O último ano foi difícil para todos. Talvez ligeiramente mais difícil para alguns. Adriana Saraiva é um desses casos. Aos 25 anos, foi uma das vítimas de um despedimento coletivo por força da crise provocada pela pandemia. A sua situação era, no entanto, ainda mais delicada
A jovem das Caldas da Rainha sofre de duas doenças crónicas que a tornam mais vulnerável à Covid-19. Sem emprego e com uma ameaça mortal à solta, teve que se fechar em casa e, entre tardes aborrecidas, revisitou paixões antigas.
Apesar de trabalhar na área da hotelaria e restauração — formou-se em Gestão Hoteleira —, sempre desenhou e criou. Primeiro ao lado de uma das sete irmãs, com quem redesenhava bandas-desenhadas, desde sempre a sós com um papel e uma caneta.

Em junho, desde casa, lança o seu próprio negócio, a Sweet Home. É, no fundo, uma loja online especializada em duas artes: o macramé e o desenho. De um lado, os fios de algodão cuidadosamente entrelaçados que ajudam a tornar as casas mais acolhedoras; do outro, retratos estilizados de figuras que Adriana cria para enfeitarem paredes, estantes ou secretárias.
“No início não queria só macramé e retratos. Criava peças decorativas em madeira, até porque adoro decoração de interiores, mas percebi que era melhor focar-me num leque mais reduzido de produtos”, explica à NiT. A verdade é que trabalhar a madeira é um processo mais demorado.
Estabelecido o nicho de mercado, era tempo de produzir, criar e exibir. O site da loja online nasceu em junho. O início foi, como se previa, lento. Entre familiares, amigos e amigos de amigos, a palavra foi se espalhando.
Foi entre amigos e família que começou esta paixão, num encontro ao acaso com o macramé em que trabalhava a irmã. “Fui a casa dela e ela disse-me para experimentar. Gostei, achei que tinha jeito e comecei a criar peças”, recorda.

Hoje, a aposta de Adriana e da Sweet Home é feita em três categorias distintas. De um lado, os macramés decorativos, do outro os macramés funcionais — a arte é usada para criar fitas para óculos, bases de copos, sacos, porta-chuchas, almofadas ou porta-chaves — e por fim os retratos.
Quanto tempo demora a fazer um macramé? “Depende muito do tamanho, uns podem demorar três outras, outros um dia inteiro, se for personalizado. Fazer isto é também uma forma de relaxamento, descontrai-me bastante”, explica.
Adriana, que sublinha a vontade de satisfazer os pedidos mais exigentes dos clientes. Para criar estes macramés personalizados, o cliente só tem que mostrar algo igual ou então explicar que local ou em que divisão da sala o quer colocar — e, eventualmente, se prefere escolher outra cor para os fios de algodão. Ela faz o resto. “A visão é deles, eu crio.”

Lentamente, o negócio começa a estabilizar. Os best sellers? A fita para óculos (6,90€), o suporte de vasos Bosque — feito de algodão amarelo torrado, custa 19,99€ — e o porta-cartas (39,90€). Em dezembro fez mais de 80 vendas e no futuro, espera poder viver apenas deste hobby relaxante.
Apesar de importante, o negócio não é tudo. Surfista e apaixonada pelas praias, sempre que vai à caça de madeira para criar as peças, aproveita para levar um saco e um par de luvas para apanhar o lixo que vai encontrando — e que é muito. Também por isso quis dar uma ajuda ao criar a iniciativa #shpraialimpa que oferece um desconto de 10% a quem aderir e seguir o seu exemplo. “Só têm que partilhar uma foto nas redes sociais a apanhar lixo em qualquer praia”, desafia. É por uma boa causa.