arnold Arson para fazer a diferença na paisagem arquitetónica da região. A casa de Joana foi só mais um exemplo.

Apesar de contar apenas com 180 metros quadrados, a aréa “transforma-se quando se abrem ou fecham as janelas”, explica. O facto de ter muitos espaços exteriores que se ligam à parte interna da habitação cria a ilusão de que é uma área mais ampla.

A mesma fachada, uma nova vivência

O ponto de partida deste projeto foi um retângulo com uma cobertura de quatro águas, em estrutura de madeira e sem divisões interiores. “Como era um armazém, retirei a cobertura e construi um novo volume”, diz.

Joana manteve a fachada e a porta, o que cria a ilusão de que tem o mesmo uso. Quando os visitantes entram na casa, são então surpreendidos com um espaço contemporâneo inspirado na arquitetura brasileira.

“O inverno no Algarve é muito curto, mas as casas são muito fechadas. Têm os vãos controlados e não usufruem do espaço exterior”, explica. “Procurei refletir a essência das casas sul-americanas, onde é tudo meio livre, aberto e funcional.”

depois
antes

Quanto à planta, confessa, foi um processo longo. Após seis meses a fazer pesquisas, Joana entregou o processo na Câmara Municipal. Demorou oito meses até conseguir a aprovação do licenciamento e, após isso, esteve um ano em obras. Ficou concluído em 2018.

Se na altura o investimento rondou os 180 mil euros, “hoje em dia seria impossível”. Na altura, Joana aproveitou vários benefícios fiscais pelo armazém pertencer a uma zona da área inserida no projeto de reabilitação urbana local.

“Uma casa jardim”

Se uma casa costuma ser pensada a partir de dentro, aqui aconteceu o contrário. “Sempre quis uma casa—jardim”, refere Joana. Por isso, o piso zero é completamente aberto de uma ponta à outra. “Quem entra, pode ver logo a parede do fundo.” Os dois pátios, situados em lados opostos, estão ligados por painéis de vidro.

O acesso à habitação é feito através da casca pré-existente e leva a um pátio, com acesso ao interior, onde se destaca o pé direito duplo e uma dimensão generosa. Caminhando até ao fundo, surge então o átrio interior, adornado com uma pequena piscina rodeada por sofás e plantas de porte médio.

No piso térreo, está a zona social. Inclui uma sala, uma cozinha em open-space — que se abre para a sala e para o pátio, em simultâneo — e um espaço multifunções. “Pode ser um quarto de brinquedos ou sala de jantar. A ideia é que seja uma casa evolutiva, porque temos filhos e eles crescem.”

Um dos elementos de destaque são as escadas, que interligam os dois pisos. É através deles que os proprietários chegam aos dois quartos com um desenho apoiado sempre numa estética minimalista e despojada. E foi precisamente este apontamento central um dos mais desafiadores do projeto.

Além de ser um espaço aberto, ganha vida através da menor quantidade possível de materiais. O pavimento é feito em betão queimado e, no exterior, surge um deck de madeira. Tudo é pintado em tons de branco, com alguns apontamentos de cor — como os azulejos portugueses na casa de banho, por exemplo.

Se o propósito era criar uma casa evolutiva, já passou por várias transformações. Desde a conclusão do projeto, Joana passou por um divórcio e vendeu a moradia a um casal de belgas que fazem alojamento local. A decoração foi feita à sua medida, mas a casa-jardim continua a ser um marco algarvio.

Carregue na galeria para ver fotografias do projeto antes e depois da reabilitação.

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