Decoração

A moradia serena e luminosa no México que se inspirou num famoso museu português

Tudo começou com uma viagem do arquiteto a Cascais, onde se inspirou num projeto de Eduardo Souto Moura.
Destaca-se a madeira.

Quando em 2021, o arquiteto Rogelio Vallejo Bores visitou a Casa das Histórias Paula Rego em Cascais, não imaginava o impacto que teria no seu trabalho. Mais do que as obras, recorda-se da serenidade que sentiu sob uma das pirâmides, onde a luz filtrava através de uma claraboia alta. Soube logo que queria transportar esta calma para um projeto.

“Estava curioso para visitar o espaço há muitos anos. Quando, finalmente, lá cheguei, a qualidade da luz, com uma textura quase aveludada, surpreendeu-me profundamente”, confessa à NiT sobre o museu projetado por Eduardo Souto de Moura. “Era como se a própria luz nos abraçasse e protegesse.”

Após a viagem, decidiu passar esta experiência cinemática para o interior da Casa Emma, uma moradia moderna na cidade de Morelia, capital do Estado de Michoacán, no México. Concluída em 2024, a obra do atelier HW Studio junta um design contemporâneo à tradição local.

O pedido da cliente era simples: uma pequena casa com um programa muito básico com espaços sociais e um quarto individual. A intenção era criar “um retiro” para escapadinhas de fim de semana e, depois, regressar ao que sempre foi o seu lar desde infância. “Permitiu-nos explorar a forma de criar um espaço íntimo e acolhedor”, acrescenta.

A inspiração no museu torna-se clara através da claraboia alta, mais precisamente pela forma como é feita para concentrar e dispersar a luz pelo espaço. O cone que canaliza esta luz é uma reinterpretação do que viu em Cascais e traduz-se “num jogo de luz que não só ilumina as áreas, como cria uma atmosfera envolvente e cheia de calma”, continua.

Casa Emma
Os materiais foram pensados ao pormenor.

A moradia, porém, diverge do conceito do museu ao explorar a noção de escavação. O arquiteto criou um buraco no formato de um Troje, também conhecido como celeiro Purépecha, uma estrutura tradicional mexicana com a qual Emma — a proprietária que dá nome à casa — tinha uma forte conexão pessoal.

Por esse motivo, todo o interior é composto por madeira para prestar homenagem às construções dos povos indígenas da região, no início dos anos 1900. “Esculpimos um interior de madeira que ecoa essa forma cultural.”

O acabamento da casa mistura de estuque e chukum, uma resina extraída de uma árvore que os Maias utilizavam no sul do México, para impermeabilizar as suas casas e cisternas. A matéria-prima foi utilizada ainda nas lajes inclinadas e nas fachadas, destacando a coesão do projeto.

Num terreno tão pequeno, com apenas 40 metros quadrados, havia ainda o desafio de criar uma disposição prática e eficiente. “Privilegiámos a utilização de plantas abertas para minimizar o desperdício de espaço na circulação e otimizar cada metro quadrado disponível”, revela.

O programa está distribuído de forma linear. Um corredor de entrada traz os visitantes para dentro, onde o layout se desdobra para revelar um espaço central em open space, onde surge a sala de estar, seguida da sala de jantar e da cozinha.

Nas traseiras foram colocadas as zonas técnicas e as escadas, que conduzem ao piso superior, onde está uma casa de banho completa e o quarto. Este último espaço foi concebido como um volume branco “que flutua no interior da casa, quase como uma bola de como uma bola de algodão suspensa no ar.”

“A decisão visa não só otimizar a área, mas criar um contraste visual e emocional que reforça a sensação de calma que define a Casa Emma”, sublinha Rogelio. Embora pouco presentes, estes momentos brancos “quase etéreos” permitem que a luz desça do céu e esbata sob as arestas do espaço.

É nas formas e soluções simples, através do programa ou das matérias-primas, que encontramos o ADN do HW Studio, que mantém o fator surpresa através da forma cónica que surge, inesperadamente, no interior. Um pormenor despretensioso, mas que dá resposta às necessidades específicas do projeto.

“Não escolhemos os materiais por razões estéticas ou de gosto pessoal, mas porque passam os sentimentos e ideias que queremos transmitir”, conclui. Através da combinação entre a madeira e o chukum, por exemplo, reforçou-se a ligação emocional e cultural da proprietária ao projeto.

Carregue na galeria para ver mais imagens do espaço do fotógrafo Cesar Bejar.

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