Mal acabaram de chegar a Lisboa, o casal francês percebeu que já não havia volta a dar: estavam irremediavelmente apaixonados pela arquitetura da capital. Enamorados pela cidade, Olivier Garcé e Clio Dimofski só precisaram de uma semana para encontrarem o novo lar. O apartamento do século XIX, elaborado num estilo pombalino, estava repleto de detalhes — como tetos ornamentados ou molduras antigas nas paredes — que permaneciam intocados há décadas.
Sabiam que teriam muito trabalho pela frente, mas não hesitaram. A arquitetura centenária do prédio no antigo bairro dos Anjos, em Lisboa, convenceu a dupla de designers francesa a aceitar a missão. A ideia era “restaurar ao máximo possível” o apartamento de 200 metros quadrados, respeitando a traça original e adaptando-o à estética de ambos.
O espaço foi o ponto de partida para a criação de um conceito híbrido, que é, em simultâneo, a casa e o estúdio do casal. “Queríamos que as pessoas viessem e não se sentissem numa galeria. Assim, têm a impressão de que estão num espaço privado, que podia ser deles, e sentir esse conforto”, começa por contar Olivier à NiT.
Antes de se mudarem para Lisboa, a dupla viveu quatro anos em Nova Iorque, nos EUA. Olivier e Clio conheceram-se em França, quando ainda estudavam arquitetura e, assim que concluíram os estudos, partiram para os Estados Unidos. Ainda regressaram a Paris, mas as oportunidades profissionais acabam por levá-los a outras paragens.
Em 2020 decidiram instalar-se na capital, devido à proximidade de Olivier com o nosso País, por motivos familiares. “A ideia era vir para Portugal devido à nossa inspiração no artesanato e na herança cultural do País”, acrescenta. “Seja nos interiores ou na arquitetura, queríamos ter uma colaboração direta com este trabalho manual e desenvolver algo que dignifique o nosso estúdio e ajude a cultura local.”
O designer tem ascendência paterna portuguesa. Passou várias temporadas no norte de Portugal, mais precisamente em Viseu, e foi aí que começou a apaixonar-se por tudo o que era criado na região. O maior equilíbrio entre a vida profissional e pessoal que encontraram em território nacional foi outro dos fatores que atraiu o casal, sublinha Olivier.
Combinar o antigo e o contemporâneo
O espaço que criaram é um reflexo harmonioso dessas duas facetas dos designers. Logo à entrada, encontra-se a sala de jantar e a uma área — a que apelidaram “Livraria” — que funciona como zona de estar. É ali que recebem os clientes que procuram os seus móveis personalizados e trabalhos de arquitetura, enquadrados num ambiente que reflete a estética que os distingue.
A parte de trás é reservada às divisões privadas da família. Destacam a suite master, a casa de banho do casal e ainda o quarto da filha, Zoë. A planta inclui ainda um terraço onde também podem conviver com os clientes num cenário mais descontraído.
O ponto de partida da renovação foi a abordagem às casas de banho, que estavam em pior estado. Queriam transformá-las em espaços contemporâneos e funcionais, então utilizaram muitos azulejos feitos à mão com o mármore típico de Lisboa. Depois, acrescentaram equipamentos mais modernos.
Por outro lado, não alteraram os tetos detalhados e também mantiveram o soalho com a madeira original, embora a tenham restaurado. As molduras nas paredes também foram renovadas, salvaguardando “o incrível valor artístico” de cada uma. “Um trabalho demorado, mas que valeu a pena”, realça.
As obras foram a parte mais complicada do processo. O projeto levou cerca de dois anos a estar concluído, prazo prolongado pela pandemia, mas também pela “falta de mão de obra de qualidade em Lisboa”, explica. “Não é tão verdade no norte, mas na capital ainda é um problema.”
Investiram aproximadamente 1500 euros por metro quadrado — o custo médio “para renovar um apartamento deste género”. Feitas as contas, os gastos traduziram-se em cerca de 300 mil euros para reabilitar o edifício.
Ainda assim, conseguiram poupar bastante nos objetos decorativos. Muitos deles, eram peças que já colecionam há muito tempo, desde propostas nórdicas a francesas, que vão do início do século XIX à atualidade. Depois, tentam misturar uns com os outros, aliando opções muitas vezes contrastantes.
Agora, estão também focados em colaborar com o máximo possível de artistas nacionais. Com o apoio destes criativos, conseguem trazer a tradição (e os materiais típicos do País) para o presente, ajustado-a sempre à sua estética.
A identidade do estúdio, explica Olivier, passa por “encontrar uma forma na simplicidade e no minimalismo sem desrespeitar o sítio. Trazemos simetria, claridade, volume e luz a cada espaço.”
Outros projetos atuais incluem o design do novo restaurante Barracuda, em Lisboa, assim como residências nos EUA e em Portugal. Estão a trabalhar, por exemplo, numa casa alentejana. Ainda assim, gostariam de ter mais projetos históricos como palácios. “Queremos trazer o nosso saber”, conclui.
A seguir, carregue na galeria para descobrir a casa e o estúdio de Olivier Garcé e Clio Dimofski, em Lisboa.