“Todos os dias passava naquela rua para ir treinar, mas não reparava.” Vítor Ribeiro, de 24 anos, era uma das muitas pessoas que, durante anos, não se aperceberam do potencial de uma casa abandonada na Maia, no distrito do Porto. Escondido atrás de muros e de muita vegetação, o edifício, construído em 1950, esteve inabitado por mais de uma década — e o esquecimento levou à degradação total.
O cenário assombroso com que se deparou, digno de um filme de terror, estava longe de ser convidativo. Isso não foi, contudo, um impedimento para o jovem, nem para a irmã de 30 anos, Filipa Ribeiro. Em conjunto com o pai, Arménio, formam o estúdio Duality e encontraram neste imóvel o seu projeto mais desafiante.
“Acabámos por comprar [a propriedade] para os nossos pais e para ser um escritório da nossa empresa”, explica Vítor à NiT. “Toda a gente achou que estávamos malucos, diziam que não a conseguiríamos tornar numa habitação, mas a minha irmã sentiu que era o sítio ideal.”
Na altura, estavam à procura de um edifício com um propósito residencial. A dupla percebeu que preferiam reabilitar um espaço antigo, em vez de construirem algo novo ou comprar um apartamento — e começaram a procurar na Internet. Embora a casa estivesse à venda online, as condições em que se encontrava não eram propriamente apelativas para a maior parte das pessoas.
“Descobrimos que o antigo dono era um senhor que trabalhava em cinema e que a construiu com muita paixão”, avança. “Acabámos por querer saber toda a história e decidimos manter tudo, para preservar a memória.”
Na visita ao local, ambos se sentiram apaixonados pelo espaço exterior, pela exposição solar e pela envolvência quase esotérica. Vítor recorda que “era uma casa que fazia querer entrar nela e acolher pessoas”.
depois
antes
Devido ao seu estado, foi preciso demolir e construir tudo de raiz, uma transformação que rondou os 350 mil euros de orçamento. No entanto, conseguiram-no respeitando a arquitetura original: mantiveram o tamanho das janelas, o caimento do telhado e a pedra existente.
No interior, também se sentiram contagiados por um vitral que fazia parte da varanda, local que transformaram na sala de jantar. Esse foi o ponto de partida do projeto, que virou “a planta completamente ao contrário.”
Das divisões impossíveis de distinguir, fizeram uma suite com closet, um quarto e uma casa de banho que liga o quarto à sala de estar. De seguida, como era uma casa muito pequena, fizeram a cozinha, a sala e a zona de jantar em elo, numa espécie de open space: “Quisemos esconder a cozinha da sala de estar, podemos estar a ver televisão sem olhar para a outra divisão.”
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antes
Esta dinâmica foi a parte mais difícil de concretizar e obrigou à demolição do telhado. “A sala tinha uma lareira. Durante uma altura, viveram cá ucranianos que, ao acendê-la, rebentaram o telhado. Não tínhamos placa, então utilizamos uma estrutura metálica para ficar em chapéu.”
E acrescenta: “Como a casa tinha uma dimensão pequena, com esta mudança, conseguimos dar-lhe um pé-direito de 5 metros para ficar maior. Quando se entra, é um mundo à parte”, acrescenta, sobre o contraste com o exterior.
A nível dos materiais, o objetivo foi usar a identidade do estúdio Duality, e fizeram a própria decoração e mobiliário, com uma marca registada. Elaboraram uma coleção com mesa de jantar, cadeiras, sofá, camas, candeeiros, espelhos, entre outros. Na decoração sobressaem os detalhes em madeira e as cores contrastantes, como as paredes brancas, móveis pintados de preto e cores quentes como apontamento de cor.
“O projeto acabou por ser uma rampa de lançamento. Utilizamos materiais de uma gama superior e foi tudo pensado para o espaço, nada é estandardizado”, conclui. “Era o tipo de trabalho que queríamos fazer e é o que vamos fazer no futuro: tornar as casas mais inabitáveis para os dias de hoje.”
Ficou curioso? Carregue na galeria para ver todas as imagens da transformação, começando pelas fotografias do estado anterior à remodelação.