A primeira Escola da Cor do País abriu num antigo talho em Lisboa

O espaço que, em tempos, foi um talho nos Olivais tornou-se na primeira Escola da Cor em Portugal. Onde antes se cortava e vendia carne, fala-se agora sobre pigmentos, psicologia e bem-estar. Esta transformação é, para as fundadoras Luísa Martínez e Sissi Louro Santos, irónica, visto que são ambas vegetarianas. No entanto, têm um objetivo bem claro com este projeto, inaugurado a 18 de junho. Querem “devolver a cor ao mundo” e mostrar como esta pode ser uma ferramenta essencial no dia a dia.

As empreendedoras conheceram-se através da Associação Portuguesa da Cor, entidade que existe há duas décadas, mas ainda pouco conhecida do público, como garantem. Luísa era a presidente e conheceu a agora colega através da sua página de Instagram, onde Sissi divulgava a cor como ferramenta de bem-estar. Acabou por convidá-la para fazer parte da direção e rapidamente perceberam que tinham muito em comum. 

Ambas são arquitetas, mas seguiram caminhos diferentes. Sissi, de 43 anos, especializou-se em decoração, e mais tarde fez certificação internacional como consultora de cor. Além disso, teve a sua própria marca de joalharia, a Si Atelier, que foi premiada em várias ocasiões, o que reforçou o seu lado empreendedor.

Já Luísa, depois de 15 anos dedicada à arquitetura, seguiu pela área da gestão e do marketing, com um foco especial no comportamento do consumidor — sempre com a cor como fio condutor. É também professora na Universidade Católica.

A Escola da Cor nasceu de uma vontade antiga das duas. “Sentíamos há muito tempo que faltava um espaço onde as pessoas pudessem compreender e usar a cor de forma mais consciente. Em Portugal, a cor ainda é usada muito de forma intuitiva”, explica Luísa, afirmando que a Escola da Cor surgiu como “uma conjugação de fatores pessoais e profissionais que se alinharam no momento certo”.

O espaço fica a cerca de cinco minutos a pé do Metro dos Olivais e tem estacionamento fácil à porta. A localização não foi um mero acaso. Afinal, Luísa Martínez, de 47 anos, vive naquela zona e o edifício onde agora se ergue este conceito tinha exatamente as dimensões e configuração que imaginavam.

Os cerca de 60 metros quadrados incluem uma ampla sala de formação, com capacidade para 16 pessoas, uma esplanada coberta com oito lugares e uma pequena cafetaria interior com mais seis. Há ainda música ambiente, livros dedicados à cor — como uma pequena livraria temática — e até brigadeiros e pães de marcas locais.

O conceito, esse, vai muito além das aulas. “Os miúdos continuam a ter muitas oportunidades de trabalhar com cor, mas os adultos perdem isso com o tempo”, explica. “Isso reflete-se nas casas e nas roupas. Há quase um estigma de perder credibilidade quando se usa cores mais fortes.” A escola quer, então, ser um ponto de encontro entre pessoas de todas as idades e também um espaço de experimentação e expressão.

O espaço tem também formações e workshops variados. O ABC da Cor é uma introdução de três horas a este mundo de tons e pigmentos diferentes e custa 60€. Há também cursos temáticos, como Cor e Branding (seis horas por 120€) ou Cor Aplicada aos Ambientes (12 horas por 240€). Depois, há o Curso Geral da Cor, que pode ter entre 40 e 70 horas — e os valores tanto vão dos 950€ aos 1.450€. “Cobrimos uma grande variedade de contextos profissionais, porque acreditamos que cada pessoa pode encontrar o seu lugar neste universo cromático.”

O workshop Alquimia da Cor explora, por exemplo, a relação entre psicologia da cor e emoções, ajudando cada pessoa a conhecer-se melhor através da sua própria paleta emocional.

A Escola da Cor tem ainda um propósito social: está a desenvolver atividades de bairro que promovem o convívio entre gerações, nomeadamente entre miúdos e idosos, através de oficinas de expressão plástica, inaugurações de exposições e pequenos eventos culturais.

“Queremos que este seja um ponto de encontro. As pessoas do bairro acolheram-nos muito bem, mesmo sem perceberem logo o que fazíamos”, diz Luísa. “Temos senhoras mais idosas que vêm aqui de propósito comprar o pão artesanal e ficar um bocadinho connosco.”

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