A entrada foi desenhada para “criar sensações fortes”. Um bloco negro, suspenso sobre uma fachada de alumínio cor terra. Entre elas, um rasgo de vidro, a fenda pela qual se ilumina parte da casa, “mais austera” no lado virado para a rua, assumidamente natural por detrás destes blocos mais visíveis.
Apesar de ter nascido na pequena localidade de Anadia, no distrito de Aveiro, a RCR House tem atraído atenções de dentro e de fora de Portugal. O projeto caiu nas mãos do arquiteto Vicente Gouveia, um dos sócios fundadores da Visioarq, que imaginou uma moradia com “duas linguagens diferentes”.
As exigências não foram muitas: não mais do que dois pisos, com espaço para três suites, as divisões habituais e uma extra, um “espaço intermédio que fosse um misto de escritório e biblioteca”. Num terreno sem grandes obstáculos, o projeto pode avançar sem demoras.
Foi nessa última divisão que Vicente Gouveia se deteve mais tempo e confessa, agora depois da obra terminada, que é também aquela de que mais gosta. “Na nossa ótica, um escritório não tem que ter quatro paredes. A forma como a casa está desenhada pode proporcionar diferentes utilizações do espaço e criar zonas resguardadas, sem precisarmos de colocar uma parede ou uma porta”, explica à NiT.

É a divisão “mais central da casa”, instalada na união dos dois blocos, o da zona social e o do espaço privado dos quartos, no primeiro piso. E também por isso, graças ao rasgo de vidro e a clarabóia — e a uma janela de pé direito duplo — que se torna na mais luminosa.
“Queríamos transformá-lo num espaço pouco convencional, com um caráter museológico onde pudéssemos expor obras de arte, mas também ser usado como escritório ou sala de leitura”, nota. A casa foi também alvo da Do Ho Interiors, equipa de design que pertence aos mesmos donos da Visioarq.
Outra das preocupações prendeu-se com a garantia da privacidade. Daí que, na zona mais exposta, tenham optado por soluções mais seguras. Os ripados de alumínio que “promovem a privacidade sem nunca deixar impedir a entrada de luz”.

“Quem está no interior percebe que a luz entra — e até provoca efeitos interessantes com as sombras —, mas quem está do lado de fora tem dificuldade em perceber o que se passa no interior”, garante.
Do lado de lá, na zona mais social, natural e relaxada, a casa abre-se para o jardim. Das conversações iniciais para o projeto, assentou-se a ideia de que ele deveria ser o mais amplo possível — e daí que preencha todo o piso inferior da casa, da sala até à cozinha, vista também como um espaço social por excelência.
Ao contrário da frieza da fachada da entrada — com alumínios e vidros foscos escuros —, a área da sala e de ligação com o jardim aposta troca no chão as lajetas de betão pela madeira. Da madeira que domina ao interior, liga-se ao exterior através do betão da pala, que tem uma particularidade especial.

Para criar a pala, o betão foi moldado de forma a replicar “a impressão digital do pinho”, para que ficasse percetível. “Quisemos criar uma ligação com a parte natural da casa e o acabamento acabou por ser muito feliz, porque dá uma textura e uma dinâmica que é diferente daquilo que costumamos ver.”
No interior, a madeira de riga nova entrelaça-se com os lacados brancos e um trabalho particular na mármore Calacatta. “Foi um bloco escolhido especificamente para a casa, que depois desenvolvemos e desenhamos a sua estereotomia, para poder usar os efeitos dos próprios veios na zona da sala e da entrada.”
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