Quando, no início dos anos 2000, um incêndio deflagrou no centro de Viseu, atingindo um edifício já vazio e devoluto, as chamas destruíram quase todo o seu interior. Apesar dos danos, o filho do dono do prédio, que estava na família desde a década de 30, viu na tragédia um incentivo para avançar com a reabilitação que há muito pretendia.
Este processo deu origem a 10 apartamentos renovados na Rua da Vitória, perto da Câmara Municipal da cidade, com móveis desenhados à medida. Versáteis e otimizadas, cada uma destas casas equilibra o charme histórico da construção com uma estética moderna e funcional.
“Uma vez que estava na família há muitos anos, o proprietário tinha uma enorme vontade de manter a pré-existência e valorizar a identidade daquilo que já tinha sido um edifício residencial”, explica à NiT a arquiteta Adriana Floret, que foi contactada pelo cliente após ter visto o seu trabalho nas redes sociais.
Outro dos objetivos era que “existisse retorno financeiro”, sendo que as casas foram pensadas para arrendamento. Ao todo, é composto por 10 apartamentos sendo que o destaque vai para o T3 que fica no primeiro andar e que é habitado pelo pai do atual proprietário do prédio.
Os Apartamentos Vitória são ainda compostos por um T1 e oito T0, totalizando dez frações e um espaço comercial, que fica no piso do rés-do-chão. “Tentámos aproveitar a localização central e a passagem que tinha para a cidade”, acrescenta a fundadora do gabinete de arquitetura Floret.
Enquanto no exterior se manteve a essência histórica, reabilitando todos os azulejos e elementos decorativos, as caixilharias e os elementos em granito, na parte de dentro “não foi possível manter quase nada”, revela. “Foi completamente redesenhado para responder às exigências da vida contemporânea.”

Na tentativa de aliar conforto, funcionalidade e rentabilidade, o atelier optou pela madeira como material predominante em todas as divisões. Tratam-se de apartamentos pequenos, mas foram otimizados através de “muita arrumação, espaços necessários e matérias-primas duradouras”, já que têm em vista o mercado de arrendamento.
Durante a intervenção, manteve-se a implantação do edifício, mas ampliou-se a zona nos pisos superiores. A cobertura também foi redesenhada, optando-se por um design mais contemporâneo, com revestimento a zinco, e aproveitou-se o sótão para dar mais espaço aos apartamentos, através da criação de mezaninos.
“O programa foi pensado para ser muito residencial. Existe uma fração de maior dimensão, mas as restantes são todas muito pequenas, vocacionadas para pessoas que estejam na cidade de forma transitória, como professores, médicos ou, eventualmente, estudantes”, explica Adriana.
O levantamento para esta reabilitação começou em junho de 2016, mas o processo foi demorado devido a vários atrasos, o que fez com que a obra ficasse concluída apenas em maio de 2024. Feitas as contas, o investimento chegou aos 800 mil euros.
“Partimos sempre do que existe para chegar ao projeto, nunca é ao contrário”, conclui a arquiteta, que destaca que, por se tratar de um edifício de 1930, “traz necessidades muito distintas”. “Estudámos a história do edifício, tentámos perceber o que foi e que valor lhe conseguimos acrescentar.”
Carregue na galeria para ver mais imagens dos detalhes dos Apartamentos Vitória. As fotografias são do arquiteto Ivo Tavares.