Decoração

Maria e João vivem a vida em obras — e transformam patinhos feios em casas de sonho

O casal por detrás do Velhinho em Folha começou por renovar um loft. Ganhou-lhe o gosto e agora não quer outra coisa.
O projeto demorou dois anos a concluir

Durante dois anos, viveram no meio do pó, com o cheiro a tinta a percorrer os corredores da casa que prometeram recuperar ao seu gosto. Pelo meio, pausas para reuniões, recorrendo aos truques que aprendemos durante a pandemia: da cintura para cima, look profissional; da cintura para baixo, um par de calças de andar por casa. Neste caso, farda de obras.

João e Maria preferem não dar os seus apelidos, mas provavelmente conhece-os pelo nome da página de Instagram, onde há um par de anos relatam a aventura de recuperar e decorar o apartamento em Campo de Ourique: Velhinho em Folha. A aventura acabou e, cumprida a missão, fizeram as malas e deixaram o lar de dois anos, vendido no início de setembro para abrir caminho a novas aventuras, agora ainda mais a sério.

Para contar esta história é preciso recuar até 2019, altura em que João, hoje com 46 anos, decidiu comprar um armazém para transformar num loft habitável e que refletisse as suas preferências e estilo pessoal. Ao seu lado estava Maria, 41, que partilhava a paixão pelos looks retro e vintage.

“Tinha um gosto especial pela decoração e queria viver num sítio que tivesse mais a ver comigo. Entretanto, conheci a Maria e ela partilhava desse interesse. Tínhamos o mesmo estilo, a mesma maneira de pensar e acabámos a decorar em conjunto o espaço”, explica João. Nenhum tem formação na área. João é licenciado em gestão e trabalha como gestor de produto. Maria virou-se para a comunicação.

Terminada a etapa, decidiram capitalizar o esforço e valorização do espaço. O loft foi colocado à venda e, feitas as contas, foi vendido por mais do dobro do investimento, confessa João. A tendência natural de Maria para a comunicação levou a um último pedido: fotografar o espaço para a posteridade. De forma inesperada, viram-se capa da revista “Urbana”. “Isso validou o trabalho que tínhamos feito ali. Até então, tudo não passava de alguns elogios vindos de amigos, mas isso validou o nosso trabalho”, sublinha Maria.

O primeiro projeto foi este loft.

A venda por esses valores revelou-se “um choque” para o casal que começou imediatamente à procura de um novo lar — e mais uma carga de trabalhos. “E antes de encontrarmos um sítio novo, pensámos que tinha sido giro termos feito uma reportagem do início ao fim no loft; e que seria exatamente isso que faríamos na próxima.” Nasceu assim a Velhinho em Folha.

E o grande protagonista da página de Instagram é um apartamento em Campo de Ourique pelo qual se apaixonaram imediatamente. “Não queríamos um apartamento moderno. Queríamos algo num prédio antigo e charmoso”, refere Maria sobre o edifício de 1920 onde descobriram a sua nova casa.

“Tinha que refletir o nosso gosto pessoal. Tinha tábuas corridas, por exemplo, que nós adoramos. Gostamos de coisas antigas, clássicas, de pegar nelas e torná-las bonitas, funcionais e agradáveis”, dizem. A procura por um “patinho feio” acabou por recair nesta casa com algumas obras feitas — mas o que os convenceu foi o facto de o que já estava feito, combinava com o gosto de ambos.

Sem medo de renovações a fundo, vestiram a farda e aproveitaram o trabalho remoto pós-pandemia para se lançarem na obra que durou dois anos. “Tentámos adicionar pormenores ou puxar pelos detalhes que já existiam. Ir ao lado original da casa”, recorda João. A atenção ao detalhe é total, desde a busca exaustiva pelos batentes certos, ao cuidado de os restaurar e banhar, passando pela troca para fechaduras menos modernas.

No corredor, desdobraram-se em pequenas tarefas aparentemente insignificantes, mas que fazem toda a diferença numa visão de antes e depois. Compraram 200 metros de ripas de madeira para criarem os lambris. E a tinta, dizem, foi outra epopeia. “Vimos centenas e não gostámos de nenhuma. Acabámos a fazer a nossa própria mistura. O senhor da loja já devia pensar: ‘lá vêm estes malucos’. [risos].” E assim viveram, durante dois anos, “entre o pó e as caixas”.

Se João assumia sobretudo as tarefas de bricolage e a complicada parte elétrica — “nada que uns tutoriais no YouTube não resolvessem”, confessa —, Maria e a sua “capacidade de visualizar o espaço” fez com que agarrasse sobretudo o momento decorativo. O resultado? Uma casa de traça antiga, recheada de pormenores e abrilhantada com uma decoração retro, mas com estética contemporânea.

Terminada a obra, havia uma decisão a tomar. Vender ou não vender? O fim estava estabelecido desde o início e, novamente, o objetivo passava por capitalizar o trabalho e saltar para outra fase da vida. Pelo caminho, dizer adeus a um lar. Não foi tarefa fácil.

“É difícil. Por um lado, sabemos que vamos encontrar outra casa para voltarmos a fazer tudo outra vez. Por outro, há tristeza porque investimos ali sangue, suor e lágrimas. Deixamos ali um bocadinho de nós. Mas tem que haver algum desprendimento”, confessa Maria. “Já eu sou o rei do desprendimento”, retorque João.

Enquanto fazem o luto, trabalham já na próxima etapa: os Velhinho em Folha vão deixar de trabalhar apenas nos seus projetos próprios. “Nas nossas cabeças existe essa intenção de podermos fazer projetos para outras pessoas”, explicam a decisão, sustentada na “validação” que têm sentido relativamente ao seu trabalho nas duas casas. “Percebemos que este estilo de decoração que fazemos não é aprazível só para nós. E talvez faça sentido levar um bocadinho do nosso gosto a outros espaços.”

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