Quando um cliente liga para falar sobre a Casa de Queijas, da autoria de Fernão Simões de Carvalho, diz sempre que tem interesse “na casa de betão”, explica o consultor Acácio Simões, da agência imobiliária RE/MAX. E nunca há dúvidas: mais do que o nome da habitação ou até do arquiteto, o material que reveste o imóvel tornou-se num dos seus principais cartões de visita.
A verdade é que, mais recentemente, esta obra imponente passou a ser conhecida de outra forma. Afinal, é também uma das protagonistas da série “O Arquiteto”, que aborda um dos maiores escândalos sexuais portugueses dos anos 90. Depois de ser exibida na TVI, a produção ficou disponível no catálogo da Prime Video, no final de setembro.
O timming não podia fazer mais sentido já que a casa-atelier de Simões de Carvalho, em vias de ser classificada como Património Cultural, encontra-se no mercado. Situada em Linda-a-Velha, no concelho de Oeiras, a propriedade foi colocada está à venda online por 2,5 milhões de euros.
Embora admita que a estreia da série não aumentou a procura pela habitação, o consultor sublinha que é um projeto merecedor de atenção. “Apesar de já ter 40 anos, tem um estilo atual e a parte exterior salta muito à vista. O facto de ser toda feita em betão é certamente o destaque”, explica.
A presença na série, revela Acácio Simões, “surgiu porque um amigo, que trabalha na área da produção, tem uma base de dados com uma série de casas que são adequadas a filmagens”, conta. “Quando revelou a uma colega que andava à procura, foi a que mais fez sentido.”
Com cerca de 350 metros quadrados, a moradia é um T5, com oito divisões, atelier, piscina, garagem para três viaturas e uma vista desafogada sobre o rio o mar. Além de um hall de entrada, inclui três suites, dois quartos, duas salas de estar, uma sala de jantar, uma cozinha, um escritório e uma sala de arrumos.
Outras das vantagens destacadas pela agência é a localização em primeira linha de vista rio e mar (estuário do Tejo) e da Mata do Jamor, perto de parques desportivos e de lazer na zona do Jamor. Há também uma série de praias e restaurantes a poucos minutos.
Ainda que se tenha tratado de um projeto de vida, com um atelier onde trabalhou durante muitas horas, o proprietário tem atualmente 96 anos. E as filhas entenderam que deviam colocar a moradia à venda, confessa o agente.
Descrita como “lugar de liberdade conceptual” e “a síntese de uma vida”, pelos vendedores, o projeto começou em 1974, ficando inacabada com a partida do arquiteto para o Rio de Janeiro, no Brasil, após a revolução do 25 de Abril, devido à falta de encomendas, já que a maioria dos seus clientes dependia da economia angolana, então colónia portuguesa.
Nessa primeira fase, o arquiteto, nascido na capital da antiga província colonial, ainda que se tenha mudado para Lisboa com 14 anos, usou-a como uma síntese da sua obra africana, marcada pela importância atribuída ao betão, inspirando-se em mestres como Corbusier e Wogescky para este conceito de casa-atelier.
A Casa de Queijas só ficaria concluída quase uma década mais tarde, em 1982, após ter regressado a Portugal. A abordagem manteve o pragmatismo que lhe é característico, tendo aproveitado o declive acentuado do lote para otimizar a área bruta disponível e apostado no contraste de materiais, no interior.

Ainda que não seja destacado na série, a moradia marca também a diferença pelo portão que parece ser uma referência à cultura pop do nosso País, nos anos 70.
Em fevereiro de 2023 foi executado um Despacho pelo Diretor-Geral do Património Cultural, João Carlos dos Santos, para determinar a abertura do procedimento de classificação da Casa-Atelier Simões de Carvalho, localizada na União das Freguesias de Queijas e Carnaxide.
Leia também a entrevista da NiT ao realizador da nova produção da TVI, com a Prime Video, para ficar a saber mais sobre os pormenores das gravações da série “O Arquiteto”.
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