Decoração

Esta casa em Oeiras é uma carta de amor à arquitetura brutalista

A moradia nasce a partir de um pátio central e abre-se ao exterior. O betão e a madeira convivem de forma harmoniosa.
Abre-se à paisagem.

O desenho irregular e inclinado do terreno, situado perto da vila de Oeiras, exigiu “um gesto simples, mas muito poético.” A partir de uma árvore de grande porte, pousada no coração do lote, nasceu uma casa-pátio em que todas as zonas estão viradas para este espaço central e privado.

A privacidade era, afinal, uma das principais exigências do proprietário, uma figura pública com três filhos, dois deles mais pequenos, que queria manter a vida familiar com o máximo de privacidade. Apesar das características desafiantes da propriedade, soube logo que era ali que queria erguer a moradia térrea dos seus sonhos.

“A estratégia passou por adotar uma linguagem modernista”, explica à NiT o arquiteto Julião Pinto Leite, que contornou as dificuldades ao inverter a construção para o talude. Utilizando “uma estrutura semienterrada”, tirou partido das características naturais do terreno e alinhou-o com a inclinação da encosta.

A Oeiras House, assim é chamada, foi construída num volume em forma de U que emerge da costa e se confunde com a envolvente. Assinada pelo atelier OODA, a habitação desenvolve-se num único piso com 350 metros quadrados que parece abraçar o pátio e recebe a paisagem através de áreas abertas.

Concluída em 2024, a moradia tem sido amplamente partilhada em várias páginas e portais de arquitetura nacionais e internacionais, com centenas de elogios dos maiores fãs de design brutalista não só da Europa, mas do mundo inteiro.

“Vejo a inclinação como uma oportunidade. Se tivermos 10 terrenos planos, temos sempre o mesmo ponto de partida e resultados semelhantes”, acrescenta o responsável. “Quando existem outras características, temos desafios que podem ser encarados como incentivos.”

Ao inverter a orientação para sul, o arquiteto não só conseguiu proteger a privacidade do cliente, como melhorou o acesso à exposição solar. O formato da casa, que se abre através de grandes envidraçados, maximiza o acesso à iluminação e ventilação naturais em todos os espaços anteriores.

Oeiras House
Concluída em 2024.

A presença da natureza foi realçada pela geometria e volumetrias “simples, mas racionais”. Os vidros parecem dividir horizontalmente o piso em dois, com “uma peça muito monolítica e fria em cima, assente sob uma camada mais acolhedora”. Enquanto o volume superior é definido pelo betão, com uma viga alta a atravessar o espaço, o que surge à escala humana são materiais mais quentes e naturais, como a madeira.

“Esta obra funciona quase como uma casa de relojoaria. Todas as aberturas, sombras e superfícies são desenhadas de forma intencional não só para serem vistas, mas sentidas”, defende, destacando um “estilo contemporâneo que evita ornamentação” e prioriza “detalhes minimalistas e considerações ergonómicas”.

O uso da madeira foi uma das principais estratégias para continuar a ligar a parte de dentro à paisagem. Todo o design foi pensado para transmitir tranquilidade e ter uma disposição aberta para que, no verão, não se consiga distinguir o interior do exterior.

A condição semienterrada e a falta de iluminação do pátio de entrada foram compensados com a presença de uma piscina cénica, que “funciona como ponto focal e fonte de luz para o pátio”, além de ser outro elemento unificador. Ao redor, surgem vários espaços fluidos destinados a usos sociais ou individuais.

Cada braço do U tem um programa distrito, criando em conjunto com o cliente. Numa das laterais surge uma cozinha com uma área de refeições ampla para o cliente receber pessoas, com a sala no braço central. Já numa ala mais privada, surgem os quatro quartos pedidos.

Nas pontas, mais integradas no terreno, foram colocados os programas que não necessitam de luz natural, como a casa de banho do quarto principal, uma área de serviços e uma lavandaria que esconde um estúdio de música na parte de trás.

Do mobiliário personalizado às escolhas arquitetónicas mais subtis, todas as decisões nasceram de “um estudo aprofundado” da zona, uma avaliação que é transversal a todos os projetos da OODA. A missão, revela Julião, é sempre adaptar a abordagem ao local onde vão intervir.

“Temos muito trabalho para que cada casa possa durar no tempo e não seja apenas para uma sessão fotográfica”, conclui.

Carregue na galeria para conhecer melhor a Oeiras House. Fotografias: Fernando Guerra.

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