“Um feliz acaso.” Para Marta Barros, de 36 anos, não há outra forma de definir a sua relação com o macramé, uma técnica de artesanato milenar que tem renascido nos últimos anos. O aumento da popularidade, sobretudo durante a pandemia, encheu as casas dos portugueses de painéis e outros objetos, feitos com o uso de nós, associados a ambientes mais tranquilos.
Contudo, não foi durante o confinamento que a artista portuguesa se envolveu com as artes de lavores. “Quando comecei, havia uma ou duas pessoas a fazer e podia não ser o melhor negócio”, conta à NiT. Desde então, tem vindo a aperfeiçoar a técnica e quando as redes sociais foram invadidas por workshops para iniciantes, já a criadora tinha refinado as suas competências.
O motivo do sucesso da fundadora do atelier TexMB, em 2016, é precisamente o seu estilo próprio. Desde o início, o seu objetivo não passou por reproduzir o que já foi feito, mas conseguir adicionar originalidade e um toque moderno para uma arte que existe há tanto tempo: “As pessoas percebem quando uma peça é minha”.
Enquanto muitos artistas trabalham o macramé com cores, Marta prefere opções mais neutras. Identifica-se com tonalidades tons de terra e uma paleta mais clara, porque considera a técnica branca por excelência. É uma forma de trazer alguma leveza ao ambiente envolvente, seja uma sala de estar ou a cozinha.
Uma vantagem de ter uma peça tão neutra é que não colide com nenhum objeto decorativo. Se possuir uma jarra vermelha e alterar, por exemplo, para um produto verde, não vai entrar em colisão. E, para muita gente, remete para paisagens idílicas, como praias ou cabanas na natureza.
Além disso, criou uma corda com uma certa espessura e composição, que se tornou uma imagem de marca. “Mais tarde, adicionei a ráfia que surgiu na minha visita a Bali. Tento fazer uma viagem grande por ano para recolher inspiração. Recentemente, fui à Bolívia e vou usar essa experiência naquilo que faço.”

A transição na carreira
Após vários anos a trabalhar como produtora de televisão, em 2016, decidiu que queria abandonar a profissão. Aos 30 anos, com tempo livre para fazer outras coisas que gostava, começou a olhar para a decoração de interiores, visto que sempre comprou revistas sobre o tópico e estava atenta às tendências.
“Num jantar, uma amiga disse para eu pesquisar sobre macramé, que já estava a começar a voltar e parecia ser o meu género. Nem conhecia”, explica. Quando foi ver, identificou-se e decidiu fazer uma aula de três horas, para iniciantes, e sentiu logo facilidade em fazer os nós e “muita sintonia com as cordas”. Decidiu comprar a sua própria corda e nunca mais parou.
A primeira peça que aprendeu a fazer foi um porta-vasos, que ainda mantém. Guarda várias peças especiais, que se recusa a vender, como várias setas que desenvolveu em 2019, após ter feito a sua primeira viagem sozinha, para a Austrália. “São inspiradas na necessidade de tomar decisões” e foram uma forma de fugir do formato habitual, como a tapeçaria e os vasos.
O primeiro artigo, que criou no workshop, foi incluído na primeira coleção lançada em abril de 2016. Depois de ter vendido tudo em tempo de recorde, estruturou o negócio em novembro do mesmo ano. No entanto, foi a partir de 2020 que começou a ter um maior crescimento, potenciado pelas redes sociais.
“Fazia uma publicação e o alcance imediato era impressionante. A marca cresceu bastante e o período coincidiu com o lançamento de um novo site, que agregava todos os meus projetos”, recorda a artesã. “Muita gente começou a fazer como um hobby, porque tem um efeito terapêutico. Pode-se fazer no silêncio, a ouvir música ou um podcast. Mas, depois, voltaram todos às suas vidas.”
Os trabalhos mais memoráveis
Marta é ambiciosa e não se limita à decoração de interiores. Em janeiro, a artista comemora um ano desde que fez o seu trabalho mais emblemático, o primeiro corrimão em macramé desenvolvido em Portugal. A peça conta com 10 metros de extensão em torno de uma estrutura de ferro e demorou cerca de duas semanas. Neste momento, está visível na Estação do Rossio, num espaço de cowork chamado Heden.

Ainda assim, a peça que mais a orgulha não é a mais megalómana. “Fiz uma onda, num rasgo de inspiração que tive, e que tem uma forte simbologia familiar”, diz. “Cresci com o meu irmão na praia, porque o meu pai dava aulas de windsurf e ficávamos na praia até à noite. Somos muito ligados à água salgada”.
Numa altura em que estava com dificuldade a concentrar-se, começou a desenvolver uma composição mais simples. O painel inclui apenas o contorno da onda, “mas é bastante desafiante, porque como é só com uma corda foi preciso desfazer”. Quando a terminou, o pai viu a peça e decidiu que não a ia vender — foi colocada em destaque no meio da sala.
Quanto ao tempo que demora cada produção, depende de vários fatores. Quando reproduz decorações mais pequenas, devido à prática, não precisa de mais do que 45 minutos. Em peças grandes, nunca demorou mais do que dois meses. Porém, nunca trabalha oito horas por dia e faz tudo sem esboço.
“Não faço desenhos, porque não sei desenhar e o que se faz no papel nem sempre se traduz na realidade. É quando estou com as cordas na mão que as ideias começam a sair”, explica. Os clientes acompanham os avanços através de imagens e o feedback é sempre positivo: “Nunca houve uma pessoa a dizer que não gostava”.
Ainda assim, reconhece que é uma grande responsabilidade quando alguém adquire um produto, visto que nunca compra um produto já feito. No entanto, quando a pessoa vê o trabalho, há sempre uma sensação de dever cumprido: “A nossa casa é um lugar muito íntimo e só trazemos para dentro o que faz sentido ali, melhora o ambiente e traz calma”.
Se quiser descobrir mais sobre o trabalho de Marta Barros, pode visitar a sua página de Instagram ou o site da TexMB. Quanto às peças disponíveis, os preços variam entre os 35€ e os 1300€ — mas é possível encomendar criações à medida, de maiores dimensões, com um orçamento maior. Carregue na galeria para descobrir um pouco mais sobre as peças criadas pela artesã.