Demorou quatro anos a concluir e marca um regresso às origens, à pequena aldeia de Guardenha, Terras de Bouro, a um par de passos do Gerês. No terreno onde nasceu a casa desenhada por Daniel Capela Duarte, da Mutant Arquitectura & Design, estava uma velha ruína que hoje se mantém de pé, a par da nova construção.
“O cliente nasceu naquele terreno, na casa que hoje é uma ruína. Ao fim de muitos anos, decidiu fazer no terreno uma casa de férias”, explica o arquiteto que procurou colocar no terreno todos os desejos do cliente.
O objetivo inicial era simples: uma casa de mobilidade fácil e simplificada e um terreno que obrigasse a pouca manutenção. No terreno em declive foi então instalada uma casa em apenas um piso, ao largo de um talude, e que se expande pelo ar na zona social, num jogo entre “o rude e o luxo”.
“A casa tem um movimento arredondado de forma a criar conforto e aconchego em relação ao que é o miolo do terreno, por forma a orientar a casa a sul. Depois há o desenvolvimento do volume da piscina, que surge no lado poente, para que ao fim da tarde se alinhe com o pôr do sol que fica à vista desde a sala”, nota.
Embora tenha dois pisos, a mobilidade fica facilitada pela colocação na cave de toda a área técnica e garagem. No topo, num só piso luminoso, nasce a área social em open space, acoplada a quatro suites alinhadas no prolongamento do edifício.
“Quisemos manter o declive o mais natural possível e por isso, na zona dos quartos, ficamos completamente suspensos. Afastamo-nos do terreno”, explica. “Na área social, só da sala se tem acesso ao terreno.”
Da fachada sobressai a maior dureza do betão, escolha na perspetiva “da durabilidade e da resistência”. “Está no meio da natureza, sofre ali uma série de agressões e por isso tem que ter robustez e baixa manutenção”, explica o arquiteto, que une a escolha à opção de, em dois pontos, unir o betão com metal dourado.
“O objetivo passou por criar a antítese entre o luxo do dourado e a rudeza do betão.” A inspiração, nota, veio de um lugar improvável: o disco “Concrete and Gold”, cimento e ouro, dos Foo Fighters.
O resultado é, no seu interior, uma área total de 350 metros quadrados, divididos pela área em open space e pelas quatro suites, sendo que uma delas, a principal, tem ainda direito a um closet. O microcimento ganhou, nesse conceito, relevância também no interior, no teto e nas paredes. Para completar o contraste, escolheu-se um pavimento em carvalho, sobretudo pelo seu “tom de mel que o associa ao dourado”.
No exterior, a piscina infinita fica suspensa sobre o jardim, através de onde cai constantemente um fluxo de água semelhante a uma cascata. Essa água volta, claro, novamente ao topo para ser devolvida à piscina, num ciclo mais sustentável.
“Existem por aqui muitas presas, cascatas e nascentes. Quisemos refletir um pouco isso, a dinâmica relaxante do ruído da água a cair, sobretudo porque a zona é muito silenciosa.”
Ao invés de apostar num jardim relvado — ela existe, mas apenas numa pequena zona de estar no fundo do terreno —, optou-se por uma solução de menor manutenção. “O jardim é sobretudo uma mancha arbustiva que vai crescer aleatoriamente, uma vegetação mais selvagem que obriga a menor cuidado.”
Mantidas foram também as estruturas pré-existentes, as ruínas da casa de família e do espigueiro, que hoje existem com finalidades estéticas. As estruturas foram, ainda assim, consolidadas e recuperadas “por uma questão de segurança”.
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