Irreconhecível é a palavra mais adequada para descrever a nova encarnação da moradia na urbanização Soltróia. Uma transformação radical que transfigurou por completo a casa, fruto de um projeto do arquiteto João Tiago Aguiar, que começa precisamente por descrever o cenário que encontrou no arranque da obra.
“Era uma casa muito datada. A qualidade de construção era boa, mas puxava aos anos 80, com muitos rococós, reentrâncias e curvas”, conta à NiT. “No interior, as escadas eram pesadas e ocupavam quase o espaço todo. Havia problemas de funcionalidade, de organização do espaço. E havia poucas janelas.”
A casa, sobretudo fechada sobre si própria, esbarrava de imediato com um dos princípios do arquiteto: o aproveitamento total da luz. A obra prometia ser complicada. O projeto chegou-lhe às mãos em 2019, a pedido de uma família numerosa que comprara a moradia para os períodos de férias e também pela proximidade aos pais.
“Pediram-me que criasse uma casa funcional e que não exigisse muita manutenção”, nota sobre o programa criado para a nova moradia. “Tinha de ter cinco suítes, além da master suíte, e ainda um quarto de visitas e um escritório.”
A obra arrancou em 2020 e ficou terminada em 2023. O resultado? Uma transfiguração completa que deixou para trás uma moradia pesada e ofereceu um espaço limpo, arejado e luminoso. Isto sem ser necessário tomar medidas drásticas e alterar todo o interior, deixando apenas as fachadas.
“As lajes foram preservadas, mas tivemos que remover o núcleo central de distribuição. A escada existente foi removida e criou-se esta escada metálica que permite ter noção do duplo pé direito”, refere sobre a mudança que permitiu criar uma continuidade visual desde a entrada, ao longo da casa, até ao jardim. “Dá logo outra amplitude e fluidez.”
A mudança não aconteceu apenas no interior. A renovação implicou a criação de um circuito em torno da casa, que incluiu também uma pequena ponte sobre a entrada para a garagem, na cave. “A casa tinha uma forma de H aberto. Nem se podia circular em torno da casa”, justifica.
As janelas foram também alvo de muita atenção. Anteriormente pequenas e fechadas, foram ampliadas até ao chão e melhoradas com portadas em ripado branco, que “unificam a estética e criam uma linguagem contemporânea”.
Para lá das linhas estéticas simples e despojadas, também a escolha de materiais procurou refletir esta mudança de 180 graus, para um ambiente “mais fresco e mais relaxado”. “Um ambiente mais de praia”, reafirma. Daí que tenham surgidos os microcimentos, o mobiliário lacado ao branco, que contrasta com peças têxteis decorativas e as texturas mais vivas dos tecidos.
“Queríamos muito branco para trazer a luz o mais possível para o interior da casa.” A mesma filosofia se aplicou ao poço do elevador criado no meio da casa, totalmente transparente. “A ideia é que seja uma casa para a velhice e por isso fez-se também o acesso de elevador a todos os pisos, e deste modo manteve-se a caixa aberta toda em vidro, para manter a luminosidade”, conclui.
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