Quando começou a ser idealizada, a Casa Lavra foi pensada para um terreno pequeno, “muito estreito” e “profundo”, paralelo à praia das Pedras Brancas, em Matosinhos. À sua volta, a arquiteta Marina Werfeld deparou-se com uma vivência muito própria, que acabaria por influenciar todo o projeto.
“As moradias são todas muito próximas umas das outras, é uma rua sem saída e que acaba apenas no areal. Tem um uso muito local”, explica. “Existe aquela vivência em que os miúdos brincam na rua e os adultos passam muito tempo no rés-do-chão como extensão da sua casa.”
Assim nasceu esta casa de praia em Lavra, vila piscatória a 15 quilómetros do Porto. O projeto, assinado pelo WER Studio, ocupa 184 metros quadrados de área construída, a que se somam mais 70 metros quadrados ao nível da cobertura.
“Como são lotes tão pequenos, a ideia era criar um refúgio. Optámos pela ideia de uma cabana, mas que não deixasse de estar associada à cidade”, explica Marina. “É um espaço de refúgio, mas não queríamos que fosse uma construção isolada.”
O conceito agradou aos clientes, um casal que vive em Londres, mas com ligações a Portugal, que procurava uma casa de fim de semana, ideal para escapadinhas e com fácil acesso a outras cidades.
Inspirada na arquitetura moderna paulista, a Casa Lavra aposta numa fluidez entre interior e exterior. O objetivo era tirar o maior partido da vista para o mar e ao mesmo tempo permitir uma transição natural para a zona exterior, integrada na vivência diária.

Para aproveitar melhor a vista, a planta foi desenhada ao contrário do que é habitual. Os quartos e um escritório ficam no piso térreo, organizados à volta de um pátio central. Já a sala e a cozinha estão no primeiro andar, com ligação direta à varanda e à cobertura.
No topo, encontra-se um deck com uma piscina embutida que se estende na direção do mar, o verdadeiro ponto alto da casa. Esta solução serviu também para reforçar a privacidade dos moradores. “Como baixámos esse piso, os moradores sentem-se muito resguardados, mesmo com as janelas abertas. Há um grande terraço onde podem apanhar sol a tarde inteira e estão totalmente protegidos.”
Outro desafio foi o vento do norte, muito presente na zona. “Para o lado norte, isolámos um pouco mais a casa e enquadrámos a vista através das janelas muito altas”, conta Marina.
Como o projeto é bastante vertical, a escada tornou-se um elemento central. No meio da casa, surge uma escada escultural revestida a tijolos de barro tradicionais, com cabos de aço verticais que funcionam como estrutura e guarda nos pisos superiores.
Os mesmos tijolos foram usados no piso térreo, junto à entrada, com o objetivo de transmitir uma imagem “monolítica e enraizada”, diz a arquiteta. A casa integra ainda elementos tradicionais, como vidro texturizado nas portas das casas de banho.

“Temos acabamentos de exterior no interior. Pela resistência que oferecem, pela continuidade. Até porque queríamos ter essa leitura de prolongamento da área exterior para dentro e que pudesse ser utilizada durante o ano inteiro”, acrescenta.
A estrutura de betão foi deixada visível em vários pontos, da laje da sala à viga que atravessa a varanda, mas combinada com materiais naturais como madeira à vista, gravilha e tijolo de terracota.
Além de conferirem “muito conforto”, são também bastante duráveis, garante Marina. “Estamos muito perto do mar e tem uma erosão muito forte. Com o tempo, há matérias-primas que envelhecem muito bem.”
As influências modernistas, sobretudo de São Paulo, marcam a obra da arquiteta. Da “estrutura desprendida da fachada” à ausência de revestimentos sobre a estrutura, Marina apostou em “elementos muito fortes conceptualmente”. “As texturas, as cores, os materiais. É importante haver esse conforto.”
Carregue na galeria para ver mais imagens da Casa Lavra do fotógrafo Fran Parente.

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