Logo ao primeiro olhar, o olhar de José Guimarães fixou-se no logradouro. “Prometia bastante”, embora estivesse “muito maltratado”. O arquiteto lembra-se de visitar o local e encontrar um pavimento cimentado, muros altos e nenhuma vegetação. Ainda assim, ficou logo entusiasmado com o potencial da ligação entre o interior e o exterior.
Quando chegou ao espaço, situado em Campo de Ourique, o imóvel estava abandonado, depois de vários anos de uso pela Junta de Freguesia local. “Quando decidiram sair, o senhorio não sabia o que fazer com aquilo e decidiu chamar-me”, conta à NiT.
Apesar de ser um local escuro e com pouca estrutura funcional, José viu nos cerca de 50 metros quadrados uma tipologia com potencial para se transformar num apartamento. Foi isso que fez. Remodelou o piso térreo e passou a viver ali, na que é hoje a sua casa em Lisboa.
“Vê-se muito, nestes rés-do-chão habitáveis, este hábito de terem portadas e não se ver nada. Mas eu não queria isso. Queria criar um espaço de transição que fazia esse intermédio, onde podia estar de janela aberta, deixar a luz entrar e, ainda assim, sentir-me protegido”, acrescenta.
Para resolver o problema, instalou uma grade metálica vermelha na fachada. Serve de barreira e cria uma zona de transição entre a rua e o exterior da casa. Atrás dela, uma parede de blocos de vidro permite que a luz entre, sem comprometer a privacidade, mantendo essa fluidez que tanto queria.
“Como é uma envolvência muito familiar, posso sair da porta de casa e ir diretamente para a rua. Parece que estou a viver numa aldeia”, diz ainda, destacando que a localização num “bairro tão simpático” teve peso na decisão.

Acima de tudo, foi um “projeto muito económico”. As paredes foram mantidas e não houve demolições no interior. Com um orçamento inferior a 40 mil euros, José conseguiu transformar o espaço num apartamento funcional, respeitando o que ali existia.
A mudança foi total. O espaço não tinha cozinha e a única casa de banho estava “muito podre”. A distribuição interior foi simples: colocou as áreas sociais onde fazia sentido e maximizou o espaço possível.
Para aproveitar a luz, escolheu estucar as paredes com uma paleta clara. “Não é um branco fluorescente, tem um tom muito quente”, explica. Foi uma forma de evitar que o ambiente ficasse escuro, já que se trata de um rés-do-chão entre dois edifícios.
Outra decisão foi colocar a zona social voltada para o logradouro, de forma a criar uma ligação com as plantas. É aí que passa tempo a ler, a beber café e a aproveitar a calma do bairro.
Mais do que uma casa, este projeto é também um reflexo do trabalho que José Guimarães tem vindo a desenvolver para os seus clientes. A diferença? Agora fê-lo para si. Essa identidade continua presente “na economia do gesto e no respeito pelo custo das coisas”, mas aplicada à tranquilidade “entre os ritmos da casa e da cidade”.
Carregue na galeria para ver mais imagens desta casa captadas pelo fotógrafo Francisco Nogueira.

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