Ao chegar ao terreno, o arquiteto Bruno Martins rapidamente se apercebeu de que aquele era o local mais inclinado onde já tinha trabalhado. Os desafios começaram a surgir de imediato, uma vez que o lote estava orientado para norte, o que limitava a exposição solar e dificultava a entrada de luz natural na futura casa.
Diante dele, encontrava-se um jovem casal à procura de construir a sua primeira residência. Com um orçamento restrito, pretendiam aproveitar o terreno que possuíam em Santana, na ilha da Madeira, para criar um refúgio moderno que se integrasse na paisagem.
Assim, nasceu a Casa Cabeço do Resto, com aproximadamente 240 metros quadrados de área. A construção destaca-se como um “apontamento de cor a baloiçar” na encosta, inserindo-se harmonicamente na envolvente. O edificado consiste em dois volumes interligados por um terceiro.
O arquitecto percebeu rapidamente que a melhor estratégia para maximizar a exposição solar seria edificar a construção o mais acima possível. “O maior desafio foi fazê-lo sem transformar a casa numa fortaleza com muros de suporte demasiado visíveis. Foi necessária alguma inovação para fixar o edifício num declive tão íngreme”, explica Bruno à NiT.
A disposição dos volumes emergiu de forma orgânica como resposta a este desafio. Um deles, mais reservado, foi escavado no terreno e recebe luz durante a manhã, possuindo claraboias que potencializam essa luminosidade. O segundo “está pousado sobre uma dos pontos mais elevados do lote”, quase em oposição.
Enquanto no primeiro volume se localizam todos os quartos e respetivas casas de banho, o segundo, que se assemelha a um miradouro, alberga as áreas sociais, incluindo o hall de entrada, a sala de estar e a cozinha com lavandaria.
Graças à visão integradora do arquitecto, que cresceu e reside na Madeira e se tem dedicado a investigar como adaptar o edificado à orografia da ilha, o volume superior parece “balançar dramaticamente entre a faixa de terreno disponível”, acrescenta.
A escolha da cor foi pensada para tanto diferenciar quanto integrar a casa na paisagem. Atendendo ao orçamento aproximado de 250 mil euros, recorreu-se a uma pintura sobre cofragens em betão, menos onerosa. A opção também ajudou a captar a cor predominante das outras casas da região, como o laranja das telhas, visto de cima.
No interior, destaca-se o uso de madeira mais escura. “Como estávamos cientes de que entraria muita luz, optámos por esse tom desde o início. Está presente em todo o lado, como nas portas, rodapés e pavimentos. Depois, o interior foi pintado de branco”, explica o arquiteto.
Para ele, essa escolha resulta num ambiente menos chamativo, contrastando com o exterior, uma vez que “nunca observamos a cor interna da casa”, refere. “O que realmente vemos é a vista formidável, praticamente de todos os ângulos.”
O período entre o projeto da arquitetura e a obtenção do licenciamento municipal levou entre seis a oito meses. Quanto à construção, representou cerca de 14 meses de trabalho, permitindo que a obra estivesse finalizada em menos de dois anos — e com todos os materiais provenientes de Portugal continental.
O resultado foi uma moradia “que só poderia existir na Madeira”, destaca Bruno. O modo como a casa se insere naquele território, tirando partido da complexidade da orografia, é o que mais atrai a atenção. “Foi um dos motivos que me levou a ser arquiteto: para criar objetos arquitetónicos interessantes que aproveitem os desafios e se tornem singulares.”
O projeto foi suavemente integrado no lote, sem necessitar de grandes escavações, sempre com uma visão de integração que se estende às coberturas da construção, transformadas em espaços verdes reutilizáveis que se “misturam” com a envolvência, tornando-se parte da decoração geral.
Carregue na galeria para ver mais imagens da Casa do Cabeço do Resto na Madeira, captadas pelo atelier MSB Arquitetos.
